Brasil voltará a ter juros de um dígito a partir desta quarta-feira (26/7), quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reunirá para decidir o tamanho da queda da taxa básica (Selic), hoje em 10,25% ao ano. No mercado, a maioria dos analistas estima que os diretores da autoridade monetária decidirão, de maneira unânime, por corte de um ponto percentual. Com isso, a Selic descerá a 9,25% ao ano, o menor nível desde novembro de 2013.
Mesmo que os integrantes do colegiado surpreendam os economistas e cortem os juros em apenas 0,75 ponto percentual, a taxa ficara abaixo de dois dígitos, em 9,5% ao ano. Apesar de ser a aposta de poucos analistas, alguns avaliam que sem o avanço da reforma da Previdência, diante da escalada da crise política, o governo terá grande dificuldade para fechar as contas. Isso poderá levar a equipe de Ilan Goldfajn a adotar uma postura mais conversadora em relação ao ritmo de cortes.
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[SAIBAMAIS]Uma das poucas a apostar nesse cenário é a economista-chefe da CM Capital Markets, Camila Abdelmalack. Apesar de avaliar que existem fortes argumentos para sustentar uma queda de um ponto percentual de juros, ela destaca que o preço dos ativos, sobretudo o do dólar, não reflete os riscos em relação à economia brasileira. Camila afirma que, após a alta do PIS/Cofins, não estão descartadas novas elevações nas alíquotas de tributos, fator que pressionaria a inflação.
Diante desse risco, a economista revisou a estimativa para a inflação de 2017, de 3,5% para 4%. ;Essa projeção só leva em conta a alta do PIS/Confins e a possibilidade de mudança da bandeira tarifária da energia para vermelho. Outras elevações de tributos podem trazer pressões adicionais ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA);, alerta.
A alta de impostos levou o mercado a revisar as estimativas para o IPCA de 2017. Conforme o Boletim Focus do BC divulgado ontem, a mediana das expectativas dos analistas passou de 3,29% para 3,33%. Mesmo com a alta na projeção para a inflação, os economistas não mudaram as apostas para a Selic. A mediana das projeções aponta que a taxa terminará o ano em 8% e permanecerá nesse patamar ao longo de 2018. A estimativa para o crescimento, entretanto, permaneceu inalterada em 0,34%.
Apostas
Mais otimista, o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, avalia que o BC cortará os juros em um ponto percentual. Para ele, a ancoragem das expectativas de inflação no horizonte relevante da política monetária que leva em conta os anos de 2018 e 2019 é um dos fatores que pesará na redução da Selic. Além disso, Oliveira ressalta que o nível de ociosidade maior da economia e o nível de recuperação mais lento do que o esperado favorecerão o processo de controle do IPCA. ;O corte de juros considerará o recuo dos índices de confiança da indústria, comércio e setor de serviços, com o início da recente crise política;, destacou.
Na opinião de Oliveira, o significativo arrefecimento dos núcleos de inflação e a continuidade do processo de deflação dos índices usados para reajustes de contratos terão impacto nas futuras leituras, sobretudo em 2018. ;Nosso cenário para a evolução da taxa de câmbio, com a continuidade do quadro internacional favorável, leva em conta que a taxa de câmbio nominal tenha tendência à apreciação e não descartamos nível próximo a R$ 3 nos próximos meses;, afirmou.
Quem também aposta na queda de um ponto percentual na Selic é o estrategista-chefe do BullMark Financial Group, Renan Silva. ;Como a economia está fraca, o Copom deve fazer essa redução para equilibrar as contas, já que o mercado não aceita que o governo não cumpra a meta fiscal. Em termos práticos, haverá um agravamento da atividade econômica com a alta de impostos. Diante do cenário, o governo faz este corte agressivo em resposta ao mercado;, ressaltou. Para as próximas reuniões do colegiado, Silva estimou que o BC reduzirá 0,75% da Selic em setembro, 0,5% em outubro e 0,5% em dezembro. Com isso, a taxa terminará o ano em 7,5% ao ano.