Se o ano passado surpreendeu pela frustração na atividade econômica, o governo federal pretende contrariar as expectativas atuais do mercado e ter um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima do esperado em 2019. A equipe econômica está empenhada em dar condições para o Brasil avançar mais de 3% neste ano, acima da previsão de analistas ouvidos pelo Banco Central (BC) para o relatório Focus, de 2,57%. A autoridade monetária mostrou que o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) cresceu 0,29% em novembro, frente a outubro, o que representa uma recuperação ainda lenta.
No início de 2018, os economistas esperavam um PIB de 3% no fim do ano, mas os resultados desapontaram. Ao que tudo indica, o crescimento oficial da economia brasileira para o ano passado deverá ficar entre 1,3% e 1,4%. De acordo com o IBC-Br, a taxa de crescimento foi de 1,38% no acumulado de janeiro a novembro. Em 12 meses, atingiu 1,44%.
A equipe econômica aposta na reforma da Previdência, que será apresentada pelo governo após a volta do presidente Jair Bolsonaro do Fórum Econômico Mundial, que ocorrerá entre os dias 22 a 25, em Davos, na Suíça. A intenção do ministro da Economia, Paulo Guedes, é levar um texto para o Congresso Nacional que agrade os investidores. Além disso, trabalham com a aprovação da proposta ainda no primeiro semestre.
O mercado está confiante de que a reforma elaborada por Guedes será dura o suficiente para conter a escalada do deficit público. Os donos do dinheiro também acreditam que o ministro conseguirá convencer Bolsonaro a incluir os militares nas mudanças do sistema de aposentadorias e pensões. Economistas e parte da equipe econômica avaliam que, caso haja frustrações em relação à reforma, o PIB do país ficará abaixo de 2% ou até 1% em 2019.
José Márcio Camargo, economista da Genial Investimentos, é um dos analistas que acreditam que o PIB poderá surpreender positivamente em 2019. ;As pessoas estão mais otimistas em relação à economia, porque há um cenário de inflação baixa e crescimento de demanda com a retomada do mercado de trabalho, mesmo que lenta;, disse. ;Eu acredito que poderemos ter avanço de 3,5% na atividade econômica de 2019. Isso, claro, se aprovar as reformas. Ela é fundamental para aumentar a credibilidade e confiança do Brasil entre os investidores. Será um incentivo para aumento de demanda;, completou.
Camargo é próximo da Guedes e participou de reuniões com a equipe econômica no governo de transição. Ele alerta que a não aprovação da reforma previdenciária terá o efeito contrário na economia. Poderá frustrar as projeções dos analistas pelo segundo ano consecutivo.
Ceticismo
Outros economistas acreditam que, para crescer mais de 3% neste ano, seria preciso incremento grande no crédito, aumento significativo na renda das famílias e melhora nas condições financeiras. Os analistas não estão otimistas com o resultado de dezembro de 2018, que ainda não saíram e darão a dimensão de como a economia brasileira começará 2019.O economista Silvio Campos Neto, analista da Tendências Consultoria, afirmou que é difícil o país ter voos mais altos do que o esperado atualmente pelo mercado. Na interpretação dele, o setor público vai puxar o resultado do PIB para baixo, já que há um cenário maior de deterioração do orçamento. ;Temos um setor público que precisa enxugar. A demanda do governo vai contribuir negativamente nos resultados, o que prejudica um pouco essa tentativa de crescer mais;, disse.
Neto afirmou, porém, que a economia está remando. ;O consumo voltou a crescer e vai ser um importante fator em 2019. Deve ter alta de 2,6%, segundo nossas estimativas. A melhora do crédito e a recomposição gradual de renda em função de um mercado de trabalho em recuperação vai ser fundamental para o avanço de 2% neste ano;, argumentou.