Jornal Correio Braziliense

Economia

Fed prevê juros mais altos em 2019 e bolsas de NY fecham em baixa

O voto de confiança que os mercados acionários americanos deram ao Federal Reserve (Fed, o banco central americano) no início do dia foi dissipado logo que a decisão de política monetária da instituição foi conhecida. O bom avanço visto nos principais índices acionários em Nova York deu adeus à medida que os investidores não se fizeram de rogados e voltaram às vendas depois que o Fed sinalizou duas elevações nos juros no próximo ano. Apesar de ser um tom mais suave em relação a setembro, quando o banco central indicou três aumentos, investidores acreditavam que os juros não mais subiriam em 2019, como indicava o CME Group. "O Fed fez o mínimo esperado ao elevar os juros em 25 pontos-base e lançar mão de um dos aumentos programados para 2019. Isso não foi suficiente para o mercado de ações, onde os investidores parecem ter esperado ver uma mudança mais substantiva no tom do Fed. Isso não aconteceu", comentou o economista-chefe da Pantheon Macroeconomics, Ian Shepherdson. A consultoria mantém a avaliação de que os juros podem subir quatro vezes em 2019 nos EUA em um cenário que contemple um acordo comercial entre americanos e chineses. "Se isso não acontecer, as taxas subirão uma ou duas vezes mais, em linha com o projetado pelo Fed." Nem mesmo as sinalizações de que mais altas de juros estão a caminho fizeram com que ações de bancos apresentassem ganhos. Durante a coletiva de imprensa concedida pelo presidente do Fed, Jerome Powell, os papéis passaram a renovar mínimas sucessivas. O Goldman Sachs enfrentou queda de 1,31%, o JPMorgan sofreu baixa de 1,27% e o Citigroup amargou perda de 2,06%. Já o subíndice financeiro do S 500 recuou 1,24%, terminando o dia cotado a 390,00 pontos, no menor nível desde novembro de 2016. "Continuamos a projetar duas altas nos juros em 2019, com os Fed funds chegando à faixa entre 2,75% e 3,00% no atual ciclo de aperto. No entanto, enfatizamos a incerteza em torno do momento exato dessas elevações. Um Fed que dependerá dos indicadores econômicos, que enfrentará um crescimento global desigual e um momento com preços de ativos mais voláteis deve ser mais cauteloso do que foi este ano", ressaltou o economista-chefe para EUA do Citi, Andrew Hollenhorst. Volatilidade em alta tem sido vista nas ações de empresas de tecnologia, que voltaram a ser castigadas nesta quarta-feira. A Apple liderou as perdas no S 500 e enfrentou perda de 3,12%. Já o papel do Facebook despencou 7,25% em meio a alegações de que a companhia vende dados de usuários sem consentimento. A empresa comandada por Mark Zuckeberg nega a acusação, que foi publicada pelo New York Times. No cenário de penalização das techs como um todo, o índice Nasdaq enfrentou queda de 2,17%, cotado a 6.636,83 pontos. Em Wall Street, o índice Dow Jones recuou 1,49%, para 23.323,66 pontos. O índice S 500, por sua vez, chegou a perder o nível psicologicamente importante dos 2,5 mil pontos durante a coletiva de Powell, mas retomou o patamar antes do fim dos negócios regulares, ao cair 1,54%, para 2.506,96 pontos. O cenário mais adverso a ativos mais arriscados fez com que o Credit Suisse revisasse para baixo suas projeções para o indicador. De acordo com o banco suíço, sua estimativa para o S 500 no fim de 2019 caiu de 3.350 pontos para 2.925 pontos. "Desde o fim de setembro, a volatilidade mais que dobrou e fez com que os preços das ações caíssem 13%. No entanto, a história mostra que, nos meses seguintes a um aumento no VIX, as ações tendem a gerar retornos desmedidos", comentou o estrategista-chefe de ações americanas do Credit Suisse, Jonathan Golub. Para ele, a conclusão do processo de aperto monetário do Fed, possivelmente em 2019, "será um catalisador significativo para o mercado em 2019".