;É interesse de todos os acionistas que o negócio prospere, por isso parece improvável que o Marcelo resolva voltar a tomar alguma decisão no grupo;, afirma um analista que conhece de perto a empresa. Segundo Garcia, hoje o grupo tem uma preocupação em revitalizar dois de seus principais ativos: a construtora e a Braskem. Por isso, tem implementado uma série de mudanças nos últimos dois anos, quando começaram os acordos de colaboração com a Justiça no âmbito da Operação Lava-Jato.
Azevedo vê como improvável a volta de Marcelo aos negócios, ainda que seja um acionista importante. No período de negociação pré-delação premiada, sua relação com a família começou a se deteriorar por conta de opiniões divergentes. Como consequência, Marcelo acabou negligenciado nas decisões da companhia. ;Ainda que ele pudesse voltar aos negócios, isso não seria uma ameaça à modificação profunda no modus operandi da nova gestão;, diz Azevedo. Já a saída de Emílio, explica o professor, pode ter um peso positivo, porque mostra ao mercado que os negócios dão mais um passo importante para a profissionalização do grupo.
Sem mudanças
Assim como Azevedo, Marcos Melo, professor de finanças do Ibmec-DF, diz que a prisão domiciliar de Marcelo não deve mudar a condução dos negócios da família ou a forma como o mercado tem percebido o grupo desde a sua prisão. ;Entre os fatos mais recentes, sem dúvida o mais importante é a saída do Emílio do conselho, porque pode representar a continuidade do grupo e a possibilidade de no futuro voltar a prestar serviço para clientes para os quais não pode hoje, como a União.;
Ainda que o mercado saiba que o grupo vem se comprometendo com regras mais rígidas de governança corporativa desde que estouraram os escândalos envolvendo suas empresas, as mudanças levarão muito tempo para serem efetivamente implementadas. ;Por mais que os envolvidos em atos criminosos tenham sido afastados ou punidos pela Justiça, infelizmente esse comportamento permeia a cultura da empresa e leva um tempo para que a nova cabeça da organização influencie todo o corpo, ou seja, colaboradores e seus fornecedores;, diz Melo.
Por meio de nota, a Odebrecht informou apenas que manifesta ;solidariedade com Marcelo, esposa e filhas por seu retorno ao convívio familiar. Marcelo conta com o reconhecimento da empresa por enfrentar as adversidades atuais com coragem e espírito de colaboração;. O texto, curto e pouco elucidativo, pode ser mais um sinal de que o ex-presidente do grupo será tratado apenas como acionista, e nada mais.
- Grupo vende ativos e troca nomes de empresas
Desde que teve de enfrentar a Justiça, o Grupo Odebrecht vem passando por uma série de mudanças ; da troca do nome de algumas de suas empresas à venda de ativos. Até agora, o programa de alienação de ativos, tanto no Brasil quanto no exterior, trouxe para a companhia R$ 7,3 bilhões, mas a estimativa é que a soma alcance R$ 12 bilhões. O processo só deve ser concluído no primeiro semestre de 2018. Mas o que foi feito até agora, segundo a companhia, já reduziu a dívida consolidada pela Odebrecht S.A. em R$ 9 bilhões. Com a conclusão do programa, prevista para o primeiro semestre de 2018, a redução deverá chegar a R$ 16 bilhões. Além de se desfazer de ativos para reforçar o caixa, o grupo optou por mudar algumas marcas. A Odebrecht Agroindustrial passou a se chamar Atvos. A Odebrecht Realizações Imobiliárias tornou-se a OR. Já a Braskem, apesar de ter mantido o nome, passou a adotar uma nova marca, com identidade visual nas cores azul e amarelo. A intenção é que a marca Odebrecht passe a ser usada exclusivamente para denominar a holding.