Depois de cair 1,2% na última quarta-feira, logo após o adiamento ter sido anunciado pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) encerrou o pregão de ontem com nova queda. O Índice Bovespa recuou 0,67%, para 72.429 pontos. Já o dólar subiu 0,82%, cotado a R$ 3,337 para venda. A tendência de desvalorização dos ativos brasileiros deve aumentar nos próximos dias, uma vez que duas das três maiores agências de classificação de risco norte-americanas, a Moody;s e a Fitch Ratings, já deram sinais, ontem, de que podem anunciar em breve novo rebaixamento do país. A nota dos títulos soberanos brasileiros já está a dois degraus abaixo do nível de investimento.
;A janela de oportunidade para uma reforma significativa da seguridade social antes do ciclo eleitoral de 2018 está se reduzindo, e outros atrasos ou diluições representam riscos para a viabilidade do limite de gastos e a estabilização da dívida a médio prazo, bem como riscos potenciais para a confiança do mercado e o processo de recuperação em curso;, informou a Fitch, em nota.
Para o vice-presidente e analista sênior da Moody;s para ratings soberanos, Samar Maziad, deixar a reforma para fevereiro do ano que vem ;indica falta de apoio político para a proposta;. ;Isso aumenta a possibilidade de que a reforma não seja aprovada no ano que vem, dada a incerteza em torno das eleições presidenciais;, disse. ;O adiamento (da reforma) fortalece as preocupações sobre a capacidade do governo para cumprir o teto de gastos e endereçar efetivamente as tendências fiscais adversas que têm gerado uma persistente deterioração do perfil de crédito do país nos últimos anos;, completou Maziad.
Ontem, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que, na próxima semana, fará ;uma série de ligações e conferências telefônicas com as agências de rating, visando esclarecer a situação;.
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, acredita que o atraso da reforma não afeta o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e no próximo, porque ainda há espaço para que ela seja aprovada em 2019. Segundo ele, nem mesmo uma possível alta do dólar prejudicará a retomada da economia. ;Há stress de curto prazo, não tenha dúvida, mas, como a expectativa é que a reforma seja aprovada lá na frente, os grandes números não mudam;, afirmou.
Para Vale, o grande dia será 24 de janeiro de 2018, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será julgado pelo Tribunal Regional Federal da 4; região (TRF-4). ;A depender do resultado, o mercado vai entregar parte da alta da bolsa que vimos até agora. Mas, se não houver a reforma em 2019, com o novo presidente, aí, de fato, será uma situação de crise;, avaliou.
Na avaliação do consultor e ex-diretor do Banco Central, Alexandre Schwartsman, o adiamento da reforma já era esperado, e o que mais preocupa, daqui para a frente, é o resultado das eleições. ;O próximo governo precisará estar comprometido com a agenda reformista. Sem ela, não será possível prever um cenário mais sólido;, disse, minimizando o risco de novo rebaixamento das agências de rating. ;O país já está na lama até a cintura. Se ficar até o peito, muda muito pouco;, afirmou.
Colaborou Alessandra Azevedo