Jornal Correio Braziliense

Economia

Economia cresce 0,4% no primeiro trimestre de 2018

No segundo trimestre do ano, a crise dos caminhoneiros vai afetar o desempenho de vários setores, afirma coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis

Rio de Janeiro - ; A economia brasileira ainda patina e o crescimento de 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2018 mostra que a recuperação do país continua lenta, embora gradual. Os dados da série com ajuste sazonal foram divulgados nesta quarta-feira (30/05) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que revisou os números dos trimestres anteriores.

A alta de 0,4% é o quinto resultado positivo após oito quedas consecutivas na comparação com o trimestre imediatamente anterior. Para o segundo trimestre do ano, contudo, os dados da economia devem sentir os impactos da greve dos caminhoneiros.
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[SAIBAMAIS]Segundo Rebeca Palis, coordenadora das Contas Nacionais do IBGE, o instituto ainda não tem nenhuma pesquisa porque o país ainda está no meio da turbulência. ;Obviamente, os efeitos da crise serão sentidos em todos os indicadores, desde preços até o PIB. O comércio terá impacto. Alguns setores tiveram paralisação de produção. O segmento de perecíveis serão bastante afetados, assim como o de transporte de cargas. Com efeito cadeia;, explicou. ;Mas ainda não temos como mensurar isso;, acrescentou.

Nos três primeiros meses do ano em relação ao quarto trimestre de 2017, a agropecuária cresceu 1,4%, enquanto indústria e serviços tiveram variação positiva de 0,1%. Em valores correntes, o PIB totalizou R$ 1,6 trilhão e voltou ao patamar do primeiro semestre de 2011. ;Voltamos a patamares pré-crise;, disse Rebeca. O último dado positivo antes da recessão foi o quarto trimestre de 2014. ;Depois daí, só tivemos queda até o primeiro trimestre de 2017, quando começamos a ter taxas positivas novamente. Estamos com índices baixos, mas positivos;, ressaltou.

O ritmo da economia vem subindo numa média de 0,4%, aponta o IBGE, que revisou dados divulgados anteriormente. No primeiro trimestre do 2017, o crescimento do PIB anunciado foi de 1,3%, revisado agora para 1,1%. No segundo trimestre do ano passado, não houve alteração e permaneceu com alta de 0,6%. Já nos últimos trimestres do ano passado, a revisão apontou melhora: passou de 0,2% para 0,3% no terceiro trimestre e de 0,1% para 0,2% no último.

;No primeiro trimestre de 2017, foi uma alta maior, de 1,1%, porque a base de 2016 era deprimida e a comparação é com o trimestre imediatamente anterior. Depois disso, as taxas se acomodam e não têm altas tão significativas quanto a da virada;, detalhou Rebeca Palis.

Força do campo

O campo continua mostrando sua força. De acordo com Claudia Dionísio, gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, pela ótica da produção, a agropecuária favoreceu bastante a alta do PIB no primeiro trimestre de 2018, apesar da sazonalidade. ;Estamos comparando um primeiro trimestre com colheita da soja ante a colheita da cana do último trimestre do ano passado, que teve queda de 10% na produção;, afirmou. No ano passado, as safras foram recordes para várias culturas. ;Este ano, temos perda de produtividade. A soja não está caindo, cresce 0,5%, só que a área plantada aumentou;, destacou.

Pela ótica da despesa, o consumo das famílias e o investimento puxaram a alta de 0,4%, com contribuições de 0,5% e 0,6% respectivamente. ;A energia teve um peso significativo porque ficou mais barata no primeiro trimestre ante o último trimestre de 2017, que estava com bandeira vermelha;, justificou Claudia.

Do lado negativo, o setor de telecomunicações puxou a queda de 1,2% do segmento informação e comunicação. ;Era um setor que crescia muito, junto com o financeiro. Os dois se seguraram durante o auge da crise. Agora, estão caindo mais. É como se tivesse um atraso;, esclareceu Rebeca, coordenadora do IBGE.

A construção civil, que apresenta dados negativos há 16 trimestres seguidos, caiu 0,6% na comparação com o último trimestre de 2017. O setor está sentindo também a queda do gasto do governo, de 0,4%. ;Há uma parte relevante do investimento público na construção e é a primeira coisa que é cortada por conta da restrição orçamentária por parte das três esferas de governo;, destacou. Outra contribuição negativa foi o comércio exterior, segundo Claudia, porque as importações (2,5%) cresceram mais do que as exportações (1,3%).

Comparação anual

Nos dados comparativos com o mesmo trimestre do ano anterior, o PIB teve alta de 1,2% Pela ótica da produção, a agropecuária caiu 2,6%, a indústria cresceu 1,6% e os serviços tiveram alta de 1,5%. Claudia ressaltou que o crescimento do PIB teve alta colaboração dos impostos porque, enquanto o valor adicionado subiu 0,9%, os tributos cresceram 2,9%.

;Para chegar no preço do consumidor final, o imposto é pesado. A indústria de transformação, que tem mais impostos embutidos que os serviços, teve alta de 4%. Ali tem IPI (Imposto sobre Produtos Importados) e ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Como são impostos líquidos sobre produtos e consumo, houve um crescimento acima da média da economia;, argumentou.

Pela ótica da despesa, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que representa os investimentos, teve o segundo trimestre de alta consecutiva, de 3,5%. E o consumo das famílias cresceu 2,8%. ;Para avaliar este desempenho é preciso ver o conjunto macroeconômico. No primeiro trimestre, a inflação está bem mais baixa e os juros, menores;, explicou a gerente do IBGE. ;Se for olhar pelo indicador de renda e emprego, isso ainda é ruim. Mas as operações de crédito estão positivas, as famílias se endividaram para comprar bens de consumo, que foram os que mais cresceram. Se tivesse emprego e renda, esse indicador de 2,8% seria muito maior;, acrescentou.

Outro fator que contribuiu, segundo Claudia, foi a Páscoa. ;Este ano, o feriado caiu no primeiro trimestre, enquanto, no ano passado, foi em abril. Isso afeta o segmento de supermercados, que ficou mais aquecido;, justificou. O setor que mais cresceu foi justamente o comércio, tanto atacadista quanto varejista, com alta de 4,5%, reflexo do aumento do consumo das famílias. ;A indústria de bens de capitais e de bens de consumo duráveis também contribuíram para o desempenho e são setores intensivos em pagamentos de impostos;, lembrou a coordenadora de Contas Nacionais, Rebeca Palis.

Nesse comparativo entre primeiro trimestre de 2018 e mesmo período de 2017, a agropecuária teve uma queda de 2,6%. ;Houve perda de produtividade da soja, a quantidade produzida cresceu 0,6%, mas a área aumentou 2,6%. Também houve perda de produtividade em todas as principais culturas que com impacto no primeiro trimestre do ano: milho (-13%); arroz (-6,8%) e fumo (-5,8). ;O arroz perdeu 57% da colheita, e o milho, um terço;, disse Claudia.

Na taxa acumulada dos últimos quatro trimestres, o crescimento do PIB foi de 1,3%. ;Se o ano acabasse hoje, a agropecuária teria alta de 6,1%;, comentou a gerente do IBGE. Tanto a demanda doméstica quanto a externa foram positivas nessa comparação. Até as exportações, com alta de 6,2%, foram superiores às importações, de 4,6%.