Paula Pacheco/Estado de Minas
postado em 16/10/2018 05:00
Rio de Janeiro ; A Gol Linhas Aéreas Inteligentes anunciou reorganização societária, que vai unificar suas classes de ações, listar a companhia no Novo Mercado e incorporar a Smiles, seu programa de fidelidade. Numa decisão que enfureceu os acionistas minoritários da Smiles, a Gol informou que não vai renovar seu contrato com a empresa de fidelidade ; que só vence em 2032 ; e afirmou que trazer a Smiles para dentro de casa está em linha com a estratégia de outras aéreas, como Air Canada, Aeromexico e Latam.Azedando ainda mais o clima, a Gol destacou entender que o mercado estava sobreavaliando os resultados da empresa de fidelidade. ;Os analistas de mercado projetam que a Smiles continuará crescendo o faturamento em dois dígitos por ano e que suas margens continuarão se expandindo. Mas, graças ao aumento da concorrência e aos limites da governança da empresa, isso não deve acontecer,; disse Richard Lark, diretor financeiro da Gol, em teleconferência.
O anúncio de que a Smiles vai sair da bolsa encerra uma das trajetórias mais bem-sucedidas do mercado de capitais brasileiro. Desde seu IPO (Oferta Pública Inicial de Ações na tradução para o português) em abril de 2013, a Smiles retornou 288% ; ou cerca de 28% ao ano ;até o fechamento de quinta-feira. Para efeito de comparação, o Certificado de Depósito Interbancário (CDI) no período rendeu 74,7%, ou 10,7% ao ano.
Todo o processo de reorganização deve durar cerca de três meses, e terá que ser aprovado pelos acionistas minoritários de ambas as empresas. A relação de troca, o mix das ações que serão dadas em pagamento e as condições de resgate das ações serão negociados entre a Gol e um comitê independente a ser formado por conselheiros da Smiles. A expectativa é de que os investidores que não quiserem ser acionistas da nova Gol poderão escolher receber apenas em ações resgatáveis.
Em seguida, a Gol absorverá a Smiles por meio de um aumento de capital. Não haverá emissão de ações ou capital para trazer dinheiro novo para a Gol. Independentemente dos termos a serem definidos, um gestor criticou a incorporação. ;Os acionistas da Smiles dormiram sócios de um negócio ultra rentável e acordaram sócios a fórceps de uma companhia aérea, um negócio com resultados ultra voláteis;, disse. No fechamento da bolsa de quinta-feira, a Smiles valia R$ 6,4 bilhões. Já a Gol, que é dona de 52,6% da Smiles, estava cotada por R$ 4,7 bilhões.
Divórcio
A direção da Gol disse que está se esforçando por um divórcio amigável, mas, em caso de fracasso nas negociações, se reservou o direito de fazer uma oferta pública para a Smiles. ;Ainda que isso pareça uma má notícia, a verdade é que estamos nos sentando à mesa para negociar um acordo justo para todos;, disse o diretor financeiro, Richard Lark, na teleconferência.
Outro gestor ligado à companhia não está nada satisfeito. ;Vamos ser claros sobre o que está acontecendo. Ninguém anuncia um negócio que vai acontecer daqui a três meses sem definir um preço. Estão fazendo isso para deprimir a ação. Num processo normal, eles anunciariam um preço e o mercado negociaria em cima disso;, declarou.
Com a Smiles dentro da Gol, a companhia aérea vai converter todas as suas ações preferenciais em ordinárias e se listar no Novo Mercado. Como as ações preferenciais da Gol listadas têm poder econômico 35 vezes maiores que as ações ordinárias, para manter esse ;super poder; econômico na nova Gol (que será listada no Novo Mercado), cada ação preferencial atual fará jus a 35 ordinárias.
Não está claro quanto a família Constantino, dona da Gol, terá do capital da empresa depois da reorganização, porque isso dependerá do valor de incorporação da Smiles, que ainda será negociado com o comitê independente e afetará o número de ações preferenciais a serem emitidas. O Bank of America Merrill Lynch e o BMA ; Barbosa Müssnich Aragão assessoraram a Gol na reorganização.