O ataque ao candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, teve um efeito inusitado no mercado financeiro. Tão logo as notícias sobre o atentado apareceram nas telas dos computadores de corretoras e casas de investimento, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) entrou em forte trajetória de alta, e o dólar recuou. Na interpretação de analistas, o movimento não foi uma reação ;positiva; ao crime em si, mas à possibilidade de que o incidente diminua as chances de vitória de um candidato esquerdista no pleito.
Depois do ocorrido em Juiz de Fora (MG), o Ibovespa, principal índice da bolsa paulista mudou de curso e subiu, em uma hora, mais de 1.000 pontos, saindo de 75.363 para 76.533 pontos. No fim do pregão, o indicador marcava 76.416 pontos, com valorização de 1,76%. E o movimento não parou por aí. Depois do fechamento, o Ibovespa futuro chegou a disparar 4%.
Segundo economistas, o mercado está apreensivo com os recentes avanços de Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT) nas pesquisas de intenção de voto. Os investidores entendem que o país corre um risco econômico com a possível vitória desses candidatos na corrida eleitoral, pois a aplicação dos programas que defendem acarretaria alta da inflação e dos juros.
Os agentes econômicos entendem que o próximo presidente precisa ter compromisso com o controle dos gastos públicos e com a agenda de reformas. Bolsonaro não é uma unanimidade entre os investidores, mas é mais bem-visto do que os concorrentes da esquerda por defender posições liberais na economia, sob orientação de seu principal assessor para essa área, o economista Paulo Guedes.
Recuperação
O raciocínio do mercado, baseado na convicção de que Bolsonaro vá se recuperar para continuar a campanha, é que o atentado poderá gerar comoção dos eleitores que ainda estão indecisos, dando maior força ao candidato direitista. O economista-chefe da Spinelli Investimentos, André Perfeito, disse que, se o objetivo do ataque foi prejudicar a imagem do candidato, ;o tiro saiu pela culatra;. ;O incidente pode reforçar a própria retórica dele. O mercado não é unânime em relação a Bolsonaro, mas, no geral, o pensamento é: ;se não tem ninguém (que agrada), vai você mesmo;;, avaliou.Para o professor de economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Guilherme Macedo, o efeito do ataque pode ir além do aumento da popularidade do candidato do PSL. ;Agora, as chances crescem para os candidatos de centro e de direita, em especial Bolsonaro, que está na frente e foi vítima do incidente;, afirmou. ;O mercado parece esperar apenas candidatos de direita no segundo turno, o que, para os investidores, é um cenário favorável do ponto de vista da economia;, completou Macedo.
De acordo com o estrategista-financeiro da BlueMetrixs Investimentos, Renan Silva, o que antes era uma área favorável a Geraldo Alckmin, candidato pelo PSDB, pode ser ocupada por Bolsonaro. ;O mercado começa cada vez mais a perceber a relevância dele, que era deixado de lado pela inexperiência de gestão;, analisou. ;O incidente dá visibilidade no mercado de ações a ele, que adotou um discurso mais liberal até que o do próprio Alckmin;, ressaltou o estrategista.
O episódio, no entanto não deve trazer um momento de alta consecutiva nas ações, que continuarão sofrendo fortes variações no período eleitoral. ;As projeções são de que a B3 suba e caia com grande frequência. O mercado estará à mercê desse período de campanha;, destacou Macedo.
Desdobramentos
O economista-chefe de um banco, que preferiu não se identificar, disse que cresceu a expectativa de que Bolsonaro seja adotado como o ;candidato do mercado;, já que Alckmin demonstra pouca força nas pesquisas. ;A primeira reação dos investidores a notícias impactantes é baseada muito no instinto. Agora, eles vão sentar e discutir a situação, enquanto acompanham os desdobramentos. A Bolsa só reabre na segunda-feira (já que hoje é feriado no país). Tudo será levado em consideração: se ele estará fora da disputa, qual a gravidade e quem poderá substitui-lo;, afirmou o economista.Ontem, no ambiente incerto das primeiras notícias sobre o indicente de Juiz de Fora, o dólar caiu 0,95%, cotado a R$ 4,10 na ponta de venda. A moeda norte-americana sofreu influência do atentado, mas também foi impactada pelo cenário externo mais tranquilo. O risco Brasil medido pelos Credit Default Swaps (CDS), uma espécie de seguro contra calotes, caiu 5,2%, fechando aos 15.430 pontos. Os juros futuros nos contratos com vencimento em janeiro de 2021 registraram queda de 10,10% para 9,92%, enquanto as negociações para 2023 saíram de 11,77% para 11,58%.
Estrangeiros saem
Os investidores estrangeiros retiraram R$ 342,776 milhões da bolsa no último dia 4. Naquela terça-feira, o Ibovespa fechou em queda de 1,94%, aos 74.711,80 pontos, movimentando R$ 8,3 bilhões. Em setembro, em dois dias de pregão, o volume de retiradas soma R$ 378,836 milhões, resultado de compras totais de R$ 3,775 bilhões e vendas de R$ 4,154 bilhões. Em 2018, o saldo segue negativo em R$ 3,367 bilhões.* Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo