Os economistas Edmar Bacha, José Roberto Mendonça de Barros, Bernard Appy, Marcos Lisboa e Alexandre Schwartsman já ocuparam cargos públicos. Sabem como política e economia se entrelaçam. E têm um diagnóstico comum: apesar de o mercado financeiro manter a calma e o governo insistir que está no controle da situação, as denúncias envolvendo o presidente Michel Temer já traçaram o destino da economia real, que só deve mesmo crescer depois que o País eleger um novo governante.
Há três meses, Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, se declarava um otimista incondicional com a recuperação. Previa para 2017 crescimento de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) - até que veio a delação dos donos da JBS. Foi um balde de água fria. Agora, ele estima algo entre 0,5% e zero. "É desolador, porque eu tenho certeza de que a gente ia mesmo sair do buraco, mas a recuperação deu uma miada e fica amortecida até a próxima eleição."
As novas denúncias de corrupção, diz, são indiscutíveis e conclusivas. Por isso, tiraram de cena a alavanca da retomada: a confiança dos empresários. "Para sair do buraco, todos sabem, precisamos de investimentos em infraestrutura, com escala, e já não há ambiente para isso."
[SAIBAMAIS]Para os investidores internacionais, o sinal é ainda pior, avalia Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC.
"Passamos a imagem de País com sérios problemas de governança, que vai ficando mais parecido com a Rússia - onde a corrupção está aí, ninguém dá a mínima e faz parte do jogo - e menos parecido com países que conseguiram avançar, como Peru e Colômbia, que hoje oferecem mais estabilidade institucional", diz.
Fiscal. Preocupa, em particular, o fato de que, enquanto o governo se mobiliza para ficar no poder, há desarticulação em torno de medidas para socorrer as combalidas contas públicas. Quem já viu uma crise do gênero, por dentro, garante que compromete a rotina de trabalho.
"Estava no Ministério da Fazenda quando ocorreu o escândalo do Mensalão. Na hora em que um governo enfraquece, abandona a agenda propositiva e surge um monte de propostas de bondades, para salvar a situação", diz Bernard Appy, ex-secretário executivo e de Política Econômica da Fazenda.
Nesse cenário, cresce o temor de que, no toma lá dá cá para sobreviver, haja sacrifício da reforma da Previdência. Ela pode vir "desmilinguida" ou nem vir, inviabilizando o corte de gastos e levando à explosão da dívida.
"Há um lado degenerativo no fiscal, que se agrava à medida que o tempo passa. Enquanto governo e Congresso param para se defender, a crise nas contas públicas da União e dos Estados não espera, se aprofunda", diz Marcos Lisboa, presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica.
O estrago, dizem, não pode mais ser revertido na gestão de Temer, indiciado por corrupção. Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, define o estado de ânimo geral: "Alguém disse, muito corretamente, que esse governo se divide em AJ e DJ, antes e depois de Joesley Batista, da JBS (empresário que gravou o presidente). Pois, no DJ, não tem ponte nem pinguela para futuro da economia", diz.
Segundo Bacha, o atual governo deveria passar o bastão para um novo nome, de consenso. No intervalo que falta até a eleição, o País faz a reforma política e uma constituinte: "Estou preocupado é com o tipo de País que queremos: se o governo insistir em ficar, desse jeito aí, a crise se agrava, as pessoas vão se alienando da política, se frustrando com a economia e, lá na eleição, votam na extrema-direita ou extrema-esquerda." Segundo Bacha, se isso acontecer, nem a eleição trará alívio.
Sem recessão. Na avaliação dos economistas, existe ao menos um alento no cenário: é baixo o risco de um novo agravamento da crise. "Há uma certa resistência, uma resiliência na economia, e a boa notícia é que ela não vai dar meia volta, não retornaremos àquela recessão", diz José Roberto Mendonça de Barros. O que impede um eventual retrocesso é o avanço de setores que ficam descolados da crise, como agricultura e mineração; o bom desempenho das exportações; bem como a queda da inflação, que permite a redução da taxa básica de juros e, consequentemente, deixa o crédito mais acessível. Alexandre Schwartsman estima que pode haver recuperação do consumo, em especial porque o desemprego deu sinais de que parou de aumentar "Não será um consumo nada exuberante, mas qualquer melhora já é bom", diz.