Daqui para frente, com a perspectiva de ajuste fiscal mais duro e de redução do tamanho do Estado, o DF precisará diversificar, para não virar um Rio de Janeiro, que, até hoje, é refém do fato de ter sido capital do país e está quebrado, em grande parte, por conta do desequilíbrio das contas públicas e da enorme fatura previdenciária.
O fato de o funcionalismo ter um peso forte na economia do DF tem ônus e bônus. Na recessão de 2015 e 2016, por exemplo, a economia regional não sentiu tanto o aumento do desemprego, porque mais de um terço dos habitantes da capital federal trabalham no setor público e são responsáveis pela maior renda per capita do país, de R$ 79,1 mil, quase três vezes a média nacional.
Mas, agora que a economia dá sinais de recuperação, o setor público está inchado e não consegue acompanhar os demais segmentos da atividade econômica. A indústria e a agricultura, que possuem potencial maior de crescimento quando a atividade reaquece, representam apenas 5,1% do PIB regional. A maior parte da economia do DF, 94,9%, equivale ao setor de serviços, do qual 44,6% estão relacionados ao funcionalismo, conforme dados da Codeplan. Vale lembrar que o PIB per capita do DF teve desempenho negativo, como mostra o quadro acima.
;A administração pública tem um peso grande na economia do DF e, por isso, a crise não foi tão forte. Mas quando o país cresce, não há como ter uma retomada no mesmo ritmo, porque o peso dos demais segmentos é muito pequeno;, explica o diretor de Pesquisas Socioeconômicas da Codeplan, Bruno de Oliveira Cruz.
Escolaridade
O diretor reconhece ainda que há distorções na contabilização desse PIB per capita elevado, que inclui, por exemplo, operações do Banco Central que equivalem a uma refinaria de petróleo, mas não reflete, de fato, um desenvolvimento elevado na capital. ;Isso gera distorção, mas também tem um peso grande a renda elevada e o alto nível de escolaridade, diferenciais regionais que poderiam ser melhor aproveitados;, destaca.
A expectativa dos analistas é de q0ue o descompasso da economia de Brasília com o resto do país continue por mais tempo. Pelas projeções da Tendências Consultoria, apenas seis entes federativos devem voltar ao padrão pré-crise de 2014 enquanto o DF fica no zero a zero neste ano (veja quadro).
Segundo o economista Adriano Pitoli, diretor da área de Análise Setorial e Inteligência de Mercado da Tendências, a expansão do PIB do DF deve ficar em 0,7% no acumulado de 2018, enquanto o do país terá alta de 1,2%. Para 2019, ele prevê que o DF crescerá 1,2%, pouco mais que a metade da alta estimada para o PIB nacional, de 2%.
;O DF descolou do resto do país no meio da recessão, porque o setor público não cortou pessoal como o privado. E, como esse pessoal não teve redução de salários, a unidade federativa sentiu pouco o impacto dessa crise. Mas agora, com as contas públicas da União e do DF em dificuldades, e a sinalização do novo governo de privatizar a maioria das empresas públicas federais e reduzir o tamanho do Estado, o cenário vai mudar;, alerta Pitoli. ;A farra vai acabar. Não há mais margem para contratar servidor, muito menos conceder aumentos generosos como nos últimos anos;, completa.
O novo secretário de Desenvolvimento Econômico do GDF, Ruy Coutinho, está traçando uma estratégia para que a economia regional seja mais diversificada. ;Iniciamos um trabalho intenso em diversas linhas. Nossa missão é identificar vocações alternativas para o Distrito Federal, porque as funções burocráticas do governo tendem a cair e haverá perda de relevância do setor público na geração de emprego nos próximos anos;, ressalta.
;Precisamos desenvolver o DF como um centro de distribuição logística, aproveitando a posição estratégica da cidade no país, alavancar o turismo e outras atividades, como tecnologia da informação, aproveitando o elevado nível de capacitação da população;, explica Coutinho. Ele diz ainda que é preciso melhorar o ambiente de negócios e reduzir assimetrias tributárias.