Jornal Correio Braziliense

Economia

Mercado já considera que Michel Temer não se sustenta mais

Consenso é que o governo acabou e agora, resta saber qual será a melhor saída dele. Pelo menos mais dois anos difíceis virão pela frente

Após a primeira interrupção das negociações da Bolsa de Valores de São Paulo (BM) nesta quinta-feira (18/05) desde outubro de 2008, ano do estouro da crise financeira global, analistas de mercado não tem mais dúvidas que o governo do presidente Michel Temer acabou. O consenso é que o peemdebista não conseguirá mais se sustentar no poder e que o pior dos cenários está se concretizando agora com a denúncia comprometendo o chefe do Executivo feito pelos donos do frigorífico JBS e que foi recém-homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, relator da Lava-Jato.
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, é taxativo quanto à sustentação de Temer no poder. ;O governo acabou, não tem chance de continuar desse jeito. A expectativa é que o novo presidente seja eleito indiretamente logo e que ele consiga seguir com as reformas encaminhadas. Se for alguém sem traquejo político ficará difícil levar as reformas, especialmente porque o timing estará apertado com o segundo semestre se aproximando com a agenda eleitoral de 2018;, afirmou. Ele avisa que, agora, vai ser difícil para o país sair da recessão. ;Dado que parece que tem muita coisa para aparecer ainda, a turbulência ficará conosco por um bom tempo. Serão dois anos bem difíceis daqui para frente;, completou.
[SAIBAMAIS]O circuit breaker, mecanismo que suspende o pregão quando a bolsa cai mais de 10%, foi acionado após 21 minutos de abertura e as negociações foram interrompidas por 30 minutos. O Índice Bovespa, principal indicador da bolsa paulista, estava em queda de 9,22%, por volta das 12h30, e a expectativa é que novas interrupções ocorram ao longo do dia. O dólar futuro já está sendo cotado acima de R$ 3,40.
Logo após o início do pregão, o Tesouro Nacional suspendeu a venda de títulos públicos prefixados e indexados à Selic (taxa básica de juros) dada a ;volatilidade observada no mercado;. Isso mostra que a desconfiança dos investidores no país aumentou. O Banco Central interveio no câmbio queimando reservas, realizando dois leilões de contratos de swap,que somaram quase US$ 3 bilhões. Isso não foi suficiente para segurar a alta do dólar no mercado à vista. A moeda subiu 7,67% por volta das 13h, quando estava cotado a R$ 3,37 para venda.
Resta agora saber se a saída de Temer será por renúncia ou cassação da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que tem julgamento marcado para o próximo dia 6 de junho. A expectativa é que a decisão possa ser antecipada. ;O mais correto para Temer seria renunciar, porque ele disse em nota que não fez nada, mas, quando vier a gravação, ele não vai ter como se explicar;, destacou André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.

Na avaliação de Perfeito, essa nova crise política complicará ainda mais a vida do Banco Central, que sinalizava uma aceleração no ritmo de corte da Selic. Ele acabou de reduzir de 1,25 ponto percentual para 0,75% ponto percentual a previsão de redução na taxa na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), no fim deste mês. ;Vai ter corte na Selic porque existem condições macroeconômicas para isso. Mas acho que a autoridade monetária vai ser mais cautelosa;, afirmou ele, que prevê crescimento de apenas 0,1% neste ano. ;Vou manter essa previsão, por enquanto, porque ela já está entre as mais pessimistas;, afirmou.
Em nota, o Banco Central evitou comentar o rumo da taxa de juros, pois outro consenso do mercado é que as revisões para a Selic no final do ano já começaram. Quem estava otimista e apostava em 7,5% nos juros em dezembro, como o Itaú Unibanco, está em compasso de espera. A instituição previa corte de 1,25 ponto na Selic neste mês e não comentou o assunto. ;As decisões do Copom são tomadas apenas durante as suas reuniões e são divulgadas imediatamente após seu término por meio de Comunicado no sítio do Banco Central da internet;, disse a instituição, em nota. ;Não existe possibilidade de antecipação da decisão a qualquer agente, público ou privado. Sinalizações sobre possíveis futuras decisões são emitidas nos documentos oficiais do Banco Central;, completou o comunicado.