Jornal Correio Braziliense

Economia

Trabalhador que colhe frutas no Brasil ganha menos que 5% do valor de venda

Enquanto isso, grandes redes de países ricos, para onde os produtos são exportados, ficam com 50% do valor pago pelo consumidor, aponta estudo da Oxfam

Segundo pesquisa da Oxfam, grandes redes de supermercados nos Estados Unidos e na Europa detêm até 50% do valor de cada fruta vendida em sua gôndola, enquanto o trabalhador rural que a colheu no Brasil, por exemplo, fica com menos de 5% dessa quantia. O estudo também revela que o modelo de negócio adotado nessas regiões contribui para o sofrimento humano de milhões de trabalhadores rurais e pequenos e médios agricultores no mundo.

O levantamento faz parte da nova campanha global da organização internacional de combate à pobreza, que visa a mudanças na distribuição de ganhos do segmento. Segundo o estudo, os gigantes varejistas poderiam atuar decisivamente para mudar a situação de pobreza extrema de milhões de pessoas no mundo.

"O setor privado tem o potencial para evitar o trabalho degradante de homens e mulheres no campo", afirma Kátia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil. "Em muitos casos, devolver 1% ou 2% do preço do varejo poderia mudar a vida de milhares de pessoas que hoje produzem nosso alimento", acrescentou a diretora.

No Brasil, um dos principais exportadores de laranja do mundo, o valor pago a pequenos produtores e trabalhadores rurais chega a 4% do valor final da venda. Segundo o assessor de políticas da Oxfam, Gustavo Ferroni, o grande problema no país é a falta de intervenção do Estado. "O governo não intervém. De acordo com nossa pesquisa, países em que existe uma intervenção governamental, como Marrocos, Equador, Peru e Vietnã, garantem uma renda de até 50% do PIB per capita para esses trabalhadores", destaca.

No entanto, de acordo com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), mesmo que os preços do varejo sejam mais elevados do que os observados na roça, não se trata de dar maior ou menor valor para o varejo ou para o produtor. "Apesar de as frutas e hortaliças comercializadas na forma in natura apresentarem o mínimo de processamento desde o nível de produção até chegar às mesas das famílias, há diversos serviços adicionados nesse processo, que implicam em custos de comercialização para a cadeia;, afirma a instituição.

Para Ferroni, entretanto, ainda faltam políticas voltadas para o trabalhador rural. "O que a gente pede é que eles tenham mais transparência, que repensem a política de compras e considerem critérios como a renda mínima", defende. "O governo também pode agir criando legislações para evitar cartel, monopólio e fiscalização eficiente", destaca.
* Estagiária sob supervisão de Humberto Rezende