Jornal Correio Braziliense

Economia

Consumo das famílias deve aumentar nos próximos anos

A inflação no menor nível em duas décadas e os juros no mais baixo patamar da história estão dando condições para os brasileiros voltarem a demandar bens e serviços, mas a sustentabilidade desse cenário positivo depende do próximo presidente da República



Enquanto os especialistas percebem a melhora nos números, as famílias a sentem no bolso. Boa parte dos gastos que a dona de casa Priscila Trigueiro, 29 anos, e o marido, o analista contábil Carlos Trigueiro, 29, precisaram segurar ao longo do ano saíram do papel nos últimos três meses. ;Trocamos de cama, compramos celulares novos e conseguimos reformar a cozinha;, conta Carlos. Os reflexos chegaram à ceia de Natal. O quilo do bacalhau, lembra a dona de casa, estava R$ 10 mais barato este ano. O filho do casal, Gabriel, 3, também percebeu que o Papai Noel foi mais generoso. ;No ano passado, ele ganhou uma bicicleta. Este ano, foram cinco brinquedos diferentes. O nível dos presentes para os familiares melhorou. Deixou de ser só lembrancinha;, comemora Priscila.

A explicação para o aumento dos gastos está ancorada na conjuntura criada pela atual política econômica. Com as expectativas de inflação acomodadas, os juros caíram e as concessões para consumidores se recuperaram. Para a economista-chefe da Rosenberg, Thaís Zara, o quadro deve ser mantido em 2019. ;Com a melhora dos mercados de crédito e de trabalho, a perspectiva é muito boa para o consumo das famílias nos próximos dois anos;, avalia.

Puxado por tais condições, o consumo em 2019 subirá 3,5%, mas a perspectiva de alta acima do PIB para por aí. A previsão de geração de riquezas da Rosenberg para o ano é a mesma das demandas das famílias. ;É uma projeção sujeita a choques, dado o horizonte mais longo;, justifica Zara. Não é para menos. Se, por um lado, a economia deve deslanchar em 2018, por outro, as incertezas em relação à próxima política econômica tornam mais difíceis a assertividade das projeções. Sobretudo no campo político. ;Até 2019, saberemos quem vai ser o presidente e sua capacidade de fazer reformas;, diz.

No caso de a reforma da Previdência ficar para 2019, o próximo governante precisará mostrar aos agentes econômicos a adoção de medidas necessárias para evitar a interrupção do crescimento. Sem o equilíbrio fiscal, os impostos tendem a subir e os investidores podem aplicar capital no mercado externo, o que elevaria o dólar em relação ao real. Os dois fatores provocam pressão sobre a inflação, obrigando o Banco Central (BC) a subir os juros, o que assusta empresários e inibe investimentos, fundamentais para a geração de empregos. ;Ou seja, o quadro ficaria adverso para o consumo;, adverte o economista Fábio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores.

;O consumo é uma junção de salário e crédito. Uma candidatura que não transmita comprometimento com os ajustes pode significar nova alta de juros e do câmbio. E, assim, o consumo vai encolher;, alerta Silveira. A reforma da Previdência, no entanto, não é a única medida que o próximo presidente deverá adotar. ;Quem assumir vai ter que mexer em supersalários e nos benefícios do funcionalismo;, avalia. (Colaborou Alessandra Azevedo)


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Ter um bom relacionamento com os mercados internacionais poderá dar uma sobrevida ao próximo presidente da República. Portanto, a proposição de medidas austeras é imprescindível para obter apoio e confiança desses agentes econômicos e evitar a perda do mandato, alerta o economista Fábio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores. ;O mercado internacional financia importações e exportações, com efeito sobre juros e câmbio. É necessário ter uma boa relação com esses agentes. Peitar as regras desse mercado colocaria o Brasil em risco de terminar como a Grécia ou a Venezuela;, adverte.