São Paulo ; Apesar de ainda ser impossível uma conta final sobre os prejuízos causados pela paralisação dos caminhoneiros, o agronegócio é uma das pontas mais frágeis à ação que há 10 dias interrompe a distribuição de matérias-primas e produtos acabados no país.
Levantamento feito pela Agroconsult mapeou o grau de gravidade dos principais produtos da pauta brasileira do agronegócio. As atividades que mais vão sentir os impactos da greve são aquelas ligadas à produção de aves, suínos, boi e leite, além da cana-de-açúcar. Elas foram classificadas pela consultoria como graves.
A primeira safra do milho deverá ser a menos impactada pela greve. Já a segunda safra do milho, a soja, o algodão e a produção de fertilizantes deverão sofrer impacto moderado. Em uma situação um pouco menos delicada, classificadas como elevadas, estão as atividades do trigo, café e laranja.
[SAIBAMAIS]Segundo o relatório, o principal efeito da ação dos caminhoneiros na soja é a impossibilidade de entregar a produção nos portos. Como a colheita foi concluída no início de maio, a falta de diesel não impactou na safra. As exportações foram garantidas temporariamente graças à carga que já estava estocada nos portos. Mas a situação pode piorar. Isso porque, segundo a Agroconsult, cerca de 400 mil toneladas terão dificuldades de ser levadas aos navios a cada dia que a greve se prorrogar. Antes da greve, a projeção era de que os embarques em junho e julho ficassem muito próximos do recorde para o período. ;Se parte das exportações tiver de ser postergada, aumentará a competição com o milho nos canais logísticos de agosto em diante;, aponta o levantamento.
No caso da primeira safra do milho, como 95% da colheita foi feita e está armazenada, o impacto mais significativo pode ser sentido na Bahia e no Maranhão, onde cerca de 50% da área ainda não foi colhida. Já o plantio da safra 2018/19 no Sul do Brasil começa apenas em agosto, o que reduz bastante o risco de impacto da greve dos últimos dias. Para o milho da segunda safra, ou safrinha, no entanto, se a paralisação durar mais tempo e comprometer tanto a colheita quanto o escoamento, o impacto pode ser mais relevante. Por outro lado, deve haver uma queda na demanda doméstica do grão por conta da morte de aves e suínos, vítimas da falta de alimento.
O algodão deverá começar a ser colhido em junho em Mato Grosso e na Bahia. Caso o abastecimento de diesel continue comprometido, esse início poderá sofrer problemas. Protelar a colheita não chega a ser um problema em termos agronômicos, mas pode atrapalhar a vida do produtor que tem de cumprir contratos com as trandings e as indústrias.
A cana-de-açúcar pode sentir fortemente os efeitos da greve. Isso porque o Centro-Sul está no começo da colheita. Até agora, as usinas moeram de 10% a 15% da cana esperada para a safra. Metade do setor parou as atividades por conta da falta de diesel. Além disso, há problemas para escoar o etanol. Sem poder vender para o mercado interno ou exportar, as usinas poderão ter problemas de caixa. Existe ainda o risco de medidas anunciadas pelo governo para o diesel, com o controle de preços e a redução de tributos, atingir também a gasolina nas refinarias, o que ameaçaria a competitividade do etanol.
O trigo também pode sofrer alto impacto com os protestos. As lavouras estão em fase de plantio. Sem diesel, a área plantada pode ser reduzida. Da mesma forma, o café está sob risco elevado, que pode chegar ao nível grave. A colheita deve começar em breve em Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Espírito Santo. Os cafezais estão carregados, e a colheita é feita quase toda de forma manual. Mas sem diesel, o transporte tanto da mão de obra quanto da produção fica comprometido.
Problema semelhante enfrenta a laranja, tanto no transporte mão-de-obra até os pomares quanto para levar a produção até as indústrias. As exportações de suco de laranja já sofrem queda.
Para a Agroconsult, toda a cadeia de proteína animal deve enfrentar dificuldades. O número de animais sacrificados é grande, o que levou à paralisação de 167 unidades de abate e de processamento de carnes. Um dado alarmante é que a recuperação do ciclo de produção pode levar até seis meses para os suínos e quase dois meses para as aves.