A agropecuária foi o setor que mais movimentou cargas no Brasil em 2016. A produção do país mobilizou 1,6 bilhão de toneladas, totalizando 43 milhões de fretes rodoviários naquele ano. A cana-de-açúcar e seus subprodutos foram responsáveis pelo maior volume de locomoção, com 770 milhões de toneladas. Os dados fazem parte do Sistema de Inteligência Territorial Estratégica da Macrologística Agropecuária, uma ferramenta lançada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) que faz o mapeamento da origem, os caminhos percorridos e o destino dos principais produtos da agricultura e da pecuária nacionais.
A plataforma on-line permite a geração de 102 mil mapas para os 10 principais produtos da agropecuária brasileira ; algodão, cana-de-açúcar, café, soja, milho, laranja e madeira, além de aves, suínos e bovinos. Juntos, esses itens respondem por mais de 90% da carga de produtos agropecuários transportados no país. Todas as informações podem ser consultadas neste emdereço.
O leque de informações que se pode obter a partir da plataforma é extenso. O sistema informa a origem e o destino dos produtos por estado, região e microrregião. O trabalho é tão minucioso e detalhado que equivale a mostrar a ;origem da origem; e o ;destino dos destinos; dos produtos, inclusive a localização das áreas de escoamento, com dados sobre o quanto foi exportado por meio de cada porto e qual foi o país de destino. É possível identificar também os gargalos e as oportunidades de investimentos logísticos, itens fundamentais para aumentar a competitividade das diversas cadeias agropecuárias do Brasil.
O desenvolvimento da plataforma foi feito por uma equipe da Embrapa Territorial, em Campinas, São Paulo, atendendo a uma demanda específica do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). A ideia era mapear o escoamento da produção agropecuária brasileira, com o detalhamento do movimento em todas as regiões do país, inclusive nas áreas mais afastadas dos centros urbanos.
Os técnicos levaram dois anos para concluir o trabalho, com o levantamento de dados e cruzamento de informações oficiais dos ministérios da Agricultura e dos Transportes, Secretaria-Geral da Presidência, e outras 10 secretarias envolvidas com o setor. Por último, foi feita a padronização da base de dados e a organização das informações em cinco categorias ; Produção Agropecuária, Exportação, Caminhos da Safra e Bacias Logísticas ;, cobrindo quase duas décadas, de 2000 a 2016.
O sistema, porém, não é estático. Ele será atualizado anualmente à medida que foram computados os dados levantados de diversas fontes de informação, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Categorias
O sistema é aberto para qualquer cidadão que queira fazer uso de dados para o desenvolvimento de seu negócio ou para elaborar estudos customizados, de acordo com a necessidade. Ao acessar a categoria Produção Agropecuária, por exemplo, é possível encontrar dados numéricos, gráficos e cartográficos sobre produção, área plantada, área colhida e produtividade dos 10 principais produtos do setor no país.
O detalhamento de cada porto, com a quantidade, origem, valor exportado e destino do produto, está no item Exportação. Caminhos da Safra, como o nome indica, identifica os trajetos percorridos no escoamento de grãos e outros produtos, desde a origem até a chegada aos portos, e a modalidade de transporte utilizada ; rodovia, ferrovia ou hidrovia.
Em Bacias Logísticas, estão mapeadas oito dessas bacias no Brasil. Cada uma reúne o conjunto de municípios em cujos territórios ocorre o escoamento da safra, preferencialmente pelas mesmas rotas, modais e destinos. ;O estudo preenche todo o território nacional, sendo possível até mesmo identificar de qual município saiu determinada produção e a que porto chegou;, explica Gustavo Spadotti, supervisor do Grupo de Gestão Territorial Estratégica da Embrapa.
O trabalho contempla, também, 15 estudos logísticos sobre temas demandados à Embrapa pelos ministérios ou órgãos do Governo Federal ; três deles apontam obras viárias prioritárias para o fortalecimento do agronegócio. ;É um bônus. O material inclui informações complementares, estatísticas e análises mais complexas sobre os temas;, enfatiza Spadotti.
Precisão
A qualidade das informações sobre a produção rural e os fluxos de transporte melhora muito com a ferramenta, segundo avaliação de Luiz Antônio Fayet, responsável técnico pela área de logística e infraestrutura da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA). ;O grau de precisão do documento facilita o trabalho de planejamento do escoamento da safra, recente e futura, junto ao governo federal;, analisou Fayet, que representa a CNA na Câmara Temática de Infraestrutura e Logística do Agronegócio, grupo de assessoramento ao ministro da Agricultura, Blairo Maggi, composto por 72 órgãos e entidades públicas e privadas.
A elaboração do Sistema da Macrologística trouxe algumas surpresas, de acordo com o chefe-geral da Embrapa Territorial, Evaristo de Miranda. ;Quase a metade das exportações de grãos do Brasil é transportada por meio de ferrovias. Outro ponto que surpreendeu a equipe durante o trabalho foi o fato de produtores da mesma cidade escolherem portos diferentes para o despacho de seus produtos;, revelou o chefe-geral da Embrapa Territorial, Evaristo de Miranda, durante o I Seminário Desafios e Perspectivas do Agronegócio Brasileiro, evento realizado em São Paulo que reuniu lideranças do setor.