Sem ter clareza sobre quem comandará o país a partir de janeiro de 2019, empresários temem que a agenda de reformas necessárias para reequilibrar as contas públicas seja abandonada. Diante das perspectivas negativas, o Ministério da Fazenda revisará a estimativa de crescimento em 2018 para 1,5%, percentual próximo à mediana das expectativas de mercado. A nova projeção será apresentada no Relatório Bimestral de Receitas e Despesas, que será divulgado até 27 de julho. A última previsão era de 2,5%. A redução acompanhará movimento já feito pelo Banco Central (BC), que passou a prever uma alta de 1,6% do PIB.
Ainda ontem, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou relatório em que reduz de 2,3% para 1,8% a estimativa de crescimento do Brasil neste ano. O cenário deve ficar mais claro após a divulgação dos resultados do comércio e do setor de serviços em maio. Os dados serão publicados hoje e amanhã, respectivamente, pelo IBGE. As estimativas do mercado apontam para retração de 3,2% no volume de vendas do comércio e para queda de 4% no setor de serviços.
O diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, lembrou que, apesar de a queda de 10,9% na produção industrial de maio ter sido menor que a esperada pelo mercado, os indicadores antecedentes de junho mostram que a recuperação após a paralisação está lenta, possivelmente devido à Copa do Mundo.
;Em maio, o setor mais afetado foi a produção de bens duráveis, especialmente veículos. Diante disso, projetamos retração de 0,3% do PIB no 2; trimestre. Como já temos alertado, parte das perdas desse período é irrecuperável, e o impacto sobre a confiança pode limitar a recuperação da atividade nos meses à frente;, detalhou Barbosa. Nas contas dele, a economia registrará um tímido crescimento de 1,5% em 2018. Em junho, observou, a confiança de empresários e consumidores continuou em queda, segundo diversos indicadores.
Incertezas
A falta de clareza sobre o cenário eleitoral continuará a pressionar o nível de atividade e afetará, sobretudo, os investimentos, avaliou o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes. De acordo com ele, o PIB terá alta de 1,6% em 2018, mas o resultado pode piorar diante dos efeitos da greve dos caminhoneiros, da redução da confiança e da paralisia de empresários e investidores.Bentes estima retração de 4% do volume de vendas do comércio em maio e resultado também negativo no setor de serviços. Segundo o economista, todo esse processo afetou o consumo das famílias, que deve crescer 2% no ano, ante previsão anterior de 2,7%. ;O governo tenta alavancar o consumo com a liberação de saques do PIS e do Pasep, mas esse empurrão deve favorecer o PIB do terceiro trimestre;, detalhou.
O consumo das famílias, lembrou Bentes, continuará a favorecer o crescimento econômico, mas em menor intensidade. Mas, com a incerteza eleitoral, empresários e consumidores tendem a adiar as decisões de investimentos e de compras a longo prazo. ;Não houve uma evolução de candidatos mais comprometidos com reformas. Por isso, há tanta incerteza;, disse.
A desaceleração do ritmo da atividade econômica começou ainda no primeiro trimestre, avaliou o economista-chefe da Quantias Asset, Ivo Chermont. A expectativa do mercado era de crescimento de até 3% em 2018, mas o resultado do início do ano foi frustrante. ;Em seguida, tivemos um choque forte, com a greve dos caminhoneiros. Há retomada de parte da atividade, mas outra se perdeu. Além disso, temos uma combinação de cenário externo volátil, dólar caro e cenário político incerto. Somando tudo isso, temos menor confiança;, destacou.
Nas contas de Chermont, a economia terá uma retração de 0,2% no terceiro trimestre e terminará o ano com alta de 1,3%. Conforme ele, esses dados podem ser revisados a partir do momento em que houver mais clareza do impacto da paralisação dos caminhoneiros na atividade. ;Os dados antes da greve mostravam uma melhora do ambiente, mas, agora, precisamos ter mais cautela ao fazer uma avaliação. Ficou mais difícil entender a dinâmica da economia brasileira, já que o choque foi muito forte. A impressão é de que, se não tivesse ocorrido a paralisação, o país poderia crescer perto de 2%;, comentou.