Jornal Correio Braziliense

Economia

Mercado teme recessão nos EUA após 114 meses de expansão contínua

Analistas veem sinais de que a economia norte-americana pode se enfraquecer em 2019, após 114 meses de expansão contínua. Tendência estaria sendo antecipada pelo comportamento das bolsas de valores, que vêm apresentando fortes quedas



Investidores do mercado financeiro temem que a economia dos Estados Unidos possa entrar em um novo ciclo de recessão no próximo ano. O receio tem como base a redução da demanda global apontada por alguns indicadores e o comportamento das taxas de juros no país, que estão sendo gradativamente elevadas pelo Federal Reserve (Fed, o banco central).

Um indicador em particular chama a atenção do mercado, o que relaciona os juros de títulos de longo e de curto prazos nos EUA. Nesta semana, a diferença entre as taxas anuais dos papéis do Tesouro de dois (2,79%) e de 10 anos (2,91%) diminuiu, pela primeira vez em uma década, para 0,12 ponto percentual. É a menor distância desde a crise de 2008. Para analistas, isso indica que as condições econômicas, no futuro, não serão favoráveis. O temor é de que haja a ;inversão; na curva de rendimento, quando as taxas de longo prazo são inferiores as de curto prazo, apontando para recessão.

Ontem, o mercado acionário nos EUA esteve fechado, em sinal de luto pela morte do ex-presidente George H. W. Bush, no último sábado. No entanto, a queda expressiva das cotações na terça-feira acendeu uma luz amarela. A Nasdaq, bolsa que engloba as empresas do segmento de tecnologia, foi a mais afetada, com baixa de 3,8%. O índice S 500 da Bolsa de Nova York, que inclui as 500 maiores empresas listadas, recuou 3,24%, e o Dow Jones, 3,1%. De acordo com especialistas, os traders costumam precificar, com antecedência, a imersão da economia em uma nova crise financeira.

Relatório do Fed publicado ontem afirma que os preços aumentaram diante da elevação de tarifas de importação impostas pelo presidente Donald Trump, e a inflação subiu de forma ;modesta; ; atualmente, ela é 2,5%. As empresas norte-americanas diminuíram as previsões de investimento, diante do impacto de tarifas, aumento gradual dos juros e restrições do mercado de trabalho. O relatório avalia ainda que o crescimento econômico norte-americano é ;moderado;.

De acordo com dados oficiais, a economia dos EUA completou 114 meses de expansão, após superar a última recessão, em 2009. É o segundo maior período de crescimento da história, atrás apenas do intervalo entre 1991 e 2001. Outro fator de preocupação é o aumento de gastos públicos, em um momento no qual Trump reduz impostos e aumenta os benefícios tributários para empresas.

Segundo o economista César Bergo, a hipótese de uma recessão a curto prazo assusta investidores, diante de um cenário de pleno emprego (em novembro, o desemprego foi de 3,7%). ;Trump costuma dizer que a economia dos EUA ;nunca esteve tão bem;. Mas ele não vê as preocupações do Fed. A longo prazo, o alto nível de atividade vai elevar a inflação e, depois, desencadeará uma recessão, talvez para o próximo presidente, com a queda de negócios. A receita, já sabemos;, resumiu.

Pablo Spyer, diretor de operações da Mirae Asset, vê um cenário pior para a economia dos EUA em 2019, mas não acredita em recessão. ;O FMI, em outubro, revisou de 2,7% para 2,5% a estimativa de crescimento do país. No geral, espera-se uma desaceleração global. Acredito em uma diminuição do ritmo do PIB (Produto Interno Bruto) a partir de abril de 2019, mas não em um número negativo.;

* Estagiário sob supervisão de Odail Figueiredo