Economia

Comercial da Nextel que ironiza concorrentes será julgado pelo Conar

Liminar do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária pede suspensão de publicidade da empresa, que ironiza concorrentes com trechos que lembram seus anúncios

Paula Pacheco/Estado de Minas
postado em 15/03/2018 06:00
João Cortês, garoto-propaganda da Vivo e, mais recentemente, da Nextel

São Paulo ; A campanha publicitária da Nextel não agradou à concorrência. Não, não se trata de um anúncio do tipo que levará para suas lojas hordas de clientes insatisfeitos com suas operadoras em busca dos serviços de uma nova prestadora de serviços. A empresa partiu para uma ação arriscada ao ironizar as campanhas publicitárias dos principais competidores: TIM, Vivo, Claro e Oi. Agora, terá seu filme, que começou a ser exibido no último fim de semana, julgado pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, o Conar.

Ontem, uma das conselheiras do Conar decidiu conceder uma liminar favorável às operadoras Oi e TIM pedindo que a campanha seja tirada do ar. O comunicado foi enviado aos veículos de comunicação, Nextel e sua agência de publicidade, a Tribal Worldwide, que venceu uma concorrência e assumiu a conta da empresa em janeiro passado. O Conar não tem poder para mandar interromper uma campanha, apenas sugere mudanças ou a sua suspensão definitiva. A decisão fica a critério do anunciante.

O ponto focal dessa provocação na nova campanha da Nextel ; a quinta operadora em participação de mercado ; está em seu protagonista, o ator João Cortês, que ficou conhecido como o ;Ruivo da Vivo;, depois de estrelar, ao lado de personalidades como Grazi Massafera, Marina Ruy Barbosa e Luiz Felipe Scolari, uma série de campanhas da operadora. O ciclo se encerrou no início de 2016 e o ator, até então desconhecido do grande público, chegou a fazer o comunicado por meio de suas redes sociais sobre sua saída.

Tanto a TIM quanto a Oi entraram com o pedido de suspensão da campanha na terça-feira. A Oi alega que a Nextel fez uma menção à sua marca e à sua campanha. Segundo o texto, até a expressão do rosto e o movimento da cabeça de seu garoto-propaganda, o youtuber Whindersson Nunes, foram copiados por um ator que aparece no vídeo da Nextel. Para a empresa, não se trata de uma coincidência, o que caracterizaria uma exploração indevida da sua imagem e de concorrência desleal.

Assim como a Oi, a TIM acusa a Nextel de denegrir sua imagem e também de concorrência desleal ; um ator aparece dançando de chapéu e terno da mesma forma que a TIM utiliza em seus anúncios. Ambas as empresas, assim como a Nextel, a Tribal Worldwide, a Vivo e a Claro (também citadas indiretamente no comercial da concorrente), foram procuradas pelo Correio. A Vivo respondeu, por e-mail, que "não irá comentar" o episódio. As demais ou preferiram também não se pronunciar ou não retornaram o contato.

Casos como esse, em que o Conar concedeu uma liminar aos reclamantes, não são muito comuns no dia a dia do conselho. O rito normal é que as ações sejam abertas, avaliadas por um relator e encaminhadas para julgamento nas reuniões do conselho de ética. No caso da Nextel, começa a contar desde já o prazo para que a empresa e a agência de publicidade apresentem suas defesas. O julgamento tem até 45 dias para acontecer, ou seja, só deve ser agendado para o início de maio.

A chegada da nova agência de publicidade marcou uma mudança na estratégia de comunicação da Nextel, que por muitos anos investiu em campanhas que tinham como ponto de partida o conteúdo institucional e que usavam depoimentos de pessoas ;personalidade ou não ; que passaram por algum tipo de superação e narravam suas histórias nos filmes. Entre elas, as campanhas ;Essa é sua vida. Essa é sua história;, e ;Essa é minha vida. Esse é o meu clube;, protagonizada por nomes como o jogador Neymar, o ator Fábio Assunção e o chef de cozinha Alex Atala.

Já a campanha atual optou por ironizar os concorrentes, utilizar ;inspirações; de suas campanhas e mostrar que o seu garoto-propaganda havia trocado a camisa da Vivo pela da Nextel.

  • Grandes operadoras perdem participação

    Apesar do barulho feito pela Nextel, a empresa não está no time principal de operadoras de telefonia móvel. Na sua frente estão a Vivo (31,70% de participação de mercado), Claro (24,98%), TIM (24,73%) e Oi (16,48%), segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) referentes a janeiro. Ao todo, o Brasil registrou 236,2 milhões de linhas móveis em operação, uma queda de 0,11% em relação a dezembro de 2017 e de 2,95% nos últimos 12 meses. Ainda segundo a Anatel, os maiores crescimentos percentuais registrados em janeiro (em telefonia móvel por grupo) foram na Porto Seguro (avanço de 7,80%) e Datora (4,27%). Entre as grandes operadoras, o desempenho piorou, ainda que timidamente. A TIM teve uma perda de 0,36% no número de linhas. Na Vivo, o recuo foi de 0,09% e na Claro chegou a 0,03%. Já a Nextel viu a sua participação de mercado encolher 0,28%.

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