O italiano Antonio Filosa, presidente do grupo FCA para Brasil e América do Sul, não tem escondido sua empolgação com as perspectivas positivas para a economia brasileira e para o setor automobilístico nos próximos anos. Com a confiança característica de um bom napolitano, ele afirma que as marcas sob seu comando, que incluem Fiat, Jeep e Chrysler, terão os melhores desempenhos do setor e serão os destaques do mercado nos próximos meses.
;Vamos fazer da marca Fiat a montadora mais ousada do Brasil e da América Latina;, afirmou Filosa, no primeiro dia de apresentação à imprensa do Salão do Automóvel de São Paulo, ontem, ainda fechada ao público. ;A Fiat voltará à liderança do mercado brasileiro. Pode apostar.;
No primeiro dia de coletivas do Salão, 15 fabricantes apresentaram suas novidades. E todas exibiram algo em comum: o otimismo com o futuro da economia brasileira.
A confiança do executivo da FCA é sustentada por um robusto plano de investimentos. Filosa reafirmou que, até 2023, a montadora vai investir R$ 8 bilhões no Brasil, com lançamento de 15 novidades, entre novos modelos, motorizações e soluções de conectividade.
A fábrica mineira de Betim deverá receber a maior fatia dos recursos, mas a planta da Jeep, na cidade pernambucana de Goiana, também será contemplada. ;Quando há um ambiente de maior estabilidade e confiança, nosso setor e toda a economia voltam a crescer;, disse Filosa. ;Por isso, não tenho dúvidas de que a fase mais difícil para o setor ficou para trás.;
Junto com os investimentos, a FCA pretende lançar versões esportivas baseadas nos compactos Argo e Cronos, além de um SUV compacto. A empresa não revela os detalhes de sua estratégia, mas crescem as apostas de que as marcas Alfa Romeu e RAM, famosa por suas picapes encorpadas, serão trazidas ao mercado brasileiro.
A confiança de Filosa não é exceção no setor automotivo ; é quase uma regra. Os executivos da montadora alemã Audi também acreditam que o mercado vai recuperar o vigor do período pré-crise. Tanto é que a marca vai aproveitar o clima do Salão para lançar uma de suas mais ousadas estratégias comerciais da história.
Uma das iniciativas é um bônus de R$ 25 mil para que os clientes que já têm um modelo Audi troquem por alguma das quatro novidades em exposição no Salão. Não há limite de clientes para esta supervalorização. Outra ofensiva é a oferta de um empréstimo em comodato dos modelos atuais do A6 e A7 para os primeiros 20 compradores. Após o fechamento do negócio, esses 20 clientes poderão ficar com um dos dois veículos emprestados até a entrega do novo modelo adquirido durante a exposição.
Além disso, a Audi vai lançar os modelos Q8, A6, A7 e A8 em 2019. ;Um evento como o Salão do Automóvel serve como vitrine para as nossas estratégias e, da parte do cliente, ajuda a motivá-lo na compra de um novo veículo;, disse José Sétimo Spini, diretor da Audi do Brasil. ;Além de expor os lançamentos, com o que há de mais moderno e tecnológico, estamos expondo nossa confiança e nossas condições especiais.;
Parte do otimismo se explica pela tão aguardada aprovação do programa Rota 2030, colocado na pauta da Câmara dos Deputados na noite de ontem. Até o fechamento desta edição, o programa ainda não havia sido aprovado. A medida provisória, criada em julho em substituição ao Inovar-Auto, perde a validade na próxima semana, mas sua aprovação é dada como certa pelos executivos das montadoras.
;Não há razões para os parlamentares não aprovarem. A lentidão em definir o programa e de aprovar no Congresso fez com que o Brasil perdesse para outros países projetos e investimentos das matrizes; afirmou o presidente da BMW no Brasil, Helder Boavida. ;Com a aprovação do programa, o setor terá mais previsibilidade e poderá desengavetar seus investimentos.;
Incentivo
Para relembrar, o Rota 2030 prevê que as montadoras possam abater entre 10% e 15% de seu imposto de renda do volume de investimentos realizados em pesquisa e desenvolvimento no Brasil. O incentivo tributário será concedido de acordo com a redução da emissão de poluentes e aumento da eficiência energética dos veículos.
;A estrutura de custos do Brasil hoje tira a competitividade do país em relação a outras regiões do mundo. E em um mundo cada vez mais competitivo, isso é um problema que precisa ser combatido;, disse Carlos Zarlenga, presidente da General Motors (GM) no Brasil. ;O texto original do Rota 2030 que trata disso, como carga tributária e custos de logística.;
Essa avaliação é compartilhada pelo executivo Antonio Megale, presidente da associação das montadoras a Anfavea. Segundo ele, muitos projetos não saíram do papel pela falta de previsibilidade. ;Quanto mais cedo aprovado for o projeto, mais as empresas poderão tomar decisões de investimento;, afirmou.
Pelas projeções da Receita Federal, o Rota 2030 resultará em uma renúncia fiscal de mais de R$ 2,1 bilhões no ano que vem, e mais R$ 1,6 bilhão em 2020. Por outro lado, as montadoras calculam que os incentivos deveriam gerar uma desoneração de, no mínimo, R$ 5 bilhões.
Carro elétrico é aposta
Nos próximos anos, o carro elétrico será uma realidade cada vez mais comum nas ruas e rodovias brasileiras. Pelo menos três montadoras já confirmam seus lançamentos no país em 2019: a GM, com o Bolt, a Nissan, com o Leaf, e a Renault, com o Zoe. Inicialmente, todos os modelos serão importados. ;Estamos muito confiantes de que o nosso carro elétrico será um sucesso no Brasil, assim como tem sido em todos os mercados onde já foi lançado;, disse o presidente da Nissan do Brasil, Marco Silva.
Mas nem todos terão o privilégio de ;reabastecer; na tomada. Até agora, todos custarão mais de R$ 149 mil no país ; é o caso do modelo da Renault. Já o Bolt e o Leaf devem custar R$ 175 mil e R$ 178,4 mil, respectivamente. ;Os custos tendem a cair conforme a demanda for subindo e os impostos revistos;, disse Silva.
O carro Nissan, lançado em 2010, é o automóvel elétrico mais vendido do mundo. O modelo é equipado com um motor de 150 cavalos e a recarga total da bateria, em tomada residencial, leva até 8 horas. Já o Bolt, apresentado nos Estados Unidos em 2016, tem como grande diferencial a autonomia, com mais de 300 quilômetros.
O carro mais adiantando no mercado brasileiro, no entanto, é o Zoe. O carro já foi homologado no Inmetro e deverá ser o mais acessível em termos de custo. ;O Brasil está defasado nesse mercado de carros elétricos em, pelos menos, cinco anos na comparação com os países mais desenvolvidos nesse tema;, diz o economista Carlos Meneghetti, especialista em novas tecnologias pela FGV. ;Está mais do que na hora de se criar políticas de eletrificação da frota e de incentivo à redução da queima de combustíveis fósseis.;