Para o presidente da Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (Abvcap), Piero Minardi, o que o Brasil enfrenta hoje não é muito diferente de outros momentos do País. E, mesmo diante de várias crises, a indústria de private equity teve uma boa performance.
"Entre 1994 e 2016, os investimentos tiveram, em média, um retorno de 2,6 vezes", diz Minardi, que também comanda a gestora americana Warburg Pincus no Brasil. "Passada a volatilidade, esse capital vai voltar."
Qual tem sido o impacto eleitoral para os fundos de private equity e venture capital?
Faz tempo que não temos uma disputa eleitoral tão cercada de incertezas. Faltam poucas semanas e ninguém sabe quem estará no segundo turno. A principal variável que nos afeta é a volatilidade do câmbio, que tem sido muito grande. Cenários eleitorais diferentes podem indicar dólar acima de R$ 4,30 ou voltando para R$ 3,50, por exemplo. É uma situação binária, e, para investidores de longo prazo, como nós, essa volatilidade pode comprometer os retornos. Por isso a cautela.
Quando a atividade volta ao normal?
Quando o resultado for conhecido, os preços do câmbio, da bolsa e dos juros vão se ajustar. Os riscos, a partir dali, serão mais conhecidos, e a volatilidade, menor. O capital trazido pelos fundos de private equity e venture capital é de longo prazo, não é especulativo. Ajuda no crescimento, na formalização de empresas e na arrecadação. Gera emprego, permite que empreendedores locais se desenvolvam e tenham acesso ao que acontece em outras partes do mundo. Passada a volatilidade, esse capital vai voltar.
É uma eleição na qual os extremos estão mais fortes que o comum. Isso não assusta?
Os investidores sabem que, seja qual for o resultado, o Brasil continuará sendo um mercado importante. Um estudo recente do Insper mostrou que, na média, os investimentos de private equity e venture capital no Brasil deram retorno de 2,6 vezes. Isso de 1994 a 2016, período repleto de crises. O que acontece hoje não é muito diferente do que já vimos antes.
Que áreas são mais atraentes?
Áreas que estão passando por mudanças estruturais no mundo todo, como educação, saúde, transporte e logística, são prioridades de todos. Nos últimos cinco anos, os fundos da Abvcap investiram R$ 22,3 bilhões em 140 empresas desses três setores e ajudaram a construir histórias de sucesso, como a Rede D'Or, Hermes Pardini, a Eleva Educação e 99, para citar algumas. As oportunidades são enormes. São setores com alto impacto social, e o capital privado tem um papel muito importante para desenvolvê-los. As fintechs são outro segmento em alta. E os fundos também podem ajudar a destravar a infraestrutura do País, o que criaria empregos e ajudaria na recuperação econômica. Para isso, será importante avançar no marco regulatório.
Tem sido um ano fraco em aberturas de capital. Por quê?
Houve uma atividade razoável de aberturas de capital ao longo de 2017, que diminuiu com a proximidade das eleições. De 2004 até hoje, 42% das empresas que abriram o capital tinham fundos de private equity como sócios. Nos últimos seis anos, o número cresceu para 65%. Segundo estudo da B3, as ações dessas empresas têm desempenho melhor que as outras. Os fundos ajudam as empresas a se preparar para o teste do mercado, criam a governança certa e têm estratégias focadas em crescimento. Há uma série de operações prontas para sair assim que o quadro político estiver claro e os preços de ativos mais alinhados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.