Jornal Correio Braziliense

Economia

Empresas da J são as últimas 'campeãs nacionais' a ruírem por escândalos

Oi está em recuperação judicial e alegou uma dívida de R$ 65,4 bilhões, enquanto a Marfrig está na mira da Polícia Federal

Uma das empresas que não deram certo é a Oi. Em junho do ano passado, a empresa ingressou com um pedido de recuperação judicial e alegou uma dívida de R$ 65,4 bilhões. Esse é o maior caso da história brasileira a tramitar nos tribunais. A companhia do setor de telecomunicações nunca ameaçou os concorrentes e o banco de fomento mantém menos de 5% dos papéis da telefônica.


Entre os negócios escolhidos como prioritários que contaram com apoio do BNDES estão companhias do setor de proteína animal. Enquanto a JBS se tornou líder global em carnes, o frigorífico Marfrig precisou vender ativos para cobrir prejuízos acumulados. As duas companhias das quais o banco de fomento é acionista estão na mira da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF). A empresa da família Batista foi alvo da Operação Carne Fraca. Um dos empregados da Seara, uma das marcas vendidas pelo grupo, é acusado de oferecer propina a fiscais agropecuários federais em troca de que certificados sanitários fossem emitidos sem fiscalização.

A JBS negava irregularidades até ontem e dizia que era auditada com regularidade para atestar o padrão de qualidade. Entretanto, após a divulgação da delação dos executivos da empresa, ficou claro que o frigorífico pagava propina a agentes públicos em troca de vantagens políticas. O BNDES possuía, até setembro, 20,36% das ações da companhia.

No caso da Marfrig, o fundador e presidente do Conselho de Administração, Marcos Molina, foi alvo de um mandado de busca e apreensão em sua residência em São Paulo na Operação Cui Bono. Segundo as investigações, o frigorífico fez um depósito de quase R$ 500 mil na conta de uma empresa de Lúcio Funaro. Há suspeita de que a transferência ocorreu em troca de um empréstimo de R$ 350 milhões da Caixa Econômica Federal. A Marfrig nega qualquer irregularidade na operação e diz que, na época, a empresa não era alvo de mandados. Até setembro, o BNDES possuía 19,61% da companhia.


Prejuízos

;A despeito dos problemas dos executivos, as empresas precisam ser preservadas porque possuem papel relevante para a economia e para a sociedade;, avalia o economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Para ele, quem cometeu irregularidades precisa ser punido e multas devem ser impostas às companhias. Entretanto, linhas de financiamento não devem ser cortadas para asfixiar financeiramente os conglomerados. ;Precisam tirar a água suja do banho sem ferir a criança;, resumiu.

Para o economista Gil Castello Branco, secretário-geral da associação Contas Abertas, a política de campeões nacionais trouxe diversos prejuízos para a economia brasileira. Na opinião dele, não teve êxito em gerar empregos e alavancar a indústria brasileira. ;O Estado ofereceu recursos públicos com condições generosas para diversas companhias que quebraram ou estão à beira da falência. A política de campeões nacionais, amigas do poder, não deu certo e parece que há uma mudança de orientação;, comentou.