Jornal Correio Braziliense

Economia

Banco Mundial: se país não melhorar produtividade, não conseguirá crescer

Relatórios da instituição recomendam medidas, como reformas e abertura comercial, para o país conseguir ter uma expansão maior do PIB e mais duradoura


Uma semana depois de a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apresentar um amplo estudo sobre o Brasil fazendo um alerta sobre a necessidade de reformas para que o país consiga crescer mais e de forma sustentada, nesta quarta-feira (7/3), o Banco Mundial lança dois relatórios que reforçam essa mesma necessidade e avisam que, para a expansão do país ser maior e mais duradoura, é preciso melhorar a produtividade, integrando melhor o jovem no mercado de trabalho.

;Apenas aumentar o investimento não será suficiente. O Brasil vai precisar de um novo motor econômico que é o crescimento da produtividade para melhorar os resultados sociais;, explicou Martin Raiser, diretor do Banco Mundial para o Brasil, ao apresentar os dois estudos feitos pela instituição sobre o país: ;Emprego e Crescimento: A Agenda da Produtividade;, elaborado pelo economista-chefe do Banco, Mark Dutz; e ;Competências e Empregos: Uma Agenda Para a Juventude;, de autoria da economista da instituição Rita Almeida. Esses estudos foram apresentados na manhã desta quarta-feira (06/03), às 9h30, em evento no Palácio do Planalto organizado pela Casa Civil e o Banco Mundial.

Raiser contou que os dois relatórios foram uma iniciativa da instituição e o resultado, apesar de não ter sido coordenado com a OCDE, tem ;muitas mensagem que se convergem;. ;Foi um trabalho de diagnóstico para ajudar a estimular o debate sobre as opções e alternativas para o desenvolvimento social do Brasil;, o completou ele, acrescentando que a janela de oportunidade para que as principais mudanças para melhorar a produtividade sejam feitas está se fechado, porque o país envelhecendo muito rapidamente. ;Nossa constatação é que será necessário integrar melhor o jovem de forma mais produtiva na economia para que o país se beneficie dessa última onda do bônus demográfico;, alertou.

De acordo com Mark Dutz, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil poderia crescer 4,5% ao ano se a taxa de aumento da produtividade nacional ficasse nos níveis de 1960 e 1970, algo em torno de 2,5% ao ano. Segundo o economista, para melhorar a produtividade, o país precisa adotar medidas para reduzir o desperdício de recursos, melhorando a gestão, com métricas e metas eficazes buscando a eficiência dos ativos e da mão de obra. Essas medidas, se adotadas, permitiriam que a renda per capita nacional passasse de 19% da norte-americana para 53%, pelos cálculos do Banco Mundial.



;A produtividade é baixa porque os recursos não estão sendo utilizados devidamente. Mas isso não é apenas porque o trabalhador qualificado está sem emprego, mas porque também o gestor ruim não aproveita a penetração da tecnologia da informação;, destacou ele, criticando o excesso de subsídios que consomem quase 5% do Produto PIB não têm o retorno na economia comprovado porque não são avaliados e, para piorar, acabam impedindo que uma pequena empresa cresça. ;O país tem um sistema econômico que favorece que uma empresa fique sempre pequena e isso trava a produtividade;, disse Dutz.

Os dois economistas reconheceram que algumas medidas dessa agenda microeconômica para melhorar a produtividade estão sendo encaminhadas pelo governo, inclusive, até anunciada, como é o caso da simplificação tributária e o Portal Único de comércio exterior.

[SAIBAMAIS]No entanto, eles avisam que não serão suficientes para tirar o país da lanterna da competitividade entre os países emergentes, como mostra o estudo ;Doing Business;, do Banco Mundial. Nesses estudo, o Brasil está em 125; lugar, atrás de países emergentes como China (78;), África do Sul (82;) e Índia (100;) devido à infraestrutura deficitária, juros ainda elevados, carga de imposto pesada e insegurança jurídica.



Uma das principais medidas para melhorar essa competitividade, na avaliação de Raiser e Dutz, seria uma maior abertura comercial, com ampliação de acordos comerciais preferenciais, realizar reformas ao mesmo tempo em que fosse conduzido um ajuste fiscal mais amplo, com reforma tributária e revisão dos gastos do estado. Essas medidas, segundo o estudo, ;poderia tirar quase seis milhões de pessoas da pobreza e criar mais de 400 mil empregos;.

Caso o governo brasileiro simplesmente melhorasse infraestrutura logística que ajudaria a baratear os custos e os preços finais dos produtos, outras três milhões de pessoas também saíram da faixa de pobreza.



A negociação de novos acordos comerciais no âmbito do Mercosul, uma vez que o Brasil não consegue fechar alianças de livre comércio fora do grupo, ajudariam a dar uma turbinada no PIB, segundo os estudos do Banco Mundial. E se os países do bloco fizessem uma reforma coordenada, reduzindo em 50% as tarifas de importação para países fora do bloco o PIB real brasileiro poderia crescer perto de 8%, conforme simulações feitas pela instituição.

Inclusão do jovem

Além de adotar medidas para melhorar a produtividade, o país precisa ter uma estratégia de inclusão do jovem no mercado de trabalho, na avaliação de Rita. Conforme levantamento feito no estudo elaborado pela especialista do Banco Mundial, o Brasil corre o risco de perder uma geração inteira para o ;desengajamento juvenil;. ;Nossa preocupação é melhorar a qualidade do investimento e a importância de o país focar em inovação.

Para garantir um crescimento sustentável, será preciso fazer reformas focadas na questão demográfica, pois o país está diante dos últimos anos do bônus demográfico, que deve começar a diminuir a partir de 2020;, alertou. Vale lembrar que, com o envelhecimento da população, o crescimento da força de trabalho, que era de 1,5% nos anos 1980, ficará negativo em 2035.

Para a economista, apesar de o país ter feito alguns progressos, reduzindo o número de crianças fora da escola, existem ;grandes falhas de aprendizagem e muitos jovens que estão no mercado de trabalho exercem funções sem muita qualidade;. Além disso, 11 milhões de jovens nem estudam nem trabalham, os chamados nem-nem. ;É urgente melhorar a qualidade da educação para esses jovens para melhorar a produtividade do trabalho, que não evoluiu muito nos últimos anos.

A reforma do ensino médio foi um passo importante, mas pode ser feito ainda mais para evitar a evasão escolar, melhorando os programas de treinamento e recolocação de emprego;, afirmou Rita, lembrando que apenas 43% da população com 25 anos ou mais concluiu o ensino médio enquanto que a média da OCDE é de 65%. Nos Estados Unidos, esse percentual é de 88%. ;Se o Brasil quer ser mais competitivo precisa aumentar a produtividade do trabalho e, para isso, não pode ter um percentual de apenas 43% dos brasileiros com ensino médio concluído;, pontuou.

A especialista ressaltou que 30% dos jovens com até 19 anos não estão mais na escola, o que é bastante preocupante, e apenas ampliar os recursos para a educação não é necessariamente a garantia para melhorar a qualidade do ensino para que esse jovem continue na escola.

Nesse processo de integração do jovem ao mercado de trabalho, Rita considera que a participação da iniciativa privada será fundamental e que o Pronatec não apresentou bons resultados porque não foi bem formulado porque não tinha estágios como parte do currículo. ;É preciso focar em programas que ajudem o estudante ou quem está desempregado a se inserir novamente no mercado, com estágios, e não apenas um curso sem a preocupação de realmente inserir essa pessoa no mercado de trabalho;, pontuou.