Era nesse endereço que funcionavam as áreas administrativa, de criação e desenvolvimento e de distribuição da Dudalina. A empresa foi comprada em dezembro de 2013 por duas gestoras de fundos americanos, a Advent e a Warbug Pincus (WP), por valor estimado à época de cerca de R$ 800 milhões. Em outubro de 2014, foi a vez de a Restoque, dona de marcas como John John e Le Lis Blanc, adquirir o controle da fabricante de camisas, fundada em maio de 1957 pelo casal Adelina Clara Hess de Souza e Rodolfo Francisco de Souza Filho.
Em 2017, a direção da Restoque decidiu reduzir a operação da Dudalina em Santa Catarina, berço da marca, e iniciar a transferência de parte das atividades para Goiás. Em meados do ano passado, foram fechadas duas unidades de produção, em Benedito Novo e Presidente Getúlio. Mais tarde, foi a vez do fechamento da unidade de Blumenau, que agora está à venda. Ainda estão em funcionamento a Fábrica 54, também em Blumenau, a de Luís Alves (SC) e de Terra Boa (PR).
Em setembro de 2016, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), se encontrou com o então presidente da Restoque, Paulo José Marques Soares, quando foi anunciado que seriam investidos R$ 3 milhões na implantação de um centro de distribuição em Aparecida de Goiânia. Numa segunda etapa, seria construída uma fábrica.
A corretora Adriana Salmento lembra o impacto sentido na cidade quando a Restoque começou a desativar suas operações em Blumenau. ;Na época, comercializávamos imóveis do programa Minha Casa Minha Vida (de subsídio do governo federal às moradias populares). Da noite para o dia, alguns funcionários da Dudalina tiveram de suspender o processo de compra porque foram demitidos. Foi muito triste aquela situação;, conta. Naquela ocasião, foram cortados cerca de 430 funcionários.
;Os salários pagos pela Dudalina não eram os mais altos, mas o clima na empresa sempre foi muito bom. Hoje, os trabalhadores da Fábrica 54 estão muito angustiados, apreensivos, com medo de as portas fecharem de uma hora para outra;, diz Júlio José Rodrigues, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Vestuário de Blumenau (Sindivest).
O sindicalista se recorda de que, à época dos cortes de pessoal da unidade instalada na BR-470, houve a intervenção da Procuradoria do Trabalho, que caracterizou demissão em massa. Ficou decidido pela Justiça que a empresa teria de pagar multa de dois salários adicionais a cada um dos cerca de 100 funcionários desligados daquela divisão, o que teria totalizado adicional estimado em cerca de R$ 1 milhão aos custos com a rescisão.
Para o diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau (Sintex), Renato Valim, o maior impacto com o encerramento paulatino das operações da Dudalina na região é emocional. ;Os funcionários da empresa representam parcela muito pequena da nossa base de trabalhadores na região, que engloba 18 municípios do Vale do Itajaí. Certamente, eles foram absorvidos por outras empresas. Mas é claro que existe um reflexo na queda de arrecadação do município. Sem contar a tristeza por ser uma marca tão tradicional, que era um orgulho para a região;, afirma.
Casa em ordem
Agora, além de se desfazer de ativos, a Restoque tenta encontrar rumo para sua marca de camisas. Em dezembro do ano passado, durante reunião da direção da empresa e dos acionistas, ficou decidido que a Dudalina deixará de existir como uma empresa, ou seja, ficará apenas a marca. Por meio de uma reestruturação societária, conduzida pela consultoria Apsis Consultoria e Avaliações, do Rio de Janeiro, será levantado o patrimônio líquido contábil da Dudalina para que seus bens, direitos e obrigações sejam absorvidos pela Restoque, que já detém 100% do capital social da marca de camisas. Se a unificação for efetivada, a companhia pretende ;racionalizar operações, otimizar a administração e minimizar despesas mediante economia de escala;. É uma forma também de reduzir os custos para manter duas estruturas societárias, além da possibilidade de obter ganhos fiscais.
Paralelamente a essa manobra para incorporar a Dudalina, a Restoque vem colocando em prática, no último ano, uma política de enxugamento da rede de lojas do grupo. Segundo balanço do terceiro trimestre de 2017, a companhia reduziu o número de pontos de 327 ao fim de 2016 para 293 em setembro do ano passado. O objetivo, segundo a empresa, é ;conferir maior eficiência ao varejo, com foco em maior produtividade da base existente de lojas, no ganho de rentabilidade e na geração de caixa;, informou em comunicado emitido ao mercado.
Com esse plano, a Restoque conseguiu aumento de 18,6% da produtividade por metro quadrado da companhia no terceiro trimestre de 2017 e de 25,9% no acumulado nos nove primeiros meses do ano. Em outras palavras, o objetivo é aumentar a rentabilidade das lojas instaladas. A Restoque foi procurada pela reportagem, mas informou, por meio da assessoria de imprensa, que não comentaria a situação. Sônia Hess, última presidente da Dudalina antes da venda da empresa e uma dos 16 filhos dos fundadores, preferiu não comentar o assunto.
- Quem é
Raios X da Restoque
Marcas que detém
; Dudalina
; Bo.Bô
; Rosa Chá
; John John
; Le Lis Blanc
; Individual
; Base Jeans
Faturamento
R$ 408,3 milhões*
Faturamento bruto da Dudalina
R$ 108,3 milhões*
Os destaques- 9,5%
Foi o aumento do faturamento da marca
Dudalina no terceiro trimestre de 2017,
frente a igual período do ano anterior
- 10,4%
É quanto da Restoque reduziu
seu número de lojas de janeiro
a setembro de 2017
- 13,2%
Evolução das vendas da Dudalina
entre o terceiro trimestre de 2017
e o mesmo período de de 2016
Os sócios (Restoque)- Marcelo Faria de Lima (sócio da Artesia)
24,2%
- Marcio da Rocha Camargo (sócio da Artesia)
24%
- Fundos sob gestão da Warbug Pincus
23,9%
- Fundos sob gestão da Advent International
23,7%
- Outros
4,1%
Fonte: Site da empresa
(*) Cifra referente ao terceiro trimestre de 2017 - 9,5%