Agência France-Presse
postado em 08/03/2018 06:44
Bruxelas, Bélgica - Os Estados Unidos afirmaram nesta quarta-feira (7) continuar com seu plano de adotar tarifas pesadas sobre o aço e o alumínio nesta semana, em uma clara rota de colisão com a União Europeia, que já alertou para uma guerra comercial e preparara medidas de retaliação.
"Ainda estamos no ritmo para fazer um anúncio sobre isso até o fim desta semana", disse à imprensa Sarah Sanders, porta-voz da Presidência americana, confirmando uma antecipação feita pelo presidente Donald Trump na quinta-feira passada.
Nesta quarta, Bruxelas se apresentou para a batalha. O bloco apresentou um plano detalhado, que inclui tarifas sobre produtos estratégicos, adoção de medidas de salvaguarda e uma demanda frente à Organização Mundial do Comércio (OMC)
"As guerras comerciais são ruins e fáceis de perder", destacou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, que ainda pediu aos "políticos dos dois lados do Atlântico" para "agir com responsabilidade".
A comissária europeia do Comércio, Cecilia Malmstr;m se limitou a apresentar as medidas que o Executivo comunitário estaria disposto a adotar se for confirmada a vontade dos Estados Unidos. Mas, para ela, "isso prejudicaria as relações transatlânticas".
Nos Estados Unidos, cerca de 100 deputados republicanos enviaram uma carta a Trump na qual pedem ao presidente que não adote tarifas uniformes e manifestam sua "profunda preocupação" com as consequências da medida para as empresas americanas.
Durante uma coletiva de imprensa, Sanders utilizou uma linguagem cuidadosa para acrescentar que o plano poderia incluir "potenciais exceções para México e Canadá", baseadas na "segurança nacional" dos Estados Unidos.
[SAIBAMAIS]Sanders disse que essas exceções poderiam se estender "potencialmente a outros países", mas não ofereceu detalhes.
Segundo o jornal Washington Post, que cita altos funcionários do governo, México e Canadá serão isentos das medidas protecionistas durante 30 dias, e o benefício poderá ser prorrogado caso ocorram progressos nas negociações do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta).
Guerra comercial
Diante da escalada das tensões, o secretário de Comércio americano, Wilbur Ross, justificou nesta quarta-feira a adoção das tarifas alegando que o país quer aumentar a produção de aço, mas que eles não estão buscando "uma guerra comercial".
"Nós não queremos uma guerra comercial. Não será uma grande guerra comercial. O presidente não teria exteriorizado sua vontade de ser flexível com Canadá e México se só buscasse medidas extremas", disse Ross.
Já o secretário de Tesouro, Steven Mnuchin, disse à Fox Business que as tarifas de aço e alumínio deveriam ser aplicadas "muito rapidamente".
Sobre a forte reação da União Europeia, Mnuchin quase comentou que é tarefa do governo "estar do lado das empresas e dos trabalhadores americanos".
"É por isso que devemos fazer tudo de forma prudente e que seja benéfica para a nossa economia", acrescentou.
Na semana passada, o presidente americano, Donald Trump anunciou sua intenção de impor tarifas de 25% às importações de aço e de 10% às de alumínio, sem dar mais detalhes sobre os países afetados.
Produtos emblemáticos
Os europeus exportam cerca de 5 bilhões de euros de aço e 1 bilhão de alumínio ao ano para os Estados Unidos. As medidas americanas poderiam gerar prejuízo de 2,8 bilhões de euros, segundo a Comissão.
A estratégia da Comissão Europeia passa por três tipos de respostas diferentes: impor tarifas elevadas sobre produtos emblemáticos americanos, adotar medidas de salvaguarda e abrir uma demanda na OMC.
"Há uma lista provisória que está sendo debatida" e será "publicada em breve", apontou a comissária europeia. Ela inclui produtos siderúrgicos, industriais e agrícolas, como "alguns tipos de [uísque] bourbon, (...) artigos como manteiga de amendoim, cranberries e suco de laranja", listou Malmstr;m.
Outros produtos como calças jeans, alguns tipos de aço, maquiagens, motocicletas, iates, pilhas, baterias, arroz, milho e cigarros integrariam a lista da UE, consultada pela AFP.
O objetivo dessas medidas de "reequilíbrio", adotadas com base em normas da OMC, segundo o bloco, é ampliar o impacto político nos Estados Unidos, mirando em produtos americanos específicos fabricados em territórios mais favoráveis a Trump e minimizando seus efeitos para os consumidores europeus.
"Podem fazer o que quiserem, mas, se fizerem, imporemos uma grande taxa de 25% sobre seus carros e, acreditem em mim, eles não continuarão fazendo isso por muito tempo", disse Trump nesta terça, questionado sobre as medidas de represália da UE.
O protecionismo do presidente americano não é compartilhado por todo seu governo. Seu principal conselheiro econômico, Gary Cohn, pediu demissão nesta terça, após demonstrar discordância com a decisão de taxar as importações siderúrgicas.
Salvaguarda
Além de dificultar o acesso da indústria siderúrgica europeia ao mercado americano, as tarifas de Trump poderiam desviar para a Europa a produção de outros países, que já não encontrariam benefícios nos Estados Unidos. Por isso, a UE também prevê medidas de salvaguarda.
Elas demorariam várias semanas para entrar em vigor, bem como as tarifas sobre os produtos da lista. As medidas limitariam temporariamente às importações de aço e alumínio da Europa para proteger seus setores de concorrentes estrangeiros, como autoriza a OMC.
Por fim, Bruxelas poderia apresentar um processo no organismo, talvez junto dos demais países afetados, um procedimento que pode durar dois anos.