Jornal Correio Braziliense

Economia

Nova crise de confiança faz previsões do PIB da Argentina piorarem

Enquanto país vizinho tenta novo acordo com FMI, Bradesco reduziu de 1% para -1,5% previsão para o PIB argentino. Tendências cortou e 2,5% para -2,5%

Em meio ao aumento das divergências entre Estados Unidos e a China, às pressões nas moedas dos países emergentes e o aumento da desconfiança no país, a Argentina mergulhou em uma nova crise financeira. As previsões antes de crescimento da economia do país vizinho estão ficando negativas devido à contração do consumo e do ajuste fiscal gradual que vinha sendo realizado pelo presidente Mauricio Macri.

O Bradesco anunciou nesta quarta-feira (19/09) que está prevendo queda 1,5% no Produto Interno Bruto (PIB) argentino este ano. Antes, a estimativa era de expansão 1%. A mudança, de acordo com o comunicado do banco reflete a contração do consumo e do investimento no país que é principal destino de produtos manufaturados brasileiros, como automóveis, caminhões e tratores.
;Ainda é cedo para se avaliar o impacto da crise de confiança sobre a economia argentina;, explicou a instituição. ;Supondo a estabilização da crise cambial e projetando uma taxa de câmbio de ARS/US$ 40 ao final do ano, também elevamos nossa projeção para a inflação em 2018 para 40%. Este cenário, é claro, fica condicionado ao fechamento de um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) que permita ao governo começar a recuperar a credibilidade da política econômica;, informou o documento.
A Tendências Consultoria também reduziu recentemente sua projeção para o PIB do país vizinho e está mais pessimista que o Bradesco. De acordo com economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências, a nova previsão é de uma retração de 2,2% neste ano. Anteriormente, a expectativa era de um avanço de 2,5% na economia argentina.
;Esse cenário difícil da Argentina, com contração de PIB, é um misto da crise de confiança que vem se refletindo em forte saída de capital do país, na pressão no câmbio e no banco central (do país vizinho) elevando os juros para 60%, e também por causa do acordo com o FMI, que é importante, mas está exigindo como contrapartida uma intensificação do ajuste fiscal. Como a economia está fraca, isso fica mais difícil;, explicou Alessandra.
Ela lembrou que, quando assumiu o governo, em novembro 2017, Macri optou por fazer um ajuste fiscal mais ;gradual;, mas foi pego de surpresa com a intensificação das pressões no câmbio dos países emergentes desde o início deste ano. ;Foi uma opção do presidente Macri e ele não esperava essa mudança que ocorreu no mercado internacional. Talvez, se tivesse feito um ajuste fiscal mais rápido, e mais duro, hoje a situação poderia estaria mais tranquila agora;, destacou.

Em maio, a Argentina pediu um socorro de US$ 50 bilhões junto ao FMI, pois não tem reservas suficientes como as do Brasil, de US$ 380 bilhões, para suportar um ataque especulativo como o que vem ocorrendo ultimamente. O programa assegurava recursos de curto prazo para o financiamento público em contrapartida à promessa do governo de acelerar o ritmo de implementação do ajuste fiscal.
Atualmente, o governo de Macri vem tentando um novo acordo para que a liberação dos recursos seja antecipada. De acordo com a nota do Bradesco, o programa econômico acordado com o FMI enfrentou dificuldades quase que imediatamente, pois a pressão inflacionária advinda da depreciação do peso no segundo trimestre pôs em dúvida a capacidade de a Argentina cumprir as metas de inflação já em 2018. Além disso, o ambiente externo foi mais adverso do que o antecipado, marcado pela crescente aversão ao risco de mercados emergentes.
;Um novo acordo com o FMI ainda está sendo negociado com base nas novas metas fiscais para 2019 e 2020, além das medidas de ajustes já anunciadas pelo governo. Mas a sinalização de ambas as partes é de que as negociações têm sido produtivas e a expectativa é de que se chegue a um acordo que garanta o financiamento da Argentina até o final de 2019 nos próximos dias;, destacou a nota.