Jornal Correio Braziliense

Economia

'É indesejável indicação política nas agências', diz ex-diretor da Aneel

Sobre sua proximidade com a ex-presidente Dilma Rousseff, que o conduziu à direção da agência, diz ser motivo de orgulho ter tido reconhecimento profissional por parte dela


Depois de 21 anos de Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino deixou, nessa terça-feira (14/8), o cargo que assumiu em 2013, de diretor-geral da agência reguladora. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, ele classifica como "indesejável" a eventual instituição de "viés político" na agência. Sobre sua proximidade com a ex-presidente Dilma Rousseff, que o conduziu à direção da agência, diz ser motivo de orgulho ter tido reconhecimento profissional por parte dela. "Mas nem ela nem eu passamos um milímetro do ponto da autonomia e respeito institucional." A seguir, trechos da entrevista.

O sr. sempre teve o nome associado à ex-presidente Dilma Rousseff, a quem são atribuídos os problemas do setor. O sr. concorda com isso?

Primeiro, não tenho nenhum problema, muito pelo contrário, de atribuir essa vinculação do meu nome à ex-presidente Dilma Rousseff. Não tenho atuação ou vinculação política. Minha origem e estágio atual é pela minha condição profissional e pelos méritos técnicos. Como ministra de Minas e Energia, e eu como superintendente da Aneel, acabou reconhecendo meu trabalho e meu potencial. Mas nem ela nem eu passamos um milímetro do ponto da autonomia e respeito institucional. Evidentemente com isso não estou dizendo que concordo e aprovo tudo o que foi feito. Mas é evidente que também não é justo e correto atribuir à presidente toda a responsabilidade pela MP 579/2012 (que antecipou a renovação das concessões de energia elétrica). Ela foi convertida em lei e o Congresso teve a oportunidade de analisar a matéria encaminhada na forma de medida provisória e poderia modificá-la ou rejeitá-la.

O governo Temer, mesmo de saída, indicará este ano todos os cinco diretores da Aneel. Isso prejudica a agência?

A coincidência do vencimento de mandatos é ruim. As agências foram concebidas para que não haja essa coincidência. A ideia de agência reguladora de Estado é que haja uma continuidade, uma estabilidade de regras e procedimentos. Nesse sentido, a concepção inicial da Aneel e das demais agências era que houvesse alternância e que, a cada ano, de preferência, vencesse o mandato de um diretor. Em relação às indicações políticas, é indesejável. É evidente que não estou questionando a legitimidade. Agora, o que se espera é que, sendo feita a indicação daquele profissional, que ele seja sabatinado, analisado e aprovado nos requisitos que tem de atender. Não é desejável uma apropriação do viés político. O projeto de lei que está em tramitação procura tornar mais robustos os critérios de escolha e seleção desses candidatos a diretor de agência. Esse processo não pode ser essencialmente político. Tem de ser técnico e profissional.

Qual o peso das indicações políticas na aprovação dos candidatos para as agências?

Hoje, na forma como está o processo decisório e político do governo de modo geral, de fato o Congresso tem força e preponderância nas decisões. Não estou dizendo que isso não seja legítimo, mas no modelo presidencialista que temos, era de se imaginar que o Poder Executivo tivesse uma posição mais forte e decisiva nesse processo. Eu, sinceramente, acho que essa lógica de ter representação política do Estado A ou B, do partido ou cacique político X ou Y, não faz muito sentido. O candidato a diretor tem de ter viabilidade política, porque tem um processo político que acaba acontecendo, mas acho que deveria haver critérios menos políticos e mais técnicos para essa avaliação.

O sr. concorda que as tarifas de energia estão muito altas?

Certamente, não nos conforta ter a tarifa no patamar que está, muito menos no nível de reajuste que temos praticado nos últimos tempos, mas a Aneel, na hora de fazer o processo tarifário, tem de conformar o processo respeitando o arcabouço legal, regulatório e contratual existentes. Então, na hora em que está se tomando uma decisão de política do setor elétrico, é importante a Aneel contribuir. Não é a tarifa baixa a qualquer custo, não é a menor tarifa, é a tarifa módica, a tarifa justa. Se fazemos escolhas em um determinado momento, certamente isso vai repercutir, no momento seguinte, nas tarifas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.