Nos últimos anos, privados dos empregos ceifados pela crise econômica, um grande número de brasileiros, para sobreviver, se lançou no mercado à frente de um negócio próprio. Outros buscaram empreender por opção. É normal, porém, que as pessoas tenham medo de investir as economias em um empreendimento que pode ou não dar certo. Para ter sucesso, é preciso se preparar. Especialista em finanças pessoais e professor do Ibmec-DF, Marcello Minutti diz que o segredo é o equilíbrio. ;É necessário equilibrar a capacidade de adquirir conhecimentos e as experiências de vida;, afirma Minutti.
O especialista ressalta, entretanto, que planejamento é fundamental. É necessário que o empreendedor analise o mercado que pretende atuar e tenha noção exata de quanto pretende investir. Se for preciso tomar um empréstimo, por exemplo, é preciso calcular tudo muito bem para não contrair dívidas com as quais não possa arcar no futuro. ;O empréstimo é uma alternativa para quem não tem recursos disponíveis, mas só deve ser feito após um planejamento consistente;, enfatiza Minutti.
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Ganhos
Por aproveitar o conhecimento oferecido pelo franqueador, que é o proprietário do modelo de negócios já testado e aprovado, a franquia é mais segura. Porém, como todo investimento com baixo risco, oferece ganhos menores a médio e a longo prazos. Já as startups são apostas de maior risco, pois atuam em espaços pouco desenvolvidos ou inexplorados. Os ganhos, porém, podem ser bastante elevados a longo prazo. ;Não existem fórmulas prontas. Depende do perfil do empreendedor. Mas uma pessoa que prefere não correr muitos riscos deve optar pelas franquias. As startups são para os mais corajosos;, aconselha Minutti.
A escolha entre um modelo e outro, em outras palavras, depende das características e comportamentos pessoais. Antes de tudo, há uma regra que vale para qualquer tipo de empreendedor: é preciso ter força de vontade, persistência e não desistir diante das dificuldades. Outro requisito é ter capacidade de planejamento. ;A pessoa certa para empreender é a que planeja metas, levanta informações e se preocupa com a qualidade. São indivíduos com atitude;, resume o gerente da Unidade de Atendimento Individual do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Enio Pinto.
O Brasil é um país repleto de pessoas criativas e com perfil empreendedor, mas isso não se reflete nos números. ;As pesquisas mostram que o brasileiro é muito empreendedor, mas num aspecto quantitativo. Há muitos jovens com um foco inovador, mas eles não representam a grande escala do país ainda;, explica o especialista do Sebrae.
Futuro
Regina Luna, 56 anos, e o filho Caio Lages, 30, são donos da ;Casa Bela Persianas;, um negócio de cortinas, acessórios e decoração que vem dando certo há quase duas décadas. ;Eu trabalhava numa empresa do mesmo ramo, mas acabei ficando desempregada;, diz Regina. O caminho trilhado pela empresária e o filho foi árduo. Eles começaram a empresa na própria casa, no início dos anos 2000. ;Hoje estamos prestes a nos mudar para o Casa Park para abrir mais uma loja;, diz a empresária, que tinha dois filhos para criar quando se viu sem emprego. ;Na época, estava separada. O começo não foi tão difícil, mas tenho medo do futuro. Nunca dá para ter segurança quando se é empresária no Brasil;, desabafa.
Ao longo de 18 anos, a empresa enfrentou duas grandes crises. ;A pior delas foi a de 2015 e 2016. Conseguimos dar a volta por cima, trabalhamos muito, sempre focados. Mas é sempre muito triste ter que cortar pessoal, principalmente gente que não merece;, afirma Regina. Ela diz que não admite o fracasso. ;Era proibido pensar em crise naquela época;, complementa. Diminuição de custos, quadro de funcionários, tudo foi pensado. Mas, ainda assim, a decisão teve que ser tomada no meio da crise. ;Oferecemos facilidades e reduzimos nosso lucro naquele período de crise para podermos sobreviver;, conta.
Gestão é essencial
Os especialistas avisam que o sucesso de qualquer negócio é a profissionalização, principalmente, na área de gestão. ;A maioria das pessoas que busca empreender no Brasil aposta em aproveitar algum hobby, como cozinhar. Mas, geralmente, elas dominam apenas a parte operacional e não sabem gerir o restaurante que querem montar;, explica Enio Pinto, do Sebrae. ;Além de conhecer o lado operacional, é preciso dominar a gestão do empreendimento. Sem esse equilíbrio, não há como criar o comportamento empreendedor;, completa.
Armin Reinehr, 29 anos, consegiu driblar a crise por meio da profissionalização. Ele faliu há três anos, mas voltou ao mercado com outro nome empresarial e novos sócios. Na retomada, teve assessoria do Sebrae, analisou os pontos fracos do negócio e buscou cercar-se de pessoas mais experientes. ;A primeira empresa que montei era voltada à criação de websites e ao desenvolvimento de softwares para celulares. Mas era um período fácil para as pessoas criarem seus próprios sites. A concorrência era muito grande;, explica.
Oportunidade
Na nova empresa, Reinehr manteve o segmento de atuação, mas mudou o tipo de serviço para consultoria. ;Nós éramos uma startup, mas não sabíamos muito bem o que faríamos. Fomos com o pé na porta e muita coragem e não deu certo. Agora, criamos um novo modelo de negócios e não pensamos mais em mudar;, afirma.
Reinehr reconhece que, na primeira empreitada, tinha uma oportunidade a ser explorada, mas não pensou muito em como abordar a questão. ;Criamos a empresa sem buscar mais informações. Só quando as dificuldades apareceram, fomos atrás de cursos de capacitação. Sentimos muito a crise, porque um dos primeiros setores que ela pegou foi o de informática;, desabafa. ;Na segunda empreitada, usamos o conhecimento acumulado e incluimos pessoas com mais experiência. Tudo foi mais bem planejado;, explica. A principal dica, segundo ele, é se inspirar em algo de que se gosta. ;Você tem que fazer o que gosta, mas fazer bem, e, diante das dificuldades, sempre continuar tentando;, incentiva.
Marcelo Minutti, do Ibmec, reforça que o empreendedor precisa também ter conhecimento da área em que pretende atuar. ;O empreendedor não deve ter preocupação com os mercados mais atrativos, mas, sim, se tem capacidade de execução e as habilidades necessárias para empregar no que gostaria de propor ao mercado. Se a resposta for negativa, não recomendo que ele entre em uma área que não conhece;, alerta. (LC)
*Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo.