São Paulo ; Depois de vender sua participação na XP Investimentos, Eduardo Glitz decidiu tirar um período sabático. Durante 407 dias, viajou por 42 países. A experiência rendeu um livro. Mas empreendedor que se preze não fecha os olhos para ideias inspiradoras nem mesmo quando deveria estar desconectado do ambiente de negócios.
Quando voltou ao Brasil, o gaúcho conversou com os amigos Marcelo Maisonnave e Pedro Englert, ambos ex-XP e sócios em outras seis startups, sobre uma ideia que teve durante suas andanças: produzir um calçado muito leve e confortável, feito com lã de merino, uma raça específica de ovelha. Parece uma estratégia errada vender um tênis feito com lã em um país tropical, mas essa fibra natural tem entre suas características, além da maciez, a versatilidade térmica, que esquenta no frio e refresca no calor.
Yuool (iniciais das palavras em inglês young ; jovem, urban ; urbano, e wool, lã) é a primeira empresa do grupo voltada à economia real. A venda, no entanto, é pela plataforma digital. Até agora, foram investidos R$ 4 milhões.
Os primeiros tênis começaram a sair da linha de produção, na cidade gaúcha de Estância, em dezembro do ano passado. Em janeiro, o e-commerce foi colocado no ar. O solado, de EVA, é feito no Rio Grande do Sul. Toda a lã vem de uma fábrica italiana, que tem uma participação minoritária na operação brasileira.
A fornecedora da lã também se tornou sócia do e-commerce que entrou no ar na Itália neste mês e que será abastecido pelos calçados produzidos no Brasil. O negócio está sendo administrado a partir de um escritório em Milão. O primeiro embarque para os italianos foi de 1.500 pares de tênis. A intenção, segundo Glitz, é que a operação sirva de porta de entrada para todo o mercado europeu. Em média, a empresa tem vendido cerca de 3 mil pares por mês. Cada para custa R$ 349. A partir de 1 mil pares/mês, diz o investidor, a operação já é lucrativa.
Ao mesmo tempo que faz planos para tornar a marca conhecida na Europa, Glitz e seus sócios vêm conversando com potenciais parceiros nos Estados Unidos e na China, ambos do mercado de moda. Se a negociação com os americanos der certo, a intenção é exportar os tênis a partir do Brasil, como aponta a análise de custos feita pelos empresários.
Mercado chinês
Para o mercado chinês, no entanto, ainda não há uma definição sobre o melhor modelo de negócio. ;Se der certo, queremos continuar com o mesmo modelo desenvolvido no Brasil, com a venda apenas no canal digital. Assim conseguimos manter um preço que torna o produto acessível a mais pessoas;, explica.
Até agora, os empreendedores da Yuool têm investido na divulgação do produto por meio de ações em redes sociais e em eventos promovidos pela Startse, outra empresa investida por Glitz, Maisonnave e Englert. ;O grande desafio com a venda digital é mostrar como o calçado é confortável. Como transmitir esse conforto pelo canal on-line? Por isso temos levado nossos produtos para esses eventos para que as pessoas experimentem e tirem sua conclusão;, explica Glitz.
Apesar da experiência que tiveram com a XP, que teve uma parte vendida para o Itaú no ano passado, os sócios da Yuool não falam agora em passar a nova startup adiante. Segundo Glitz, até já houve uma sondagem feita por uma grande empresa calçadista do Brasil, mas, por ora, eles acreditam que há muito o que ser explorado, ainda mais com os planos no curto prazo de levar a marca para dois grandes mercados: Estados Unidos e China.