Jornal Correio Braziliense

Economia

Para não depender do funcionalismo, DF precisa encontrar rumos na economia

Dependência do funcionalismo foi positiva na crise, mas agora, com a expectativa de ajuste fiscal, a capital federal deve encontrar novas opções para crescer de forma robusta

A economia brasileira se recupera gradualmente, mas o Distrito Federal cresce menos que o Produto Interno Bruto (PIB) nacional. De acordo com dados da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan-DF), no terceiro trimestre de 2018, enquanto o PIB do país avançou 1,3%, o do DF teve expansão de 0,9%. Esse desempenho abaixo da média, segundo especialistas, é resultado da forte dependência do funcionalismo público na atividade econômica do quadradinho. Esse peso não permite um desempenho maior do PIB regional em comparação ao nacional, porque não há diversificação produtiva.

Daqui para frente, com a perspectiva de ajuste fiscal mais duro e de redução do tamanho do Estado, o DF precisará diversificar, para não virar um Rio de Janeiro, que, até hoje, é refém do fato de ter sido capital do país e está quebrado, em grande parte, por conta do desequilíbrio das contas públicas e da enorme fatura previdenciária.

O fato de o funcionalismo ter um peso forte na economia do DF tem ônus e bônus. Na recessão de 2015 e 2016, por exemplo, a economia regional não sentiu tanto o aumento do desemprego, porque mais de um terço dos habitantes da capital federal trabalham no setor público e são responsáveis pela maior renda per capita do país, de R$ 79,1 mil, quase três vezes a média nacional.

Mas, agora que a economia dá sinais de recuperação, o setor público está inchado e não consegue acompanhar os demais segmentos da atividade econômica. A indústria e a agricultura, que possuem potencial maior de crescimento quando a atividade reaquece, representam apenas 5,1% do PIB regional. A maior parte da economia do DF, 94,9%, equivale ao setor de serviços, do qual 44,6% estão relacionados ao funcionalismo, conforme dados da Codeplan. Vale lembrar que o PIB per capita do DF teve desempenho negativo, como mostra o quadro acima.

;A administração pública tem um peso grande na economia do DF e, por isso, a crise não foi tão forte. Mas quando o país cresce, não há como ter uma retomada no mesmo ritmo, porque o peso dos demais segmentos é muito pequeno;, explica o diretor de Pesquisas Socioeconômicas da Codeplan, Bruno de Oliveira Cruz.

Escolaridade

O diretor reconhece ainda que há distorções na contabilização desse PIB per capita elevado, que inclui, por exemplo, operações do Banco Central que equivalem a uma refinaria de petróleo, mas não reflete, de fato, um desenvolvimento elevado na capital. ;Isso gera distorção, mas também tem um peso grande a renda elevada e o alto nível de escolaridade, diferenciais regionais que poderiam ser melhor aproveitados;, destaca.

A expectativa dos analistas é de q0ue o descompasso da economia de Brasília com o resto do país continue por mais tempo. Pelas projeções da Tendências Consultoria, apenas seis entes federativos devem voltar ao padrão pré-crise de 2014 enquanto o DF fica no zero a zero neste ano (veja quadro).

Segundo o economista Adriano Pitoli, diretor da área de Análise Setorial e Inteligência de Mercado da Tendências, a expansão do PIB do DF deve ficar em 0,7% no acumulado de 2018, enquanto o do país terá alta de 1,2%. Para 2019, ele prevê que o DF crescerá 1,2%, pouco mais que a metade da alta estimada para o PIB nacional, de 2%.

;O DF descolou do resto do país no meio da recessão, porque o setor público não cortou pessoal como o privado. E, como esse pessoal não teve redução de salários, a unidade federativa sentiu pouco o impacto dessa crise. Mas agora, com as contas públicas da União e do DF em dificuldades, e a sinalização do novo governo de privatizar a maioria das empresas públicas federais e reduzir o tamanho do Estado, o cenário vai mudar;, alerta Pitoli. ;A farra vai acabar. Não há mais margem para contratar servidor, muito menos conceder aumentos generosos como nos últimos anos;, completa.

O novo secretário de Desenvolvimento Econômico do GDF, Ruy Coutinho, está traçando uma estratégia para que a economia regional seja mais diversificada. ;Iniciamos um trabalho intenso em diversas linhas. Nossa missão é identificar vocações alternativas para o Distrito Federal, porque as funções burocráticas do governo tendem a cair e haverá perda de relevância do setor público na geração de emprego nos próximos anos;, ressalta.

;Precisamos desenvolver o DF como um centro de distribuição logística, aproveitando a posição estratégica da cidade no país, alavancar o turismo e outras atividades, como tecnologia da informação, aproveitando o elevado nível de capacitação da população;, explica Coutinho. Ele diz ainda que é preciso melhorar o ambiente de negócios e reduzir assimetrias tributárias.