Jornal Correio Braziliense

Economia

Artigo - É a economia, companheiro!

Um dos fundadores do PT e também integrante da primeira direção do partido, o ex-deputado Paulo Delgado é um dos mais lúcidos críticos da política petista que dividiu o país em dois polos antagônicos e que, com o apagão tucano, acabou levando à vitória de Bolsonaro. Diante da histeria da esquerda, que prenuncia o apocalipse a cada liberal confirmado para integrar o novo governo, ele diz, em artigo, não ser do tipo que se desespera antes da hora.

A ruptura entre o PT que tentava voltar ao Planalto e o grupo que chegou ao poder se dá em quase todas as áreas: saúde, educação, segurança, relações exteriores. Mas, na prática, a mais marcante e evidente deve acontecer na economia, completamente destroçada no governo Dilma.

Nunca, desde a ditadura militar que se instalou no país de 1964 a 1985, um governo esteve tão povoado de economistas genuinamente liberais e falou tão à vontade e tão às claras em privatizações e redução do tamanho do Estado. Os planos de Paulo Guedes vão além da desburocratização do ambiente de negócios e da necessária segurança jurídica tão cobrada por empreendedores e estrangeiros interessados em investir no Brasil. É possível que, como ocorre hoje em muitos países, uma empresa possa ser aberta via internet em apenas alguns minutos, e não em 80 dias, em média, como funciona hoje, no esquema em que empresários se veem submetidos a todo tipo de achaque de burocratas do serviço público e de "facilitadores" de papéis cartoriais.

E engana-se quem pensa que haverá menos vigilância sobre a atividade econômica. Cada vez mais, cada movimentação será monitorada em tempo real por órgãos interligados de fiscalização, a tal economia 4.0.

A desburocratização, contudo, é a parte mais simples e mais fácil de ser posta em prática. Guedes se propõe a executar reformas muito mais ambiciosas. Como a de fazer, ainda no primeiro ano de gestão, a reforma da Previdência, venda de uma penca de estatais e zerar o deficit público. O objetivo, com as medidas iniciais, é abrir caminho para mudanças que levem ao corte de 25% da carga tributária ao longo de uma década. A combinação das reformas, acredita Guedes, modernizaria a economia, propiciaria a abertura de milhões de empregos e recolocaria o país na rota do crescimento sustentável. A ambição juscelinista do futuro ministro é o que mais queriam ouvir economistas, analistas de mercado e investidores. Mas ninguém, praticamente, considera a promessa inexequível em tão curto espaço de tempo.

Além de tempo, vale destacar que Guedes e equipe precisarão contar com um Congresso amigável para aprovar as reformas. Um dos criadores do Plano Real e diretor do Banco Central no governo de Fernando Henrique Cardoso, o economista Gustavo Franco saúda a primavera liberal no país, diz que o Brasil está pronto para as mudanças, mas alerta para o perfil conservador do Legislativo. ;O liberalismo tem sido praticamente inexistente no Parlamento, exceto talvez pela letra ;L;, meio malversada ou extraviada em algumas siglas partidárias, às vezes mesmo junto com a letra ;S;, sem que os membros da agremiação saibam bem o que significa;, escreveu em artigo publicado ontem no jornal O Estado de S. Paulo.