Economia

"Brasil deve focar na agricultura de precisão", diz Robert Atkinson

O americano Robert D. Atkinson, presidente e fundador da Fundação de Tecnologia da Informação e Inovação (ITIF), afirma que há uma importante revolução ocorrendo no setor agrícola.

Simone Kafruni
postado em 15/10/2017 17:11

Robert Atkinson declara que há políticas públicas que apresentam obstáculos para o avanço tecnológico, como tributos e tarifas.

Considerado o titã da tecnologia nos Estados Unidos, o americano Robert D. Atkinson, presidente e fundador da Fundação de Tecnologia da Informação e Inovação (ITIF), lidera uma equipe que dissemina globalmente, com sucesso, o debate sobre inovação tecnológica e políticas públicas. ;Analisamos como a inovação é incentivada em mais de 100 países e mostramos como evitar políticas públicas ineficientes;, explica. No Brasil para proferir palestras, o especialista, tratado por revistas especializadas como um dos ;três pensadores mais importantes sobre inovação;, avalia que o país precisa focar nos setores em que é capaz de se tornar um líder global. E sugere investimentos na agricultura de precisão e na indústria de petróleo e gás. Confira a seguir os principais trechos da entrevista concedida ao Correio:

Como o senhor avalia o debate sobre inovação e a evolução do Brasil na era digital?

Certamente há uma lacuna entre o que o existe hoje no Brasil e o que ocorre nos líderes globais, como Estados Unidos e alguns países. Não há dúvidas sobre isso. Mas existem duas coisas a serem consideradas na era digital. As empresas que produzem produtos e serviços tecnológicos, como desenvolvedores e empresas de internet. E as que consomem inovação, que são muito mais importantes em países emergentes, como bancos, empresas, fazendas e indústrias que usam tecnologia digital. Nesse cenário, eu acredito que o Brasil pode melhorar significativamente.

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Quais os principais entraves no país?

Existem algumas políticas públicas no Brasil que representam obstáculos ao avanço. Por exemplo: fizemos um estudo há cerca de dois anos em 115 países para medir tributos e tarifas em produtos digitais e serviços. O Brasil é o segundo com a carga mais alta. O primeiro é Bangladesh. O mais problemático sobre isso é que, de acordo com pesquisadores, cada R$ 1 acrescido em custo reduz o consumo em R$ 1,5. Então, uma das razões para o país não adotar a era digital é o custo imposto pelo governo. Alguém me disse, quando estive em São Paulo, que, em alguns estados do país, a banda larga é taxada em 60%. Nos planos do governo para expandir a banda larga não há menção de reduzir a carga tributária.

Como o Brasil pode acelerar o avanço tecnológico e quais áreas deve priorizar?

O que me preocupa um pouco no Brasil é que o país tenta se tornar líder na tecnologia IoT (internet of things, internet das coisas). E o que precisa realmente fazer é focar naquilo que é bom. Escolher áreas onde possa liderar. Uma delas é agricultura. Há uma importante revolução ocorrendo no setor agrícola, que se chama agricultura de precisão. O Brasil tem um ótimo sistema agrícola, com alta produtividade. Se eu fosse aconselhar o governo eu diria que há muita competição no mundo e não é possível fazer tudo. O Brasil não vai ser o melhor em produzir supercomputadores, portanto nem deve gastar dinheiro com isso. Mas o país pode ser líder em agricultura de precisão, assim como deve explorar e investir em inovação no setor de petróleo e gás. Essas indústrias estão se transformando na era digital.

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