São Paulo ; O celebrado instituto de alta gastronomia francesa Le Cordon Bleu abre as portas no Brasil com duas operações distintas, em São Paulo e no Rio de Janeiro. A operação paulista é uma joint venture com a Ânima Educação, um dos maiores grupos de ensino superior privado do país, enquanto no Rio ela é resultado de um acordo com o governo do estado.
Em São Paulo, o projeto nasceu por insistência do CEO da Ânima, Daniel Castanho. O namoro começou há sete anos, quando um chef-reitor do Le Cordon Bleu veio para um evento no restaurante Chef Rouge, na capital paulista. Castanho aproveitou a oportunidade para fazer uma proposta. No início, os franceses só queriam licenciar a marca, mas acabaram convencidos a colocar dinheiro no negócio. O investimento final não foi revelado, mas estima-se que tenha ultrapassado a previsão inicial de US$ 2 milhões.
Um programa de bolsas de estudos está sendo desenhado pela Ânima e deve envolver algum tipo de competição culinária. ;Queremos que pessoas de todas as regiões do Brasil estudem aqui e que depois voltem para os seus estados e abram grandes restaurantes;, diz Castanho.
A operação do Rio começou com um convite do ex-governador Sérgio Cabral, hoje preso. A ideia era lançar o projeto antes da Copa de 2014, mas ele acabou sendo adiado. O estado do Rio cedeu o prédio, na Rua da Passagem, em Botafogo, com a condição de que fosse criada uma escola técnica e mais acessível, com 20% de bolsas para alunos da escola pública. O projeto inicial foi avaliado em R$ 4 milhões, mas acabou custando quase R$ 18 milhões. Desse montante, R$ 10 milhões foram investidos pelos franceses e R$ 8 milhões vieram de recursos públicos
O preço salgado dos cursos (R$ 24,8 mil o módulo básico com 11 semanas e período integral) não parece ser um impedimento para o sucesso da empreitada. As duas primeiras turmas em São Paulo começam em 21 de maio com todas as vagas preenchidas. O curso completo, chamado Grand Diplôme, que inclui os três módulos (básico, intermediário e avançado) sai por R$ 141,6 mil e pode ser feito em nove ou 18 meses. O corpo docente é internacional, e as aulas são ministradas em inglês, com tradução simultânea.
Os cursos do Rio e de São Paulo seguem o currículo global do instituto, mas há projetos específicos para o mercado brasileiro. Um deles é o CordonTec, curso técnico de graduação com duração de dois anos. O formato é exclusivo para o Brasil e terá ;mensalidades compatíveis com o mercado;, segundo a diretora da operação no país, Sofia Mesquita. ;Não fechamos o valor, mas deve ficar na faixa de R$ 2 mil por mês;, diz. O curso ainda está em fase de registro no MEC, mas a ideia é lançá-lo logo.
A operação brasileira chega com 20 anos de atraso. No final dos anos 90, o Le Cordon Bleu se voltou para a América Latina, origem de muitos de seus alunos, ao abrir a operação no Peru e no México. No Brasil, o negócio emperrou. ;Era impossível fazer parceria com uma universidade pública;, diz André Cointreau, presidente do Le Cordon Bleu, que veio para a inauguração da operação paulista. ;Havia um ministro da educação muito elegante, que falava francês (Paulo Renato Souza), e que queria fazer a parceria com a Universidade de Brasília. Mas não foi adiante por questões de regras e regulações.;
O Le Cordon Bleu foi fundado em 1895 por Marthe Distel, editora de uma revista de gastronomia que oferecia cursos com chefs renomados. Hoje é um dos dois mais importantes formadores de chefs do mundo, com 35 institutos em 20 países, 20 mil alunos por ano.
O instituto passou por uma virada em 1984, quando André Cointreau, herdeiro direto dos fundadores das bebidas Cointreau e Rémy Martin, assumiu o comando. ;Marthe Distel já tinha essas ideias de internacionalização e de prestar um serviço de excelência para atender as demandas da indústria;, diz Cointreau, minimizando seu papel no crescimento da empresa. ;Não encaro o Le Cordon Bleu como um negócio, mas como um instituto de ensino. Claro que temos que ter um modelo de negócios. Mas não quero apresentar resultados a cada trimestre.;
O sucesso do instituto, diz ele, deve ser medido pela quantidade de estrelas que os ex-alunos exibem na porta de seus restaurantes. Não à toa, o marketing tem papel fundamental na estratégia da marca. O instituto é o atual patrocinador global do programa Master Chef.