Jornal Correio Braziliense

Economia

Temer reitera que governo não abre mão do controle Embraer

Associação da aérea brasileira com a Boeing seria positiva para as duas companhias, dizem especialistas. Ministério da Defesa aguarda por uma nova proposta da Boeing com intenções "menos hegemônicas"


Uma fonte presente à reunião entre o ministro da Defesa, Raul Jungmann e representantes da Boeing garantiu que o governo não tem intenção de interferir em transações empresariais, mas aguarda por uma proposta da Boeing que isole a área de Defesa da Embraer. ;Do jeito que Boeing quer, a operação fará a parte comercial da Embraer decolar, mas vai enterrar a parte militar;, comentou. ;Esperamos por uma proposta com menos intenção hegemônica;, disse.

O governo justificou seu posicionamento alegando que a Embraer é uma empresa muito demandada pelas Forças Armadas no desenvolvimento de produtos, desde submarino a satélites, e na estratégia militar, para monitorar fronteiras e o espaço aéreo. No entanto, o governo detém apenas a golden share porque o capital da Embraer é pulverizado. O BNDESPar tem 5% das ações, a Previ tem menos que isso, e o maior acionista individual é um fundo americano, com participação de 14,4%, e o governo pode não ter como impedir que esse fundo venda sua participação para Boeing.

O interesse da Boeing na Embraer despertou depois que a sua principal concorrente, a francesa Airbus, se uniu à canadense Bombardier, que produz aviões de até 120 assentos como os feitos pela Embraer. Até então, a Boeing estava sentada na confortável posição de líder mundial na fabricação de aviões, mas seu foco são aviões acima de 150 assentos e passou a concorrer com uma Airbus agora com capacidade para vender aeronaves de 50 até 400 lugares.

Para Adalberto Febeliano, professor de Economia do Transporte Aéreo, é fundamental o país negociar bem para a Embraer manter a capacidade de engenharia, linhas de produção, projetos estratégicos, integração de satélite, sem que essas informações caiam nas mãos dos Estados Unidos, mas também é importante qualificar a aérea brasileira para projetos maiores com a parceria com a Boeing. ;Hoje, as empresas não têm mais dono, são corporações. Este tipo de modelo híbrido, de manter a parte de defesa, já existe. A própria Boeing declara que tem parcerias desse tipo na Austrália e na Inglaterra. Basta revelar como funcionam as salvaguardas;, destacou.

Febeliano destacou que todos os governos ajudam suas indústrias aeroespaciais, justamente, porque são estratégicas de ponto de vista militar. ;A Embraer teve financiamento a taxas subsidiadas há mais de 20 anos. Mas hoje não tem subsídios como as outras. Discordo do governo quando diz que quer perder o controle da área militar. Como vai manter os projetos sem dinheiro?;, indagou.

Além disso, se o governo demorar demais, a Boeing pode, simplesmente, buscar associação com outras empresas. ;A base de engenharia da Embraer é muito sólida, com atuação importante tanto no mercado civil como no militar;, garantiu o especialista em aviação Edmundo Ubiratan. Contudo, outros países vem desenvolvendo a indústria rapidamente. ;A China representa um risco no longo prazo. Os chineses têm dinheiro e emergem como concorrentes importante no mercado de aviação. Estão comprando empresas para aprimorar seu know how tecnológico. Fizeram isso com a Cirrus e a Epic, e mais recentemente com a Diamond;, destacou.

O professor Febeliano lembrou que o Japão tem a Mitsubishi, que está desenvolvendo um jato regional, e a Honda. ;A diferença é que enquanto Embraer sempre certifica no prazo, os demais concorrentes estão sempre atrasando. A própria Bombardier atrasou projetos em anos;, comparou. ;A Embraer tem poder de barganha, não precisa entregar tudo se o acordo não for interessante;, defendeu.