Jornal Correio Braziliense

Economia

Caminhoneiros que tentam voltar ao trabalho são hostilizados

Uma das maiores empresas de carga do País relatou que houve 'atitudes impeditivas' de alguns manifestantes, com agressões físicas e depredação de caminhões aos que queriam seguir viagem



No oitavo dia de paralisação - e um dia após o governo ceder e garantir uma queda de R$ 0,46 no preço do diesel por 60 dias -, o jornal O Estado de S. Paulo ouviu relatos de empresas de transporte, distribuidoras de combustível e de caminhoneiros afirmando que grevistas que querem voltar ao trabalho estão sendo hostilizados por alguns grupos que querem manter a manifestação.

Uma das maiores empresas de carga do País relatou à reportagem que houve "atitudes impeditivas" de alguns manifestantes, com agressões físicas e depredação de caminhões aos que queriam seguir viagem. Embora a orientação aos funcionários seja a da retomada das entregas, a estratégia só deve ser adotada sem que os colaboradores se exponham a riscos, de acordo com a companhia

Duas das maiores distribuidoras de combustíveis do País disseram ter sofrido situações semelhantes. As empresas disseram ao jornal O Estado de São Paulo que somente cargas destinadas a hospitais e empresas de transporte público estavam sendo liberadas. As companhias, que têm atuação nacional, afirmaram que o transporte de cargas está perto de ser normalizado nas regiões Norte e Nordeste, embora considerem que a situação continua "crítica" em São Paulo e no Rio.

Mesmo os desbloqueios determinados judicialmente estão sendo cumpridos com dificuldade. Com duas empresas de combustíveis como clientes, o escritório de advocacia paulistano Mattos Filho mobilizou dois sócios, uma equipe de 30 advogados e uma rede de profissionais em todo o País para preparar liminares que exigem a desobstrução de vias e rotas para liberar o acesso aos terminais dos clientes.

Desde quinta-feira (24/5), o escritório ingressou com 70 ações. Entre os argumentos estão abuso do direito de greve e direito ao exercício de atividade econômica. "A dificuldade no cumprimento das ordens judiciais tem obrigado a adoção de medidas mais efetivas, inclusive com o apoio de forças de segurança", diz Fábio Ozi, sócio do Mattos Filho.

Em um bairro da capital paulista, foi necessário chamar a tropa de choque para dispersar manifestantes. Nos arredores da refinaria de Paulínia (SP), onde o movimento havia se esvaziado após ação do Exército, os manifestantes voltaram. "A paralisação não arrefeceu e está claro que estamos lidando com um movimento acéfalo."

Uma distribuidora de gás de Rio Claro (SP) tentou tirar um caminhão carregado de um dos bloqueios próximos à cidade, mas o veículo foi impedido de deixar o local num primeiro momento. Diante da insistência da população da região em comprar o gás embarcado, as lideranças permitiram que o veículo saísse do bloqueio desde que o produto não fosse distribuído. A situação foi resolvida com um "meio-termo": o caminhão foi estacionado no galpão de uma empresa.

Sem escolha

No bloqueio da Régis Bittencourt, na Grande São Paulo, vários motoristas que querem seguir viagem disseram temer represálias. Para o caminhoneiro Marinaldo de Santana, que desde sexta-feira (25/5), está com o caminhão-baú estacionado na altura da cidade de Embu das Artes, as informações sobre o movimento estão confusas.

Funcionário de uma fabricante de pães, ele conta que há seis caminhões presos da companhia nos bloqueios. Santana contou que a informação no local era de que as cargas seria liberados domingo pela manhã. Mas, até agora, ninguém saiu. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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