Jornal Correio Braziliense

Economia

Fundador da Amazon é acusado de impor condições insalubres de trabalho

Depois de anunciar criação de fundo bilionário para ajudar famílias sem moradia, o fundador da Amazon, Jeff Bezos, é acusado de impor condições insalubres de trabalho a funcionários



São Paulo ; Há alguns dias, Jeff Bezos, dono da Amazon e homem mais rico do mundo, anunciou a criação de um fundo de US$ 2 bilhões destinado a socorrer famílias sem teto nos Estados Unidos e em qualquer parte do mundo. Chamado de Bezos One Fund, o projeto também ambiciona criar pré-escolas para comunidades de baixa renda. O que parecia ser uma iniciativa louvável, porém, desencadeou uma enxurrada de críticas. Bezos, dizem os críticos, pode apenas estar jogando para a plateia, sem ser de fato alguém preocupado em melhorar a vida de outras pessoas.

Uma pesquisa recente realizada pela plataforma americana Organise, que atua em prol dos direitos dos trabalhadores, chegou a um resultado inquietante: 74% dos funcionários da Amazon evitam ir ao banheiro por medo de reduzir a produtividade e, assim, perder o emprego. Muitos deles, aponta o levantamento, urinam em garrafas para economizar minutos preciosos. É chocante descobrir que, em pleno século 21 e em uma das empresas mais inovadoras e admiradas do mundo, algo assim possa ocorrer.

A Amazon questiona a veracidade dos dados capturados pela pesquisa, mas situações parecidas foram descritas no livro Hired: Six Months Undercover in Low-Wage Britain (em português: Contratado: Seis Meses em Empregos de Baixa-Remuneração na Grã-Bretanha), escrito pelo jornalista James Bloodworth, que trabalhou na gigante americana antes de contar a história. O livro fez sucesso na Europa e causou enorme incômodo à empresa.

A recente disposição de Bezos em investir na filantropia surge pouco depois de o empresário entrar em uma briga pública com o município de Seattle, onde a Amazon está sediada. A prefeitura local planejava criar um imposto que seria convertido em moradias para sem-teto. O tributo deveria ser pago pelas grandes corporações, mas Bezos liderou uma cruzada contra a iniciativa, ameaçando deixar a cidade se o projeto vingasse. Como em quase tudo em que se envolve, Bezos venceu, e o município desistiu da ideia.

Mas foi uma vitória relativa. A postura intransigente do empresário no episódio gerou uma onda de críticas, e sua reputação piorou no país inteiro. O homem mais rico do planeta, que já tinha fama de olhar apenas para o próprio umbigo, reforçou a tese de que não está nem aí para as grandes questões sociais. Curiosamente, ele lançou pouco depois o fundo para ajudar famílias sem moradia, as mesmas que não queria socorrer com os novos impostos.

No quesito filantropia, Bezos está muito atrás dos grandes benfeitores da atualidade. O megainvestidor Warren Buffet, a terceira pessoa mais rica do mundo, doou desde 2006 US$ 24,5 bilhões apenas para a Fundação Bill e Melinda Gates, que se concentra no combate a doenças que afetam regiões pobres. Considerando tudo o que ele já dedicou à caridade, é provável que o valor supere US$ 50 bilhões.

Não é só. Buffett criou, junto com Bill Gates, fundador da Microsoft, o projeto ;Giving Pledge;, que estimula bilionários a destinar parte significativa de seu patrimônio a instituições de caridade. A ideia de Buffett e Gates é doar 99% de sua fortuna para a filantropia. Recentemente, Mark Zuckerberg, criador do Facebook, anunciou que repetirá o exemplo de Buffett, também cedendo 99% de tudo o que ganhou para fazer o bem.

O mundo empresarial brasileiro não tem tradição em fazer filantropia. O Giving Pledge conta com 200 bilionários do mundo inteiro. Apenas um brasileiro pertence ao clube: Elie Horn, fundador da Cyrela, que decidiu doar 60% de sua fortuna pessoal. Horn tem tentado convencer outros empresários a seguirem o mesmo caminho, mas tem encontrado resistência.

Uma das razões para a cultura da filantropia estar disseminada em países como Estados Unidos e não no Brasil pode estar ligada a questões fiscais. Entre os americanos, o imposto sobre heranças abocanha entre 30% e 60% das doações após a morte, o que estimula a filantropia em vida. No Brasil, a taxa está em torno de 4%.


  • Bezos não está na lista
    Os americanos que mais doaram para a caridade em 2017

    Warren Buffet (Berkshire Hathaway)
    US$ 2,86 bilhões

    Bill e Melinda Gates (Microsoft)
    US$ 2,14 bilhões

    Michael Bloomberg (Bloomberg)
    US$ 600 milhões

    George Soros (Soros Fund)
    US$ 531 milhões

    Chuck Feeney (Duty Free)
    US$ 482 milhões

    Família Walton (Walmart)
    US$ 454 milhões

    Paul Allen (Vulcan Venturies)
    US$ 341 milhões

    James e Marilyn Simons (Simons Foundation)
    US$ 293 milhões

    JGordon e Betty Moore (Gordon and Betty Moore Foundation)
    US$ 289 milhões

    John e Laura Arnold (Laura and John Arnold Foundation)
    US$ 277 milhões

    Fonte: Forbes