A onda de bom humor que favoreceu os ativos na quarta-feira continuou a afetar o comportamento do dólar frente ao real nesta quinta-feira (3/1). A moeda americana rompeu o patamar dos R$ 3,80 e fechou o dia cotada a R$ 3,7579, em queda de 1,23%. Além dos fatores domésticos - com expectativas positivas em relação a possíveis medidas econômicas do governo de Jair Bolsonaro -, a queda da divisa ante o real teve impulso na perda global de força do dólar. O segundo dia consecutivo de alta no petróleo também colaborou para fortalecer as moedas de países exportadores da commodity.
O mercado ajusta ainda posições após a forte alta da divisa americana frente ao real em dezembro, impulsionada pela saída sazonal, mas significativa, de remessas ao exterior, o que aumenta a procura por dólares no país. "Em dezembro, o dólar foi sustentado por uma forte saída de remessas. O mercado não ia conseguir sustentar o mesmo cupom, mas talvez esse ajuste esteja acontecendo mais rapidamente em função do ambiente político", aponta o operador da corretora Necton, José Carlos Amado.
Operadores ouvidos pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, apontam que o fator de maior peso no mercado continua sendo o noticiário doméstico. Os investidores respondem positivamente aos primeiros dias do governo Bolsonaro e ao aumento do apoio da candidatura do deputado Rodrigo Maia (DEM/RJ) para a presidência da Câmara dos Deputados. A avaliação é que Maia é alinhado com a pauta fiscal, sobretudo em relação à agilização da reforma da Previdência.
O mercado também responde ainda aos eventos de quarta, sobretudo o discurso liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes, o apoio do PSL à candidatura de Maia e a sinalização de que a privatização da Eletrobras será continuada pelo novo governo. "O noticiário de ontem (quarta) reanimou o mercado, o que levou ao rompimento de um ponto técnico importante, dos R$ 3,80", afirma o diretor da Wagner Investimentos, José Faria Junior.
Para ele, o rompimento do patamar dos R$ 3,80 abre espaço para uma queda maior. "Abriu-se uma tendência, de forma que não é difícil o dólar cair mais R$ 0,05 a R$ 0,10. Mas acho difícil romper o patamar dos R$ 3,65, seria necessário um pouco mais de fluxo para isso", diz.
A queda do dólar frente ao real nesta quinta foi impulsionada ainda por uma perda de fôlego da moeda americana globalmente. Dados piores que o esperado do índice de atividade industrial dos Estados Unidos (ISM, na sigla em inglês) reforçam a perspectiva de desaceleração global e colocam mais incertezas em relação à economia americana e o consequente impacto na política monetária daquele país.
Com isso, o dólar medido pelo índice DXY, frente a uma cesta de moedas fortes, caía 0,55% no meio da tarde. E tinha queda significativa também frente a emergentes, sobretudo as divisas ligadas à exportação de petróleo. O preço futuro do barril da commodity negociado na Nymex tinha alta de 1,68% no fim da tarde.