O tom de cautela prevaleceu no mercado local de câmbio na volta do feriado de Natal. Nem a injeção de US$ 2 bilhões pelo Banco Central impediu nova alta do dólar, com o real se destacando como uma das moedas com pior desempenho contra a divisa dos Estados Unidos nesta quarta-feira (26/12). Na máxima do dia, a moeda americana chegou a bater em R$ 3,94, amparada por preocupações dos investidores com a piora da relação entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e sua equipe econômica.
Fatores técnicos também contribuíram para influenciar a moeda, com os investidores dando início a disputa pela formação da taxa Ptax de dezembro, com a definição antecipada este mês para a próxima sexta-feira, 28, por conta dos feriados de final de ano. O dólar à vista encerrou o dia em alta de 0,95%, a R$ 3,9226, o maior valor em um mês.
O dia no câmbio foi de baixo volume de negócios no mercado futuro, como é comum na semana entre o Natal e o Ano Novo, mas persistem sinais de que a pressão por compra de dólar à vista segue alta, ressalta o operador da CM Capital, Thiago Silêncio.
Um deles é que o dólar spot foi negociado nesta quarta em diversos momentos acima da cotação do dólar futuro, mostrando demanda alta pela moeda americana. Além disso, os próprios dados do Banco Central, divulgados nesta quarta-feira, mostram saída firme de recursos pelo canal financeiro este mês. Até o dia 21, as retiradas somaram US$ 10,5 bilhões. Apenas na semana passada, saíram US$ 5,2 bilhões por este canal.
Além da maior demanda por dólar por fatores como necessidade de remessa de recursos para o exterior, o clima de cautela no câmbio ocorre após um final de semana prolongado marcado por repetidas críticas de Trump aos rumos da política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e seu presidente, Jerome Powell.
Agora, segundo reportagem da CNN, o presidente estaria insatisfeito também com o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, após ele publicar nas redes sociais sobre uma reunião que teve com os presidentes dos seis maiores bancos dos EUA. Este evento ajudou a causar um dos piores pregões dos últimos anos em Wall Street, na segunda-feira (24/12) e desagradou Trump.
O fechamento parcial do governo dos EUA e a expectativa de que não acabe nos próximos dias também contribuiu para pressionar o dólar lá fora e também aqui, ressalta o diretor de um banco de investimento.
Apesar da maior pressão no câmbio neste final de ano, bancos internacionais continuam otimistas com o Brasil em 2019. O Credit Suisse prevê que a moeda americana deve ficar em R$ 3,60 no próximo ano, na medida em que os estrategistas da casa estão animados com o cenário de aprovação de reformas no governo de Jair Bolsonaro, que toma posse na semana que vem.
"Esperamos que fatores domésticos benignos ofusquem fatores externos mais negativos pelo lado externo", escrevem em relatório. A previsão do Credit é que o Brasil deve crescer 3% em 2019.