Jornal Correio Braziliense

Economia

Impasse em anúncio do novo regime automotivo preocupa montadoras

Segundo as empresas, lentidão do Palácio do Planalto para aprovar as novas regras do setor afeta planos de investimentos e compromete o desenvolvimento de tecnologias



São Paulo ; Os constantes atrasos no anúncio do Rota 2030, o novo regime automotivo que vai substituir o Inovar-Auto, têm causado profunda irritação entre os executivos do setor. Afinal, foram mais de 100 reuniões com autoridades do governo ao longo do ano passado e a promessa, não cumprida, de que as novas regras passariam a valer a partir de 2018.

Até agora, porém, o que se viu foram cinco adiamentos e uma queda de braço entre os ministérios da Fazenda e da Indústria e Comércio. Uma nova reunião com o presidente Michel Temer está marcada para a próxima terça-feira, mas há a desconfiança generalizada de que o encontro será novamente postergado como resultado da reforma ministerial.

;Já começa a ficar constrangedor explicar às matrizes que o Rota 2030 foi adiado novamente. Parece que estamos enrolando;, desabafou o vice-presidente da General Motors do Brasil, Marcos Munhoz, quando soube que a reunião do dia 12 havia sido cancelada. Segundo ele, os constantes atrasos das novas regras acabam prejudicando a barganha de investimentos das filiais brasileiras nos projetos globais das montadoras. Além disso, a perda de tempo pode ser crucial na escolha do local pela matriz para colocar os recursos.

Mais otimista, o presidente da Anfavea, a associação que reúne as montadoras com sede no país, Antonio Megale, acredita que os impasses serão resolvidos durante a reunião do dia 24, e o programa, finalmente, anunciado no mês de maio. Para ele, os representantes do setor e o governo estão ;caminhando rapidamente; para uma convergência na elaboração do novo regime. ;Tudo indica que será anunciado em maio, só não quero divulgar uma data porque ela já foi adiada outras vezes;, disse o executivo durante evento da indústria automobilística no início da semana, em São Paulo.

Preocupado com a demora do governo em anunciar o Rota 2030, com duração prevista de 15 anos, Megale também teme que haja uma redução nos investimentos das montadoras no Brasil. Como o Rota prevê incentivos fiscais de R$ 1,5 bilhão por ano (o mesmo valor adotado pelo Inovar-Auto, encerrado em dezembro de 2017), em projetos de pesquisa e desenvolvimento (P), as empresas estão aguardando essa definição para anunciarem seus investimentos.

[SAIBAMAIS];São gigantes presentes no mundo todo que farão investimentos no local que for mais competitivo. Sem apoio (incentivos), os aportes tendem a ser realizados no exterior e o Brasil deixará de gerar inovação para ser apenas um grande mercado;, diz Megale, lembrando que, com isso, o investimento em etanol no país também seria abandonado.
O presidente da Associação dos Importadores de Veículos (Abeifa), José Luiz Gandini, não acredita que o novo regime automotivo seja anunciado no atual governo. Segundo ele, os importadores vivem o melhor dos mundos com o fim do Inovar-Auto, que estabelecia cotas para importação e sobretaxa de 30% para quem trazia veículos acima do número estabelecido. ;Com o fim do programa Inovar-Auto, as empresas importadoras vivem o livre mercado, como estabelece a OMC;, diz Gandini.



As discussões e o impasse envolvem justamente os incentivos que serão concedidos pelo governo para os investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Por um lado, as empresas pedem que o estímulo seja dado por meio de créditos tributários (PIS/Cofins e IPI). De outro, o Ministério da Fazenda quer utilizar a chamada Lei do Bem, que permite a dedução do investimento na tributação do lucro, via Imposto de Renda (IR). As montadoras contestaram, alegando que estão tendo prejuízo e, portanto, não poderiam utilizar o benefício.

Com o impasse, as conversas evoluíram para uma proposta intermediária, em que o crédito tributário seria concedido pelo governo durante três anos, até as empresas voltarem ao lucro. Depois desse período, passariam para a Lei do Bem. Essa proposta foi aceita, mas ainda falta bater o martelo, pois o novo ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, pediu mais tempo para estudá-la. Há quem diga que Guardia, assim como seu antecessor, Henrique Meirelles, não quer ouvir falar em isenções.

Além dos incentivos, o novo regime vai determinar metas de eficiência energética, parâmetros de segurança e incidência de impostos conforme a origem do modelo (nacional ou importado) e potência do motor. A cobrança dos tributos durante a fabricação de veículos levará em conta a cilindrada do motor. Para garantir a eficiência energética, será necessário levar em consideração o nível de emissões e consumo dos carros. A ideia é que as inovações apareçam cada vez mais nos veículos, como motores mais eficientes e econômicos.

Eficiência

Dan Ioschpe, presidente do Sindicato da Indústria de Componentes para Veículos (Sindipeças), avalia que, sem novas regras para eficiência energética, há o risco de uma ;invasão; no mercado brasileiro de produtos que não cumprem as exigências atuais. Com preços mais baixos que os de modelos nacionais, eles chegariam sem nenhum critério, com novas tecnologias para reduzir o consumo. Ioschpe defende que as propostas do Rota definidas até agora e com o consenso de todos os participantes da elaboração do programa poderiam entrar em vigor antes da definição dos incentivos fiscais.

Para a Fiat, o Rota 2030 não é só uma questão de benefício tributário, mas uma política industrial setorial essencial, que estabelece um marco para o planejamento do maior setor industrial brasileiro, incluindo temas estratégicos e de interesse do consumidor e de toda a sociedade, como eficiência energética veicular, emissões e segurança.

Segundo a montadora italiana, o novo programa também estabelece um horizonte de previsibilidade para as empresas do setor até o ano de 2030. ;Tal marco trará clareza e segurança para os investimentos da indústria automotiva e de seus fornecedores, o setor de autopeças e de matérias-primas, por mais de uma década. Por essa razão, há grande expectativa do setor por seu anúncio e aprovação;, disse a Fiat por meio de nota.

No caminho

As propostas do programa Rota 2030

; Tecnologia automotiva
A ideia é incentivar inovações, especialmente para o desenvolvimento de motores mais eficientes e econômicos

; Incentivo à pesquisa e o desenvolvimento
Os programas que se destacaram durante o período do Inovar-Auto deverão ser mantidos

; Segurança
Incluir novos sistemas e recursos que tornem os carros mais seguros para motoristas e passageiros

; Veículos velhos
Criação de programa nacional de inspeção veicular para
rejuvenescer a frota

; Impostos

Cobrados de acordo com a cilindrada do motor e a eficiência energética do carro