Jornal Correio Braziliense

Economia

Empresa de turismo Flytour cresce o dobro do mercado

Com política agressiva de aquisições e sólida governança, Flytour deve superar R$ 6 bi de faturamento em 2018. Próximos passos são a internacionalização e a abertura de capital



São Paulo ; Segunda maior empresa de turismo do país, a Flytour é um caso raro no meio empresarial brasileiro. Ela não só sobreviveu sem sustos à mais severa crise econômica dos últimos anos, como cresceu muito acima da média do mercado. Em 2017, seu faturamento avançou 11,1%, chegando a R$ 5,5 bilhões. Enquanto isso, o setor de turismo registrou expansão entre 5% e 6%. Como se deu o milagre? ;Com certeza, fizemos um grande trabalho de transformação;, diz Christiano Oliveira, atual presidente do grupo e filho do fundador, Eloi D;Avila Oliveira.

Para 2018, o executivo espera mais 11,5% de alta no faturamento, totalizando R$ 6,1 bilhões. Responsável, junto com o pai, pelo crescimento rápido do grupo, Christiano assumiu a presidência em 2015. Antes, havia passado por todos os setores da empresa, desde o cargo mais humilde de contínuo, que assumiu aos 16 anos, até o de diretor de novos negócios.

Com sete tipos de negócios voltados para a área de turismo (corporativo e varejo), a empresa passou incólume pelas últimas crises econômicas. Entre 2004 e 2017, o grupo registrou crescimento médio de 12% ao ano, um feito para empresas de qualquer setor, e ainda mais expressivo no turismo, que sofre de imediato os efeitos da perda de renda dos consumidores.

Expansão


Em 2007, às vésperas da crise financeira global, a empresa adquiriu a operação de viagens de negócios da American Express. Oito anos depois, em plena recessão, com o PIB negativo em 3,5%, foi a vez de comprar a GapNet, uma companhia que atuava no mesmo segmento, mas que teve sua situação agravada pela turbulência da economia brasileira.

Os dois negócios, apesar de acontecerem em situações econômicas adversas, acabaram elevando o patamar de faturamento da Flytour. Na compra da Amex, em 2007, as vendas saíram de R$ 1,6 bilhão para R$ 2,5 bilhões em 2008. Na aquisição da GapNet, em 2015, pularam de R$ 4 bilhões para R$ 5 bilhões no ano seguinte.

Aos 44 anos, o grande desafio de Christiano Oliveira é levar o grupo para uma nova fase de crescimento, com a realização do sonho de internacionalização da companhia e a abertura de capital. Os detalhes dos planos desse novo ciclo de crescimento ainda estão guardados a sete chaves, mas Oliveira adianta que fará ;em algum momento entre 2018 e 2019 um movimento de busca de capital com menor custo para continuar fomentando o crescimento;.

O executivo revela que o grupo pretende buscar capital em troca de uma fatia minoritária da companhia. Para isso, diz que a diretoria estuda os caminhos para tomar a decisão. Entre as opções, conta que dois modelos neste momento fazem mais sentido para o grupo: uma dívida estruturada através da emissão de debêntures ou por meio de um private equity.

Nas duas situações, um percentual minoritário do capital da empresa pode ser adquirido por uma gestora (ou investidores) que se tornará sócia (ou sócios) do negócio, com o objetivo de alavancar os resultados e aumentar seu valor de mercado. ;A ideia é que uma operação dessas não traga somente dinheiro, mas oportunidades;, diz Oliveira, lembrando que não existe pressa no processo de decidir qual a alternativa que será seguida.

Desde que começou a liderar o grupo, Oliveira introduziu uma série de mudanças na companhia. Criou um conselho de administração e comitês de gestão integrados por membros da família e profissionais independentes, além de realizar auditorias internas e externas. ;Temos toda uma parte de BI (Business Intelligence), com os números da companhia sendo informados em tempo real. Isso dá para o conselho e para o fundador uma visão abrangente da empresa, com acompanhamento de todo o processo estratégico;, conta o executivo, salientando que as decisões importantes passam sempre pela aprovação dos membros do conselho.

No momento, o maior desafio é concluir a fusão da MMT, braço da GapNet, com a Flytour Viagens, e finalizar a migração de todos os negócios do grupo para uma única plataforma de serviços. Por meio dessa plataforma, as áreas de tecnologia, marketing, administração, financeira, recursos humanos, contabilidade e jurídica, que eram independentes, passam a ser compartilhadas por todas as empresas.

Com 670 canais de vendas em todo o país, a Flytour se orgulha de ter mais de 200 agências dentro de favelas, vendendo passagens com pagamentos a longo prazo para seus moradores. ;Somos uma empresa humanizada, tanto no relacionamento com os clientes quanto com fornecedores e colaboradores;, diz Oliveira.

On-line


Outro projeto que começa a ganhar força é o Argo, braço de tecnologia voltado para o desenvolvimento de plataformas e serviços para toda a indústria de turismo. Hoje em dia, a empresa é proprietária do programa de reserva on-line do mercado corporativo. Grandes agências de turismo de negócios que atendem setor utilizam a ferramenta de gestão de reservas on-line da Flytour, que detém 50% do de todo o atendimento on-line da área corporativa, com clientes na Argentina, México e Peru.

De acordo com Oliveira, a companhia vai continuar o processo natural de consolidação do mercado de turismo. Por isso, ele não descarta novas aquisições. ;Nossas operações têm o objetivo de distribuir os produtos através da própria indústria, seja ela o cliente corporativo, o agente de viagem independente, um franqueado, uma empresa de eventos ou até mesmo a nossa empresa de tecnologia.;