Ditado por um otimismo doméstico, o dólar operou na maior parte desta quarta-feira, 2, descolado dos pares emergentes e fechou cotado a R$ 3,8046, em queda de 1,83%, no menor patamar desde 21 de novembro. Se o real já era beneficiado, de manhã, pelo bom humor do mercado no primeiro dia de trabalho do presidente Jair Bolsonaro, o movimento foi acentuado após o PSL fechar apoio a Rodrigo Maia para a presidência da Câmara dos Deputados.
Na visão dos investidores, o alinhamento à candidatura de Maia aumentaria as chances de uma aprovação das pautas fiscalistas do governo, com destaque para a reforma da Previdência. O atual presidente da Câmara tem demonstrado apoio a essa pauta e tenta a reeleição. "O dólar já operava descolado e aumentou esse comportamento após a notícia de que o PSL apoiaria Maia", aponta o operador de câmbio da Fair Corretora, Hideaki Iha.
Lá fora, o dólar operou valorizado ante a maior parte dos emergentes, com exceção do peso mexicano e do rublo russo. Ajuda os países exportadores de commodities a alta acima de 2% do preço futuro do barril de petróleo. O maior impulsionador do real, no entanto, é o bom humor interno em relação às expectativas para a economia com o governo Bolsonaro. "Existe uma renovação de expectativas, um otimismo maior sobretudo em relação à possibilidade de avanço na reforma da Previdência", aponta o economista-chefe da Guide Investimentos, Victor Candido.
Na parte da tarde, as atenções foram voltadas para o discurso de posse do novo ministro da Economia, Paulo Guedes. Os 50 minutos de fala do ministro, no entanto, não mexeram com a cotação da divisa. Guedes afirmou que pretende fazer uma série de reformas fiscais, com destaque para a Previdência. Segundo ele, as reformas estruturantes serão enviadas após a posse do Congresso, em 1º de fevereiro, mas afirmou que enviará medidas infraconstitucionais nos primeiros 30 dias de governo. "Acho que vamos na direção da liberal democracia, vamos abrir a economia, simplificar impostos, privatizar, descentralizar recursos para Estados e municípios", indicou.
A despeito do otimismo interno com o governo Bolsonaro, Iha, da Fair Corretora, avalia que o fluxo estrangeiro só voltará a ingressar com mais força no Brasil quando as medidas forem efetivamente enviadas e votadas pelo Congresso Nacional. "Precisa haver ações reais para o estrangeiro voltar a entrar, principalmente em relação à Previdência", aponta.