São Paulo ; A MasterClass, plataforma americana de conteúdo on-line que oferece cursos ministrados por celebridades, acaba de levantar US$ 80 milhões em sua quarta rodada de capital. A startup não quis revelar seu ;valuation;, mas já levantou US$ 136 milhões ; ou mais de meio bilhão de reais ; desde que foi fundada, em 2015.
A estratégia da empresa é interessante: ela tem atraído assinantes dispostos a pagar US$ 180 por ano para ter acesso a aulas exclusivas com grandes mestres de diversas áreas do conhecimento (as aulas avulsas custam US$ 90 cada).
Quer aprender sobre cinema? Martin Scorsese, o mito que dirigiu obras cultuadas como Taxi Driver e Touro Indomável, compartilha seus insights em 30 videoaulas. Está interessado em jornalismo investigativo? É com Bob (Watergate) Woodward que você descobrirá os meandros da profissão de repórter. O supercampeão Gary Kasparov, quase imbatível no xadrez, dá dicas do xeque-mate, e Annie Leibovitz, que clicou as maiores celebridades do planeta, ensina técnicas fotográficas.
O negócio da MasterClass é intensivo em capital: a companhia gasta com os cachês e investe em produções de alto nível. Segundo o Hollywood Reporter, os cachês são da ordem de US$ 100 mil, mais 30% de participação sobre a performance financeira dos vídeos.
A MasterClass atua num mercado que atraiu mais de US$ 8 bilhões em investimentos nos últimos cinco anos, mas cujo desempenho tem deixado a desejar. Segundo a Bloomberg, um estudo da Universidade da Pensilvânia mostrou que apenas 4% dos alunos que se inscrevem em cursos digitais assistem às aulas até o fim. Isso seria a prova de que a maioria dos cursos são apenas caça-níqueis, sem oferecer conteúdo de qualidade. Com nomes que, de fato, são referência em suas áreas de atuação, a MasterClass vai no caminho oposto.
Enquanto as grandes ;universidades digitais; brigam para oferecer quantidade em vez de qualidade, a estratégia da MasterClass tem uma vantagem clara: seus cursos são menos perecíveis. Em 10 anos, não importam as mudanças tecnológicas que apareçam pelo caminho, os ensinamentos de Scorsese provavelmente continuarão válidos e atraentes para muitas pessoas.
A qualidade do conteúdo e a notoriedade dos ;professores; também deslocam a MasterClass para o segmento de entretenimento: um conteúdo que concorre diretamente com o de empresas de streaming como Netflix. A MasterClass não revela números de assinantes, mas diz que suas receitas dobraram no último ano e que estão caminhando para dobrar novamente em 2018.
Em entrevista ao portal TechCrunch, o CEO David Rogier disse que a MasterClass está no caminho de alcançar as receitas das líderes em cursos digitais Udacity e Coursera. A primeira fatura na casa dos US$ 70 milhões, enquanto a Coursera estaria perto de movimentar US$ 100 milhões por ano, segundo o site.
;Estamos criando uma grande Biblioteca de Alexandria;, diz Rogier, referindo-se a um dos maiores centros de saber da Antiguidade. Ele diz que começou a desenvolver o projeto em 2012, com dinheiro emprestado por um professor que lhe dava aula em Stanford.
Esta quarta rodada da MasterClass (Série D) foi liderada pelo Institutional Venture Partners. Outros investidores incluem a Bloomberg Beta, o braço de venture capital da Bloomberg, a Javelin Ventures e a Atomico, que priorizam aportes em empresas com forte potencial financeiro.
O novo ciclo de investimentos vai ajudar a MasterClass a expandir o número de cursos de 39 para 50 até o fim do ano, além de preparar a expansão para o mercado internacional, oferecendo professores que são reconhecidos como unanimidades em seus países de origem.
Ao TechCrunch, Rogier diz que espera um dia conseguir atrair Elon Musk, o polêmico comandante da Tesla, Reid Hoffman, fundador do LinkedIn, e uma das mentes mais lúcidas dos Estados Unidos e autora da saga Harry Potter, J.K. Rowling.
- Os professores da MasterClass
; Martin Scorsese, cineasta que ganhou a Palma de Ouro em Cannes em 1976, com Taxi Driver
; Gary Kasparov, considerado o maior jogador de xadrez de todos os tempos
; Bob Woodward, jornalista americano, que, ao lado do colega Carl Bernstein, denunciou o escândalo Watergate
; Annie Leibovitz, fotógrafa conhecida pelos retratos de celebridades