Mais de um terço das captações feitas por debêntures entre janeiro e agosto deste ano foi para pagamento de dívidas, algumas delas como Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ou seja, as companhias venderam papéis para investidores no mercado e, com o dinheiro, amortizaram débitos com o banco de fomento, destaca o diretor do Centro de Estudos de Mercado de Capitais (Cemec), Carlos Antonio Rocca, responsável pelo levantamento sobre o avanço do mercado de capitais. Outros 22,8% tiveram como destino o financiamento de capital de giro.
Apenas 16,3% foram para o setor de infraestrutura, especialmente para a área de energia elétrica e rodovias. Ainda assim, esse foi o maior porcentual para o segmento desde 2012, segundo os dados do Cemec. O movimento é resultado da queda da taxa básica de juros aliada à nova política do BNDES, que levaram as empresas de infraestrutura a buscar alternativas no mercado de capital para levantar seus projetos, sem subsídio estatal.
Em vários casos, as captações conseguiram competir em igualdade com as modalidades públicas, algo inimaginável há pouco mais de dois anos. "Em outras épocas, a maioria das empresas que hoje estão emitindo debêntures de infraestrutura recorreriam ao BNDES. Hoje vemos a maturação desses títulos no mercado", diz Daniel O'Czern, diretor da área de projetos e infraestrutura do Citibank.
Ele destaca que foi o próprio banco de fomento que começou a incentivar as empresas a explorarem esse mercado especialmente para projetos de infraestrutura, ainda no governo Dilma Rousseff. O esforço, aliado às condições de mercado, deram resultado. Pelos dados do Cemec, o número de companhias distintas que emitiram notas promissórias ou debêntures cresceu quase 36 vezes de 2005 para cá. Até junho esse número era de 1.255 empresas.
Estratégia do BNDES. A diretora de investimentos do BNDES, Eliane Lustosa, destaca que o banco tem trabalhado para ajudar a desenvolver o mercado de capitais no Brasil ao lado das empresas. Em alguns casos, a instituição tem atuado como âncora nas ofertas - ou seja, ela se compromete a comprar um determinando montante da emissão de debêntures.
Sobre a queda drástica dos desembolsos nos últimos anos, a instituição argumenta que o movimento é decorrente da queda no número de projetos no País por causa da crise econômica. "Mas apostamos que agora teremos uma retomada dos investimentos", diz a diretora do banco de fomento. Segundo ela, o BNDES fez um longo trabalho para desenhar formas de atuação no setor.
Desde 2013, diz ela, o banco já participou de 23 projetos, com emissões de R$ 2 bilhões, no formato "bid escalonado" - que nada mais é que assegurar um porcentual de compra das debêntures. A política do banco tem sido ficar com 30% ou 40% dos papéis emitidos para incentivar o mercado. Se houver demanda dos investidores, esse porcentual tende a cair.
Outro mecanismo que o BNDES aposta é a criação de Fidcs (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios). Eliane afirma que o banco tem orçamento de R$ 5 bilhões para esse tipo de produto. "Se pensarmos que nossa participação será de cerca de 30%, esses R$ 5 bilhões vão se transformar em R$ 17 bilhões."
Greve
Os números do mercado de capitais só não foram melhores neste ano por causa da mudança de cenário a partir de maio de 2018 com a greve dos caminhoneiros, turbulência eleitoral e piora no ambiente internacional, com incertezas em relação aos juros americanos. Essa conjunção de fatores levou à saída de investidores estrangeiros do País e teve reflexo negativo em novas emissões de ações. Várias Ofertas Públicas de Ações (IPO's) foram adiadas por causa da turbulência.
"Tenho uma visão cautelosamente otimista para 2019. Apesar das reformas necessárias para o País, acredito que as empresas vão continuar indo a mercado (para fazer captações)", afirma o presidente do Comitê de Finanças Corporativas da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), Sergio Goldstein. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.