São Paulo ; Maior varejista de brinquedos do país, a Ri Happy quer chegar à bolsa de valores valendo entre R$ 1,2 bilhão e R$ 1,7 bilhão. Mas levar ao mercado uma rede de varejo que faz menos de 5% de suas receitas no segmento on-line num momento em que todo o setor é desafiado pelo e-commerce não deve ser brincadeira ; especialmente depois que a ascensão da Amazon levou a Toys ;R Us às cordas nos Estados Unidos.
O negócio não foi considerado ruim pelos investidores. A Ri Happy se vale do poder de compra e paga os fabricantes com prazos esticados, o que alivia a necessidade de capital de giro e dá retornos elevados sobre o capital investido. Os investimentos em remodelagem das lojas também são relativamente baixos porque os fornecedores arcam com parte do custo de instalações e mobiliário.
A questão é até quando esse poder deve durar. A companhia frisou que vai usar parte do dinheiro captado na oferta para investir numa transformação digital ; mas o temor é de que tenha entrado tarde demais. ;Hoje, as empresas de e-commerce e marketplaces tornam muito mais fácil para os fabricantes vender direto para os consumidores. Por que com os fabricantes de brinquedos seria diferente?; questiona um gestor. ;Se essa relação com os fornecedores mudar, o retorno despenca e a empresa vai ter um problema de fluxo de caixa;.
Com o faturamento andando praticamente de lado nos últimos três anos, a companhia está mudando seu foco de brinquedos para se expandir no segmento de itens para bebês, que cresce mais rápido e tem menos sazonalidade. Mas a principal queixa dos investidores que analisam o negócio é que a empresa está fazendo IPO de um negócio, mas vendendo outro. ;Eles passaram o tempo todo falando de lojas de bebês, que representam 7% do faturamento;, diz um investidor. ;Só por aí dá para ter uma ideia do que é o potencial dos outros 93%;.
Das 259 lojas da Ri Happy, 245 são de brinquedos. Apenas seis são dedicadas a artigos de bebês e outras oito são no formato ;one-stop-shop;, que abriga ambas as categorias. O crescimento nesse setor pode se dar via aquisições. No mercado, especula-se que a companhia está de olho na Alô Bebê, uma rede de 25 lojas concentrada principalmente no estado de São Paulo. ;No fim das contas, eles querem que a gente pague por um negócio que eles ainda não têm;, resume outro gestor.
Fundada em 1988 pelo pediatra Ricardo Sayon, a Ri Happy foi vendida para o Carlyle em 2012. No fim do mesmo ano, o fundo comprou a PB Kids, uma das principais concorrentes, tornando-se o maior player isolado do setor. Mas a felicidade durou pouco: no meio do caminho tinha uma recessão. As vendas ficaram praticamente estagnadas nos últimos anos e a companhia chegou a amargar um prejuízo de R$ 6 milhões em 2016. No ano passado, o fundo de private equity começou a buscar um sócio para injetar dinheiro novo do negócio e entregar parte da expansão antes de ir à Bolsa. Mas as negociações não prosperaram.
Quando começaram a sondar os investidores para o IPO, os bancos testavam um preço salgado, que avaliava a companhia em mais de 20 vezes o lucro estimado para este ano ; em linha com players consagrados de varejo que negociam em bolsa. Mas, diante do ceticismo, decidiram baixar a régua e a faixa de R$ 20,30 a R$ 26,30 por ação divulgada nesta semana trouxe o preço mais próximo da faixa das 15 a 20 vezes.
Com o preço menor, a oferta ganhou mais chances de prosperar, mas perdeu porte. Deve movimentar R$ 860 milhões no ponto médio da faixa, o que a torna relativamente pequena para grandes fundos de investimentos e pode tirá-los do jogo, afetando a demanda pelos papéis.
Do total captado na oferta, 60% vai para o caixa da Ri Happy e 40% refere-se à venda da fatia do fundo de private equity, cuja participação pode cair dos 100% para algo entre 32% e 37%, a depender do apetite dos investidores. A oferta deve ser precificada no próximo dia 27. O BTG é o coordenador-líder e atua ao lado de Credit Suisse, Itaú BBA, Bradesco BBI, Goldman Sachs e BB Investimentos.