Amauri Segalla
postado em 27/04/2018 06:00
São Paulo ; O mineiro Tallis Gomes veste jeans rasgado na altura do joelho, daquele tipo que só os descolados usam, camisa para fora da calça e um par de sapatênis casual. Em poucos minutos de conversa, ele conquista o interlocutor com um discurso tão afiado quanto vibrante. ;Nos últimos 50 anos, a maior inovação no setor de beleza tinha sido servir champanhe no salão;, diz. ;Com a Singu, estou revolucionando esse mercado.;
Não é exagero. Criada há pouco mais de dois anos, a Singu cresce 30% ao mês oferecendo um serviço inédito na praça: manicure, pedicure, massagem, depilação e drenagem linfática em domicílio. Parece coisa simples, mas o negócio tem certa sofisticação. A Singu adota a mesma lógica das jovens empresas de mobilidade urbana: o cliente baixa um aplicativo e em poucos cliques faz o seu pedido. Logo depois, uma profissional vai ao local indicado realizar o serviço. ;Como usamos inteligência artificial para cruzar dados, a manicure chega rapidamente ao destino;, diz Tallis. Em geral, diz ele, em até duas horas.
Os preços variam conforme o horário e a intensidade da demanda e são definidos pelos algoritmos do aplicativo. Mesmo nos períodos mais concorridos do dia, Tallis assegura que os valores são pelo menos 50% mais baixos dos que os praticados pelo mercado. É como se fosse o Uber da beleza.
A lógica é a mesma da empresa de automóveis. Prestadores independentes se inscrevem no site da empresa e aguardam a aprovação para começar a prestar o serviço. Tallis diz que, graças aos processos de seleção, apenas 5% das candidatas são aprovadas. Hoje em dia, ele conta com mais de 2 mil colaboradoras que ganham, em média, R$ 2 mil por mês. As melhores profissionais ; e com disposição para longas jornadas ; chegam a receber R$ 6 mil.
Confiança
Até onde a Singu pode chegar? Difícil cravar um prognóstico, mas o passado de seu fundador dá uma pista: a empresa pode ir longe. ;Tenho certeza que a Singu crescerá muito mais e por um longo período;, diz o empreendedor. Por enquanto, a empresa atua em São Paulo e no Rio de Janeiro, mas a ideia é desembarcar em outras capitais até o final do ano.Aos 31 anos, Tallis Gomes tem a ousadia dos jovens, a confiança dos que venceram na vida e a maturidade daqueles que passaram por tremendos obstáculos. Ele é o fundador da EasyTaxi, o primeiro aplicativo para chamada de táxis no mundo, lançado em 2011 e levado para 35 países em quatro continentes. O negócio fez tanto sucesso que ele foi eleito um dos 35 jovens mais inovadores do mundo pelo MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos.
Com a EasyTaxi consolidada e um saldo de 20 milhões de usuários e 500 mil motoristas, Tallis resolveu partir para outra. Em 2015, vendeu a empresa por valores não revelados (o mercado estima em algumas centenas de milhões de reais) e começou a preparar o novo negócio.
Sua trajetória é impressionante. Filho de um cabo da Polícia Militar e de uma cabeleireira, ele nasceu em Carangola, cidade mineira de 32 mil habitantes. Aos 14 anos, disposto a comprar uma bateria para sua banda de rock, passou a vender celulares pela internet. Mesmo sem ter o aparelho nas mãos, ele convencia o interessado a pagar adiantado pelo produto, que só seria entregue dias depois.
Descoberta a vocação para empreender, Tallis foi à luta. Antes de fazer sua investida certeira, quebrou outras quatro empresas. ;Não tenho vergonha nenhuma de falar sobre isso;, diz ele. ;Os erros me tornaram um empresário melhor.;
As frases contundentes se tornaram uma marca registrada ao longo dos anos. Agora, ele está numa cruzada em prol da melhoria do ambiente de negócios no Brasil. ;Os empresários não falam nada, não se expõem, não gritam contra as mazelas nacionais;, diz. ;Eu não aceito o país que os burocratas de Brasília me entregaram.; O discurso não é à toa. Tallis, que chegou a ser sondado para disputar a prefeitura do Rio de Janeiro pelo Partido Novo, diz que tem planos para a política. Mas não agora. No momento, seu plano de vida é a Singu.
As ideias do jovem empreendedor
Objetivos de vida;Dinheiro é o último fator que me move ao criar um negócio. Antes, você precisa ter um propósito;
Inovação no Brasil
;O ambiente de negócios para inovação no Brasil é um dos mais hostis do mundo;
Entraves brasileiros
;A EasyTaxi atuou em 35 países e posso dizer que o Brasil é o mais difícil para trabalhar. Aqui, antes de ter cliente, você precisa ter contador;
Papel dos empresários
;Os empresários brasileiros precisam se posicionar mais. Não podem ter medo de falar;
Burocracia
;Na Nigéria, abri uma empresa em 15 dias. No Brasil, isso é impossível;
Peso do Estado
;Uma das máquinas mais onerosas do mundo é o Estado Brasileiro. A gente não pode entregar um cheque em branco para os burocratas;
Reforma da Previdência
;Se o Brasil não fizer a reforma da Previdência, a conta não vai fechar. O país não tem dinheiro. Simples assim;
O que é a Singu
; Atividade: marketplace de serviços de beleza e bem-estar
; Serviços: manicure, pedicure, massagem, depilação e drenagem linfática em domicílio
; Fundação: junho de 2015
; Colaboradoras: mais de 2 mil cadastradas
; Atuação: São Paulo e Rio. Meta é chegar às principais cidades do país até o final do ano