São Paulo ; Este é um ano que a cadeia da proteína animal de frango e suínos talvez prefira esquecer. Greve dos caminhoneiros, Operação Carne Fraca e Operação Trapaça e barreiras às exportações brasileiras levantadas a partir de grandes mercados consumidores pesaram para puxar para baixo o desempenho da atividade em 2018.
Com isso, segundo a ABPA, associação que presenta o setor, as exportações de carne de frango recuaram 5,1% em 2018 (para 4,1 milhões de toneladas) e as de carne suína perderam ainda mais, com um recuo de 8% no período (640 mil toneladas).
Tantos problemas refletiram na produção. No caso do frango, houve uma queda de 1,7% em comparação a 2017 (13,5 milhões de toneladas). No caso da carne suína, a retração foi maior, de 3,2% (3,63 milhões de toneladas).
Com menos oferta, os preços inibiram parte do consumo interno. Tanto que o consumo per capita de carne de frango teve uma pequena queda, de 0,7% (chegando a 41,7 quilos no ano). Já a de carne suína encolheu mais, com queda de 2,6% (14,35 quilos/ano).
Os ovos, por sua vez, tiveram um desempenho bem acima das carnes suína e de frango. Ajudado pela queda no poder de compra do brasileiro e pelas campanhas do setor de incentivo ao consumo do produto, o ovo teve uma alta no consumo de 10,4% em comparação a 2017.
A produção aumentou 10%, chegando a 44,2 bilhões de unidades no ano. Com isso, o brasileiro passou a um consumo per capita de 212 unidades/ano ; um recorde, segundo a ABPA. ;O ovo deixou de ser o patinho feio;, diz o vice-presidente da entidade.
Apesar do desempenho, Ricardo Santin, vice-presidente e diretor executivo da ABPA, ressalta que ainda é cedo para colocar o Brasil como ;o país do ovo;. O mexicano ; campeão mundial no consumo de ovos ; ingere por ano bem mais que o brasileiro, por volta de 340 unidades, ou praticamente um ovo por dia.
Se 2018 não foi um ano para ser festejado, 2019 é apontado como mais promissor. Segundo a ABPA, o Brasil deverá ter um aumento de 2% a 3% nos embarques de carnes suína e de frango. Esse aumento, segundo Santin, deve contar com o reforço de mercados como o do Japão, da Coreia do Sul e da China, que têm melhorado a relação comercial com o Brasil na área de proteína animal.
Essa projeção, diz o executivo, não leva em consideração o potencial mercado que pode ser criado na China no caso dos surtos de peste suína africana. As exportações, diz, poderão ser ainda maiores. Um estudo citado pelo executivo aponta que pelo menos 4 milhões de toneladas de carne suína foram descartadas na China por conta de abates relacionados à doença. Para atender a demanda atual, será preciso substituir o volume por outras proteínas.
O mercado chinês é apontado como uma das grandes apostas para o setor. Há cerca de um mês, uma missão do país asiático esteve no Brasil para estudar a possibilidade de credenciar até 78 plantas de bovinos e aves para a exportação. Para isso, teriam de ser cumpridos vários pré-requisitos.
As especificações e sugestões foram encaminhadas ao Ministério da Agricultura do Brasil, que já encaminhou os documentos solicitados. Santin acredita que o processo de credenciamento será rápido, ;o que dá uma ideia de que os chineses têm muita pressa;.
A estimativa da ABPA é que a produção nacional de carne de frango aumente 1,4% no ano que vem, chegando a 13,2 milhões de toneladas. Para os suínos a previsão é mais otimista. O cálculo da entidade aponta para um crescimento de 3% (3,7 milhões de toneladas).
Risco
Francisco Turra, presidente da ABPA, não acredita que o setor venha a ter problemas com o Oriente Médio por conta da afirmação de Jair Bolsonaro (PSL), presidente eleito, e de um de seus filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, sobre a decisão de mudar a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.Em reunião nesta semana, os países da Liga Árabe decidiram enviar uma carta ao futuro presidente sobre o risco de a decisão resultar em prejuízo nas relações do Brasil com os países árabes ; grandes compradores da proteína animal do Brasil, um dos maiores produtores de carne halal do mundo.
Segundo Turra, o sinal de alerta do setor já foi dado à futura ministra da Agricultura, a deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS). ;Uma coisa é falar como candidato ou depois de eleito. Outra coisa é esse assunto ser discutido já com uma equipe definida para o governo. Que abram um centro cultural ou um consulado em Jerusalém;, sugere.