Jornal Correio Braziliense

Economia

Opinião: Atrasados para o futuro

A revolução é ambiciosa, ampla e não poupa ninguém

Ainda adolescente, li um livro-manifesto que muito me impressionou: O direito à preguiça, de Paul Lafargue. Na obra, publicada no fim do século 19, o anarquista, genro de Karl Marx, antevia o futuro. Defendia que a automação do processo produtivo, consequência da revolução industrial, levaria à melhoria da qualidade de vida da humanidade e, consequentemente, à redução da jornada de trabalho. Muito antes de Domenico De Masi falar em ócio criativo, ele já celebrava as virtudes do tempo livre para as pessoas. Neste início do século 21, a discussão começa a ser retomada. Desta vez, porém, deriva da revolução tecnológica e do acelerado avanço da inteligência artificial.


A grande diferença, agora, é que até bilionários, como Warren Buffett, começam a se convencer de que, num futuro não muito distante, todos os cidadãos do planeta terão de receber uma renda básica, capaz de permitir que vivam modestamente, mesmo sem precisar fazer nada em troca. Sim, é isso mesmo! E um dos motivos é que o trabalho, tal qual o conhecemos hoje, está em processo de extinção. Muitas das funções que homens e mulheres desempenham serão assumidas por robôs, aplicativos e outros inventos. Imagine arquitetos e engenheiros competindo com softwares capazes de elaborar projetos de construção de ponte e viadutos em segundos, conforme o gosto do freguês. Essa tecnologia já existe.


Resumindo: tarefas, projetos e pesquisas que seres humanos levariam meses ou até anos para concluir, máquinas inteligentes farão em instantes. Já pensou como ficará o transporte público? Pelo pouco que se vê hoje, já é possível vislumbrar que não haverá necessidade de motoristas de carros nem pilotos de aviões, metrô ou trens. Tampouco marinheiros conduzindo navios. E o que acontecerá às empresas de seguro e bancos quando todas as transações financeiras começarem a ser feitas por blockchains, um mecanismo praticamente imune a fraudes?


A revolução é ambiciosa, ampla e não poupa ninguém. Supermercados, lojas etc., como já é realidade hoje em alguns países, não terão vendedores. Nem haverá dinheiro de papel. Vem aí também uma revolução na medicina. Diagnóstico médico poderá ser feito de forma precisa e instantânea via uma gota de saliva analisada pelo smartphone, que indicará, também, o tratamento mais adequado. Carros, aviões, prédios, praças, estradas serão construídos mais rapidamente e com mais segurança por robôs, que também farão faxinas nas ruas e nas casas das pessoas.


Nada nem ninguém escapará das mudanças. Praticamente todos os tipos de trabalho manual serão feitos por máquinas. É uma revolução sem volta. Inexoravelmente sem volta. Restará a homens e mulheres comandarem essas transformações. Serão elas e eles que moldarão esse admirado e temido mundo novo. Para o bem e para o mal. Sem investir maciçamente em educação de boa qualidade, o Brasil corre o risco de chegar atrasado ao futuro. Não podemos mais tolerar o roubo de dinheiro público por bandidos de direita, de esquerda ou de centro. A corrupção, a impunidade e a complacência com o crime, a depender do bandido que o pratica, nos condenam.