Com a grave crise econômica e 13 milhões de desempregados, estados e Distrito Federal têm dependido cada vez mais da massa de salários do setor público. Não fossem os rendimentos de servidores, economias que já estão no atoleiro entrariam com tudo na recessão.
Levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC), feito a pedido do Correio, mostra que a participação dos rendimentos dos servidores na massa salarial no Brasil chegou a 31,8% em 2016. No Distrito Federal, no entanto, essa relação é mais do que o dobro: 66,4%.
Isso quer dizer que, de cada R$ 100 em salários pagos na capital da República, R$ 66,40 vêm das administrações federal e distrital. Não por acaso, os servidores têm forte influência política e são considerados estratégicos para qualquer político que deseje chegar ao poder.
Em alguns estados do Norte, a dependência do contracheque do funcionalismo é ainda maior, sobretudo nos ex-territórios. Em Roraima, os servidores respondem por 73,6% de todos os salários. No Amapá, chegam a 73,3%. Isso quer que dizer que, sem a administração pública como empregadora, essas unidades da Federação ficariam inviabilizadas.
O mesmo se pode dizer do Acre, onde os servidores recebem 64,6% de todos os salários. No Tocantins, essa relação é de 58,8%; em Rondônia, de 53,6%; e, no Amazonas, de 47%. Na avaliação do economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, os dados mostram o tamanho do peso do Estado na economia.
Bentes ressalta que o melhor seria a iniciativa privada mover a economia. E acrescenta que, por causa da enorme dependência da renda dos servidores, nos estados em crise fiscal, como o Rio de Janeiro, a produção e o consumo sofrem ainda mais.
No Rio, a participação dos estatutários na massa salarial é de 30,9%, e no Rio Grande do Sul, de 27,2%. Como os salários dos servidores ativos e inativos passaram a atrasar, por causa do desequilíbrio nas contas públicas, o desarranjo da economia aumentou. Sem a renda dos servidores, o setor privado fechou vagas, agravando o desemprego.
Bentes explica que esse é o pior dos cenários para o comércio e para outros setores da economia. ;A maior parte da massa de recursos dos servidores poderia dar fôlego às vendas do varejo nesses estados, mas, como passam por crises severas, a posição dos consumidores é de extrema cautela. Só compram o que é necessário;, afirma.
O estado com menor participação dos salários de servidores na massa salarial é São Paulo, com 17,5%, seguido de Santa Catarina, com 25,4%. As duas unidades da Federação, além de terem uma indústria e um setor de serviços fortes, são beneficiadas pela pujança do agronegócio.
Estabilidade
Mesmo com as restrições orçamentárias do governo federal, dos estados e dos municípios, milhares de brasileiros ainda preferem fazer concurso público a buscar oportunidade em empresas privadas. O estudante de direito Hudson Evangelista, 25 anos, ganha bolsa de R$ 800 em um estágio no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e já decidiu que não pretende advogar quando se formar. Vai se dedicar à busca por uma vaga na carreira policial.
Evangelista conta que a mãe e o pai são auxiliares de serviços gerais, com remuneração de um salário mínimo. ;Minha bolsa de estágio é maior do que o salário líquido de cada um dos meus pais. Eles que me encorajam a estudar para ter uma vida melhor. Como não tiveram oportunidade de estar em sala de aula, têm uma vida mais difícil. Eu me inspiro neles para buscar uma vaga no serviço público;, conta.
Na avaliação do administrador Ricardo Rocha, professor de finanças do Insper, a crise trouxe novos desafios para o país e mostrou que tanto a administração pública quanto o setor privado foram fortemente afetados. Esses problemas só devem ser equacionados por meio do reequilíbrio das contas públicas, que favorecerá a retomada dos investimentos, o que contribuirá para geração de emprego e renda.
73,6%
Participação dos rendimentos dos servidores públicos de Roraima na massa salarial do estado
17,5%
Participação do funcionalismo na renda em São Paulo é a menor do país