O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou nesta quinta-feira (3/8), durante entrevista à rádio Jovem Pan, que a reforma da Previdência e a meta fiscal importam para o cenário da instituição, mas que o BC tem se concentrado no médio e no longo prazo.
Questionado a respeito da possibilidade de mudança da meta fiscal do governo para este ano, Ilan Goldfajn afirmou: "Não temos comentado sobre questões de curtíssimo prazo. Temos nos concentrado na ideia de que as contas públicas têm que estar em ordem ao longo do médio e longo prazo. Isso tem a ver com os ajustes fiscais, mas também tem a ver com as reformas que estão aí. Tudo isso junto faz o cenário mais ou menos forte para a economia brasileira e, com isso, o BC pode chegar mais longe na queda de juros ou não".
Ao ser questionado se a reforma da Previdência teria mais importância que a questão da meta, Ilan Goldfajn defendeu que ambas importam para a instituição. "É um conjunto. Tudo importa, olhando o futuro, não as mudanças mês a mês", afirmou.
Ao abordar a recuperação da atividade, ele disse que ainda existe ociosidade de fatores, "o que significa que a economia está fraca ainda, apesar de que ela já está começando a se recuperar". Ao mesmo tempo, ele afirmou que o emprego ainda precisa se recuperar e que as fábricas têm espaço para produzir. "Portanto, a inflação está num processo de queda", comentou.
"Ela (inflação) caiu de dois dígitos em 2015 e hoje está perto de 3%. A medida que a economia vai se recuperar, essa inflação vai subir para em torno de 4%, 4 e pouco no ano que vem, e isso permite que a gente continue esse processo de queda de juros", pontuou o presidente do BC.
Ilan Goldfajn evitou, no entanto, se comprometer com o ritmo de cortes da Selic. "Quanto que vai ser a cada reunião, a gente só decide na hora. Mas a gente sinalizou que, dependendo das condições da economia, de inflação e atividade, a gente poderia, inclusive, manter o ritmo que vínhamos adotando", disse o presidente do BC.
Na ata do último encontro do Copom, divulgada na terça-feira, a instituição deixou aberta a possibilidade de novo corte de 1 ponto porcentual da Selic. "Mas isso sempre depende das condições da economia, da nossa expectativa de quanto os juros vão chegar ao final. É uma sinalização de que as coisas estão indo bem, que a inflação está caindo e que vamos continuar fazendo nosso papel", acrescentou.
Para o presidente do BC, não há risco para a continuidade do processo de baixa da inflação nos próximos anos. "A inflação hoje já está correndo em patamar mais baixo. Falamos de inflação este ano um pouquinho abaixo de 4%. No ano que vem, sobe um pouquinho. Não vejo algum risco em continuar este processo de queda da inflação ao longo dos próximos anos", disse.
Ilan Goldfajn também citou a perspectiva de alta de 2% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2018. "O que estamos observando é uma recuperação gradual. Portanto, se continuarmos recuperando, a taxa de crescimento para o ano que vem é 2% ou até mais alta", disse. "O importante é observar se todo mês teremos algum ganho adicional. Tivemos algum ganho de emprego neste último dado. A produção industrial no semestre passado teve uma subida", citou. "A economia saiu da recessão, se estabilizou e está com recuperação gradual. Este é nosso cenário: estabilização e recuperação gradual."
TLP
Em outro trecho da entrevista, Ilan Goldfajn defendeu a Taxa de longo Prazo (TLP), criada pela medida provisória 777 para substituir, a partir de janeiro, a TJLP nos contratos do BNDES. "O que tentamos fazer é democratizar os juros no Brasil. A taxa do BNDES é mais barata só para alguns, para quem tem acesso. O resto fica com juros muito maior", disse o presidente do BC. "É como ir ao cinema com meia entrada ou entrada inteira. Quanto mais barato a meia entrada, mais cara a entrada inteira. Nosso trabalho nessa reforma é democratizar, é ter juro mais baixo para todo mundo."
O presidente do BC afirmou que é natural que "quem recebe a meia entrada vá reclamar, mas isso faz parte dos ajustes". "Não há como tentar melhorar a economia, reduzir os juros, aumentar os juros, sem ter algumas reclamações. Mas a maioria silenciosa vai se beneficiar em muito com essa reforma."
Para Ilan, o Brasil caminha para ter juros mais baixos, de forma sustentável. "Mesmo que tenhamos subidas ou descidas ao longo do tempo, caminhamos para ter uma média de juros mais baixa no futuro do que hoje", afirmou.