Jornal Correio Braziliense

Economia

Banco do Brasil lucra R$ 11,2 bilhões e avança no ambiente virtual

Banco, que apresentou aumento de 54,2% no ganho em 2017, passa a oferecer transações pelo Facebook, em uma estratégia de aproximar a instituição dos clientes pelos meios digitais


São Paulo ; O Banco do Brasil, maior banco do país em volume de ativos, divulgou ontem o balanço de 2017. O resultado foi considerado bom e os investidores reagiram positivamente, principalmente por conta da afirmação do presidente executivo da instituição, Paulo Caffarelli, durante apresentação dos números aos jornalistas: ;Ainda não estou satisfeito com nossa rentabilidade. Temos espaço para recuperar em relação aos nossos pares;.

O banco obteve em 2017 um lucro líquido ajustado (lucro líquido menos a soma destinada a reservas legais e de contingência, para imprevistos, no ano seguinte) de R$ 3,188 bilhões no quarto trimestre. O valor representou um aumento de 82,5% na comparação com o desempenho de 2016. Já o lucro contábil disparou 222,7%, somando R$ 3,108 bilhões.

No ano, o lucro líquido foi de R$ 11,1 bilhões, 54,2% maior na comparação com 2016, de R$ 7,171 bilhões. Para os acionistas, a boa notícia é que o retorno sobre o patrimônio líquido (forma como é medida a remuneração do banco aos acionistas) chegou a 12,5% ; o maior nível desde o terceiro trimestre de 2015. Caffarelli disse esperar uma nova redução da inadimplência em 2018.

Em boa parte, o desempenho do BB é resultado do corte de custos. As despesas com provisão para perdas com calotes chegaram a R$ 5,6 bilhões, o que representou uma queda de 24,7% na comparação com o valor de 2016. As despesas administrativas (que incluem os salários dos funcionários) tiveram uma pequena retração, de 4,4%. A redução é resultado do fechamento de 660 agências e do PDV (programa de demissão voluntária) lançado no ano passado.

Logo depois de divulgar os números de 2017, Caffarelli participou de um outro encontro com a empresa especializada em tecnologia para apresentar uma parceria com a IBM e o Facebook. A partir de agora, os clientes do BB terão a opção de fazer transações bancárias pelo Messenger, do Facebook, sem precisar passar pelo internet banking ou pelo aplicativo. A ferramenta reúne funcionalidades do Messenger e de inteligência artificial do Watson, da IBM, para atender aos clientes em suas transações por meio do chatbot. Para garantir a segurança, as informações são criptografadas de ponta a ponta.

Em uma primeira fase, mil clientes e um grupo de funcionários vão participar do projeto. Agora, estarão disponíveis os serviços de consulta de extrato da conta-corrente e informações sobre cartão de crédito (como fatura, segunda via e liberação para uso do plástico). Como a operação envolve cartões Ourocard, a Visa participará com o suporte. Já nos próximos dias, o banco espera oferecer a possibilidade de os clientes fazerem consultas de saldo, extrato da poupança e de fundos de investimento. A novidade será oferecida a todos os clientes ainda no fim de março.

Ações como a parceria com o Facebook mostram como os temas tecnológicos têm sido tratados dentro da instituição financeira. É uma forma de reduzir despesas (desde o quadro de funcionários até o número de agências). Vice-presidente de Negócios de Varejo do BB, Marcelo Augusto Dutra Labuto disse aos Diários Associados que o avanço na aproximação dos clientes pelos meios digitais é inevitável e terá uma relevância cada vez maior: ;Não é mais uma tendência ou o tipo de investimento para aproximar o banco dos mais jovens, mas sim uma realidade que facilita a aproximação e permite entender melhor quais são as necessidades dos clientes;.

Em dezembro passado, o BB chegou a 15 milhões de usuários do mobile, o que representou um crescimento de 47% em um ano. Ao todo, 8,4 bilhões de transações foram feitas pelo smartphone em 2017 ; 45,6% a mais do que o registrado em 2016. Uma das funcionalidades mais recentes é a compra de dólar pelo aplicativo, que oferece a possibilidade de monitorar a taxa, agendar a retirada da moeda em até dois dias e localizar a agência mais próxima por meio de GPS.

Desafio das fintechs

A transição do mundo físico para o digital vem tendo um empurrão externo nos últimos anos com o crescimento das fintechs ; startups voltadas a serviços financeiros. ;Os novos entrantes no mercado de trabalho têm um perfil completamente diferente, por isso temos de nos adaptar às novas gerações, seja por movimentos como o das fintechs, que vêm desafiando os grandes players do mercado ao entrar em nichos muito específicos de atendimento. Os bancos estão procurando se reinventar, buscar melhorias nos seus serviços para poder fazer frente a isso. Nós, assim como todo o sistema, precisamos todo dia estar nos reinventando;, explica Labuto.

O próprio presidente do banco disse que a estratégia para 2018 é ser forte tanto no mercado de capitais quanto na conveniência oferecida ao cliente. ;Hoje, quase 1,6 milhão de clientes são nascidos no ambiente digital (por meio da Conta Fácil), e isso inclui quase todas as classes sociais. Cada vez mais precisamos oferecer o serviço na hora e no lugar que o cliente precisa, olhando as especificidades;, ressalta.

Para um banco fundado há mais de 200 anos, descolar da imagem de tradição para a imagem de inovação poderia parecer difícil, mas Labuto garante que não. ;Esse novo cliente não tem muito apego à marca, está mais aberto a experimentações. Por isso a importância de oferecer uma boa experiência. Temos de fazer uma abordagem correta no canal que ele deseja e garantir uma boa experiência;, explica.

Vice-presidente de Controles Internos e Gestão de Riscos, Márcio Hamilton Ferreira concorda: ;Precisamos estar preparados para dar essa conveniência ao cliente. Se ele quer que seja por meio do Facebook, precisamos nos engajar nesse processo;, diz.

Acompanhar de perto os clientes no meio de tantos avanços tecnológicos tem contado com a ajuda da análise de dados (data analytics) para entender como fazer a abordagem correta dos clientes a partir de hábitos de consumo, com base em informações, mas com a oferta de produtos mais próximos às suas características. ;Todos estão se preparando para esse momento, não apenas as fintechs. Elas desafiam a indústria o tempo todo, com um componente inovador por ir na experiência do cliente;, destaca Labuto.

Redução da nota do país já está precificada

Para Márcio Hamilton Ferreira, vice-presidente de Controles Internos e Gestão de Riscos do BB, a possibilidade de as agências de avaliação de risco reduzirem a nota do Brasil como resultado do adiamento da votação da reforma da Previdência não deve ter um impacto grande no planejamento do banco.

Para o executivo, o mercado financeiro já ;precificou;, ou seja, já trabalha com essa possibilidade, por isso não deve haver nenhuma surpresa se houver o corte na nota brasileira. ;Estar em um processo de avaliação pelas agências que aponte para uma piora não é o ideal, mas sim se estivéssemos em um processo crescente, mas isso já está muito absorvido pelo mercado financeiro.

Do ponto de vista de estratégia, diz Ferreira, o que se vê é a economia em processo de retomada. ;Estamos na torcida para que isso continue. Por mais que seja um ano desafiador, mas estamos tranquilos quanto à estratégia para 2018;, afirma.