São Paulo ; O empresário Rubens Menin, de 62 anos, alcançou aquele momento único na vida em que as conquistas do passado dão suporte para os projetos do futuro. Nos últimos 40 anos, Menin construiu uma das trajetórias empresariais mais bem-sucedidas da história do Brasil. Engenheiro formado, cimentou a MRV do zero, tornando-a a maior construtora de imóveis residenciais da América Latina, uma gigante com R$ 6,1 bilhões de faturamento no ano passado e mais de 400 mil apartamentos entregues.
Agora presidente do Conselho de Administração da MRV, Menin tem ideias ousadas para a sua empresa e para o país: ;O sonho da MRV é ser uma plataforma global de produção de apartamentos;. Para alcançar a façanha, diz que a única saída é investir em tecnologia ; como a capacidade de erguer um prédio em apenas 10 dias, técnica já dominada pela companhia.
Menin também quer dar a sua contribuição para transformar o país. Em 2019, tem duas grandes metas: consolidar o Movimento Você Muda o Brasil, lançado em agosto passado e formado por empresários que defendem a ética e a cidadania em todos os âmbitos da vida brasileira, e desenvolver o movimento Bem Maior, que ambiciona dobrar os recursos destinados à filantropia. Criado em parceria com os empresários Elie Horn, fundador da Cyrela, e Eugênio Mattar, presidente da Localiza, o projeto será apresentado oficialmente nesta semana.
Não poderia haver melhor momento para as iniciativas. Pelo menos é isso o que garante Menin, que acha que o Brasil, a partir do novo governo, pode enfim começar a realizar o seu potencial. ;Os empresários brasileiros e os investidores estrangeiros estão eufóricos com o futuro do Brasil;, diz o chairman da MRV. ;Se o país fizer o dever de casa, vai virar uma grande potência.;
Empresário de opiniões fortes, Menin defende os primeiros sinais emitidos pelo governo Bolsonaro e se incomoda com as críticas que ele julga descabidas ao novo governo. ;Uma parte da sociedade tem preconceito com militares. Mas olha a equipe de militares que está no governo: são pessoas treinadas, acostumadas ao comando, éticas e que gostam do Brasil.; O fundador da MRV também acha que os filhos de Bolsonaro estão cumprindo um bom papel. ;Eles apresentam comportamento 100% ético. Qual é o problema de se posicionarem? Não há nepotismo algum nisso. Foram eleitos e têm demonstrado grande capacidade de ajudar. Que pai não quer ter os filhos por perto?; Menin usa o próprio exemplo para justificar sua posição. ;Eu tenho meus filhos me ajudando, dando conselhos, são meus parceiros para a vida inteira;. Acompanhe a seguir a entrevista completa.
Quais são as perspectivas do setor da construção para o ano que vem?
São ótimas. Nosso setor, que representa 2,5% do PIB, foi um vetor negativo para a economia brasileira durante o período de crise. Perdemos 1,2 milhão de empregos, o que é muita coisa. Em 2019, vai ser o contrário. Vamos empregar e participar ativamente do desenvolvimento econômico. Os empresários brasileiros e os investidores estrangeiros estão eufóricos com o futuro do Brasil.
A despeito do otimismo, quais são os obstáculos para 2019?
A gente tem que arredondar os pequenos detalhes que faltam. Estou confiante em que a Lei dos Distratos, que traz mais segurança jurídica para o nosso setor, será sancionada pelo presidente. Faltam também alguns detalhes finais da reforma trabalhista. Feito isso, será correr para o abraço.
Qual é o potencial da indústria brasileira da construção?
Só três países possuem uma característica comum, que é ter mais de 8 milhões de quilômetros e pelo menos 200 milhões de habitantes: Estados Unidos, China e Brasil. Não existe um quarto país. Estados Unidos já viraram potência, China está virando agora. Falta o Brasil. Quando falo com investidores externos, todos enxergam a mesma coisa: a hora que fizermos o dever de casa, vamos virar uma grande potência.
Mas o Brasil ainda está muito distante disso.
Um dado que gosto de dar e que marca muito bem isso é o seguinte: o Brasil consome menos de 2% do aço e cimento do mundo. A China consome 50%. Ou seja, 25 vezes mais, enquanto o PIB chinês é quatro vezes maior que o do Brasil. Esses dados mostram como a relação é desproporcional e como essa indústria está travada no Brasil. A hora em que a gente entrar no padrão chinês de gasto de cimento e aço, que é o padrão de um país emergente, imagine qual será o reflexo para a indústria da construção.
Até que ponto o setor da construção vai contribuir para o crescimento econômico do país?
Olha que coisa interessante o nosso setor. Formamos 1,5 milhão de famílias por ano. Ou seja, teremos que construir casas para 35 milhões de brasileiros nos próximos 20 anos. Pouquíssimos países no mundo têm essa demografia. Isso é um negócio que ninguém tem, é uma característica nossa. Esse potencial é fantástico.
Há espaço para crescer no crédito imobiliário?
Nosso crédito imobiliário é só 10% do PIB. Nos Estados Unidos, são 70%. Nos países emergentes, de 20% a 30%. É mais um indicador que mostra que o nosso negócio tem um potencial gigantesco. Além disso, o arcabouço legal brasileiro é bom. Só falta agora a questão dos distratos, que vai ser a cereja do bolo. Com isso, o nosso setor vai ter muito chão pela frente, muito espaço para crescer. Repito: que país no mundo cria 1,5 milhão de famílias por ano? Temos que aproveitar isso.
A recente crise foi pior do que aquela do início dos anos 1980?
Passei por três grandes crises na MRV, e diria que esta, a terceira, foi a pior de todas. Ela durou muito tempo, foi minando as empresas e a competitividade brasileira, provocou danos entre todos os brasileiros, de A a Z. Foi a que mais me incomodou. Pior ainda: foi numa época em que o mundo estava vivendo um momento de ouro e o Brasil acabou perdendo espaço na economia mundial.
O que diferencia a indústria da construção brasileira da de outros países?
A indústria brasileira de habitação popular é uma das mais eficientes do mundo. Conheço bem a China, conheço bem a Europa, os Estados Unidos. Somos sem dúvida uma das indústrias mais capacitadas em termos de qualidade tecnológica.
Você poderia dar um exemplo desse tipo de capacitação?
Desenvolvemos uma tecnologia que permite construir um prédio em 10 dias. Os estrangeiros ficam admirados com isso. Mas eu queria dizer uma coisa. Nosso setor é formado por empresas brasileiras, onde trabalham brasileiros que fazem casas para brasileiros. Você não faz um apartamento aqui para vender na China ou em qualquer lugar do mundo, como a indústria automobilística. A indústria da construção é uma das poucas indústrias que não é globalizada, mas será em breve.
Será em breve?
O sonho da MRV é ser uma plataforma global de produção de apartamentos. Nós temos 300 canteiros de obras em 160 cidades. É como se você tivesse 300 fábricas, é algo muito complexo, que exige um grande desafio operacional.
O que é preciso fazer para se tornar uma plataforma global?
Tecnologia. Se você tiver a melhor tecnologia do mundo, conquista espaços, vai embora.
Existem outras companhias no mundo que estão prontas para se tornar empresas globais da construção?
Só tem uma empresa na China que faz isso, que está começando a se espalhar pela Ásia. É um componente novo no setor que vai começar a ocorrer de forma mais rápida nos próximos cinco anos.
Qual é a sua primeira avaliação dos primeiros passos do governo Bolsonaro?
Olha que interessante: nós temos que quebrar preconceitos. Vou te dar um exemplo. Veja o caso do Mais Médicos. Você tinha aí 8 mil cubanos que estavam levando nosso dinheiro para fora. Isso não é possível. Os médicos brasileiros são mais capacitados que os médicos cubanos. Isso para mim era uma vergonha.
Além do episódio do Mais Médicos, qual é a sua expectativa em relação ao novo governo?
O governo Bolsonaro tem três aspectos que eu considero muito interessantes e positivos. O primeiro deles é a equipe econômica, que é o sonho de consumo de qualquer brasileiro que entende minimamente do assunto. Trata-se de um time inegavelmente supercapacitado. Veja o caso de Salim Mattar, que, além da competência, traz um exemplo de desprendimento. Ele vai largar a presidência do conselho de uma empresa enorme que ele fundou (a Localiza) para doar seu tempo e sua força de trabalho para o Brasil. Isso se chama espírito-público. Olha que bacana!
Qual é o segundo aspecto?
O segundo é o caso dos generais. Uma parte da sociedade ainda tem um certo preconceito. Mas olha a equipe de militares que está no governo. São pessoas altamente treinadas, acostumadas ao comando, éticas e que gostam do Brasil. Vamos aproveitar esses caras. Eles não têm que ser estigmatizados. Tenho certeza de que vão prestar um bom serviço.
E o terceiro?
São os filhos do Bolsonaro. Alguns gostam de criticar os filhos do Bolsonaro. Poxa, os caras apresentam comportamento 100% ético. Qual é o problema de se posicionarem? Não há nepotismo algum nisso. Foram eleitos e têm demonstrado grande capacidade de ajudar. Que pai não quer ter os filhos por perto? Eu tenho meus filhos me ajudando, dando conselhos, são meus parceiros para a vida inteira. Vamos parar de criticar.
É interessante você destacar como aspecto positivo do novo governo a presença dos filhos do Bolsonaro. Isso faz lembrar o seu próprio caso. Seus três filhos atuam no grupo, foram preparados para isso.
Sim, é isso. A participação da família de forma profissional, legítima e justa é salutar na vida das empresas. Bolsonaro está demonstrando que na política isso também é possível. As palavras-chave são agir de forma profissional e honesta. E isso está claramente acontecendo.
Paulo Guedes, o superministro da Economia, tem defendido com afinco a agenda liberal. O Brasil já teve em sua história um governo genuinamente liberal?
Nunca teve. Eu pelo menos não me lembro. A agenda liberal nunca foi de fato defendida e agora eu tenho certeza de que ela vai trazer frutos para o país.
Nos últimos anos, os empresários deixaram de lado a vida pública brasileira, mas agora estão retomando o protagonismo. Esse movimento veio para ficar?
Vou falar sobre os meus planos para 2019 e aí respondo à sua pergunta. Como pessoa física, tenho dois grandes projetos para o ano que vem. O primeiro deles é o Bem Maior, que formei junto com o meu guru, o Elie Horn (Cyrela), e o Eugênio Mattar (Localiza), além de outras lideranças empresariais. A ideia do Bem Maior é essencialmente contribuir para a construção de um país melhor.
Como isso será feito?
Explico: apenas 0,2% do PIB brasileiro é destinado por ano à filantropia. Nos Estados Unidos, o índice é de 1,5%. Olha que diferença maluca. Nossa meta é, em quatro anos, chegar a 0,4% do PIB. Ou seja, dobrar o valor atual. A gente quer fazer o maior programa de filantropia do Brasil. Nós vamos lançar o programa nesta semana.
E o seu segundo projeto para 2019?
É o movimento Você Muda o Brasil, lançado em 2018, que conta também com outras lideranças empresariais de peso. Esse projeto tem como propósito trabalhar as questões da ética e da cidadania. Esse movimento virá muito forte no ano que vem e será muito importante para a sociedade como um todo.
Por que você decidiu se engajar nesses movimentos?
O que mais me entristece hoje é ver jovens saindo do Brasil. Temos um país incrível, com um potencial fantástico. O Brasil precisa empreender, ser um lugar com grandes oportunidades para os jovens. A minha geração precisa fazer isso para o país.