Rio de Janeiro ; Maior banco digital do Brasil em número de contas e o segundo em ativos, o Banco Inter contratou Bradesco, Morgan Stanley, Citigroup e Banco do Brasil para um IPO programado para abril, tornando-se potencialmente a primeira fintech brasileira a listar na B3 numa época de intensa desintermediação financeira e inovação incessante.
As conversas com investidores devem começar no fim deste mês. Segundo fontes próximas à oferta, o Inter fechou o ano passado com quase 400 mil correntistas digitais e, em dezembro, estava abrindo cerca de 2,7 mil contas por dia. O Inter teve lucro líquido de cerca de R$ 50 milhões em 2017 ; mais do que o dobro do resultado do ano anterior ; e fechou o ano com R$ 3,5 bilhões em ativos. Para efeito de comparação, o Banco Original tem cerca de 145 mil correntistas e R$ 7,7 bilhões em ativos.
Sem o custo pesado das redes de agências dos bancos tradicionais, o grande diferencial do Inter é não cobrar tarifas para abrir ou manter contas, emitir cartões de crédito, transferir dinheiro entre contas ou realizar saques em caixas eletrônicos.
Em sua sede em Belo Horizonte, o Inter mantém um ;tarifômetro; para medir quanto seus clientes estão economizando em tarifas que pagariam em outros bancos. O modelo tarifa-zero significa que o Inter ganha dinheiro com operações de crédito, tesouraria e cobrando por outros serviços, como câmbio, seguros, distribuição de fundos e até recargas de celular em seu aplicativo. A área de crédito respondeu por cerca de 60% do resultado do banco no ano passado e, dentro dela, o crédito imobiliário fez quase 70% do resultado, de acordo com uma fonte que teve acesso aos números.
O Inter é controlado por Rubens Menin, o empresário mineiro que se tornou conhecido no mercado ao levar sua MRV Engenharia para a Bolsa de Valores em 2007. Menin é chairman da MRV, hoje dirigida por seu filho mais velho, Rafael. O CEO do Inter é o filho mais novo de Rubens, João Vitor Menin, um engenheiro civil de 35 anos que largou a carreira na MRV em 2004 para trabalhar numa financeira que era nada mais que um apêndice do patrimônio da família.
O Inter tem sua origem na financeira Intermedium, que começou focada no crédito ao consumidor em 1994. Antes de levar a MRV para a bolsa, os Menin tiraram a Intermedium do balanço e a transformaram em banco em 2008. Além de crédito ao consumidor, o então Banco Intermedium passou a oferecer crédito imobiliário, consignado e financiava pequenas e médias empresas.
A atual encarnação ; o banco digital ; existe há apenas dois anos. Para se tornar conhecido, o Intermedium fez um contrato de patrocínio de gente grande: pagou R$ 40 milhões ao São Paulo para aparecer na camisa do clube entre 2017 e meados de 2020. No ano passado, o banco encurtou o nome e adotou a marca atual.
O IPO do Inter vem numa época em que os clientes de bancos se queixam de tarifas sufocantes, que frequentemente crescem acima da inflação num mercado cada vez mais concentrado. Neste contexto, as perspectivas para novos entrantes ; cobrando menos e oferecendo serviços melhores ; parecem ilimitadas.
Ainda assim, tanto o Inter quanto os outros bancos digitais terão de se provar capazes de quebrar a inércia que leva correntistas a manterem suas contas nos chamados ;bancos de primeira linha; ; a despeito das tarifas altas ;, num país com um histórico econômico turbulento.
Ao permitir um escrutínio maior de seu balanço e de seu modelo de negócios, o Inter também vai proporcionar o primeiro teste do apetite do mercado de capitais por fintechs, numa era em que os gigantes do setor já acordaram para o declínio das agências físicas e expandem a oferta de contas digitais.
O Inter opera num terreno povoado por instituições com ambições ao título de ;banco digital; ; com graus variados de pureza ;, como o Original, que mantém algumas agências físicas, o Next, do Bradesco, o Banco Neon e o Banco BS2 (anteriormente conhecido como Bonsucesso). Há três meses, o próprio Nubank, que só oferecia cartão de crédito, também passou a abrir contas correntes.